Quem sabe faz 
a hora

Carol Ito
Natalia Guaratto

por Carol Ito
Natalia Guaratto

A 13ª edição do Trip Transformadores celebrou brasileiros que dedicam seus talentos e sua coragem a combater a ignorância e a construir soluções para uma realidade mais justa

Entre as várias mensagens deixadas pelos homenageados do Prêmio Trip Transformadores 2019, uma bateu mais forte: só avançaremos por meio da preocupação com o outro e da colaboração. Estamos falando de gente que encontra motivos para seguir em frente e acredita ser possível sim construir um país melhor, mesmo quando tudo parece andar para trás. “Temos que agir, ter atitude. A transformação acontece quando nos preocupamos com os outros”, disse o comentarista e ex-jogador de futebol Walter Casagrande, homenageado por levar a público sua luta contra a dependência química, e, assim, ajudar pessoas que passam pela mesma situação. “Precisamos acreditar na mudança”, pontuou o homenageado Iberê Dias, que dividiu o prêmio com o rapper Dexter. Juntos, eles trabalham para fortalecer o projeto Trampo Justo, dedicado a encaminhar ao mercado de trabalho jovens que deixam as casas de acolhimento do estado de São Paulo. Dexter também subiu no palco para o primeiro show do evento. Depois dele, vieram Josyara, Zezé Motta, que protagonizaram momentos emocionantes, e Arismar do Espírito Santo. Ao final, um encontro de todos os cantores encerrou a cerimônia com vista para o parque. A seguir, saiba mais sobre os premiados e tudo o que rolou por lá. 

Rodrigo Hübner Mendes

“Completamos 25 anos de instituto e esse prêmio só fortalece a convicção de que a inclusão é um caminho para eliminar abismos sociais”
Rodrigo Hübner Mendes

O paulistano ficou tetraplégico aos 18 anos, depois de levar um tiro no pescoço em um assalto, mas transformou uma situação de adversidade em alavanca. À frente do Instituto Rodrigo Mendes, hoje ele se dedica a promover a educação inclusiva nas escolas comuns. Rodrigo recebeu o prêmio das mãos da atriz Andréia Horta. “Ele tem uma existência que poderia ter se resumido a revolta, mas transformou isso em um caminho de amor”, disse ela, antes de passar a voz a ele.

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Iberê Dias e Dexter

“Estamos tentando costurar esse tecido social esgarçado”
Iberê Dias

Juntos, o juiz Iberê Dias e o rapper Dexter trabalham para promover o projeto Trampo Justo, que encaminha ao mercado de trabalho jovens que, aos 18 anos, são obrigados a deixar as casas de acolhimento que os abrigavam até então. “Nunca tinha visto um juiz e um rapper trabalhando juntos para mudar a ordem das coisas”, disse, emocionado, o ator Julio Andrade, que entregou o prêmio à dupla ao lado de MC Soffia. “Em uma sociedade onde os talentos de quem é pobre, negro e periférico quase nunca podem ser desenvolvidos, ver um trabalho que se propõe a corrigir isso é inspirador”, completou ela. “A gente vem da periferia e atravessa a ponte para o lado de cá com coragem. O bom é quando vocês atravessam a ponte para lá”, agradeceu Dexter. 

Simone Mozzilli

“Ficamos cansados de ser as pessoas que têm ou tiveram câncer. Nós temos outras vidas, outras histórias”
Simone Mozzilli

Após descobrir um tumor no ovário, a publicitária Simone decidiu lutar para melhorar a qualidade de vida de crianças em tratamento de câncer, oferecendo informações na linguagem delas sobre procedimentos médicos. Assim nasceu, em 2013, o Instituto Beaba. “Todo mundo tem um familiar, um amigo, um conhecido [que teve a doença] e é difícil. E pra Simone foi ainda mais difícil, porque ela não tinha a Simone para ouvir”, disse o humorista Fabio Porchat, chamando ao palco a homenageada, que fez questão de lembrar a necessidade de combater o estigma em torno da doença.

Conceição Evaristo

“Fico feliz em 
pensar que a minha ‘escrevivência’ marca a face da literatura brasileira”

Uma das principais escritoras contemporâneas do Brasil, a mineira Conceição é conhecida por dar protagonismo às várias gerações de mulheres negras, provocar reflexão e denunciar o racismo com sua escrita. Ela recebeu o prêmio de Flavia Roberta Silva, assessora executiva da IBM, e da cantora Lellê. “Ofereço esse prêmio às mulheres subalternizadas e que não tiveram acesso à educação”, falou a homenageada. “Eu tô com 22 anos, e é uma honra muito grande, não só para mim, mas para toda a minha geração, contar com a existência da dona Conceição”, destacou a artista.

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Walter Casagrande 

“Estou sóbrio só há seis anos e não sabia se ia conseguir. Esse é o prêmio mais importante que já recebi na vida”
Walter Casagrande

“Enfrentar a dependência química não é fácil. Fazer isso falando abertamente da sua história e dos seus fracassos é para poucos”, disse a atriz Débora Nascimento, que, junto com Ugo Casagrande, entregou o troféu ao ex-jogador de futebol e comentarista Casagrande. “Toda oportunidade que a gente tem [de ficar junto] é um prêmio, como é esse aqui”, disse Ugo, seu filho, com a voz embargada, ao chamar o pai para o palco. “Muitas vezes, pensei em desistir e falar que eu era assim mesmo. Foi difícil de entender que a minha sobriedade dependeria da minha transformação”, finalizou o homenageado.

Tabata Amaral

“Que esse prêmio sirva para que negros, periféricos e mulheres se vejam representados, ainda que um pouquinho, na política”
Tabata Amaral

Nascida na periferia de São Paulo, Tabata é dona de uma trajetória que passa por Harvard e chega até Brasília, onde exerce hoje o mandato de deputada federal. Ela escolheu como bandeira trabalhar para melhorar a educação brasileira. E foi das mãos de seu professor do sétimo ano, Rubens Conilho Junior, que recebeu o prêmio: “O olhar que ela tinha quando a conheci é o mesmo que tem hoje. Tenho certeza de que ela vai fazer diferença na educação”.

Priscila Gama

“Que a gente construa uma sociedade em que as pessoas possam passar caminhando, e não correndo”
Priscila Gama

 No quinto país do mundo que mais pratica violência contra as mulheres, a arquiteta e urbanista Priscila Gama criou o aplicativo Malalai, que ajuda mulheres a voltarem para casa indicando as rotas mais iluminadas, além de oferecer um botão de segurança, que aciona uma lista de contatos. A iniciativa rendeu a Priscila o prêmio GOL Novos Tempos, que lhe foi entregue por Edu Bernardes, VP de marketing e vendas da GOL Linhas Aéreas. “Não é sobre chegar até o final. É sobre pegar o bastão, correr e chegar o mais longe que você conseguir”, disse Priscila.

Yvonne Bezerra de Mello

“Aos 17 anos, prometi que não descansaria enquanto houvesse uma criança analfabeta no Brasil”
Yvonne Bezerra de Mello

Depois de acolher as vítimas da Chacina da Candelária, a educadora Yvonne decidiu lutar pela educação de jovens que moravam nas ruas do Rio de Janeiro. Ela fundou o Projeto Uerê, que cuida de crianças e adolescentes que passaram por situações de violência. Eu resisto à mediocridade, eu resisto à perseguição que sofro por fazer o que faço”, disse Yvonne. Ela recebeu o prêmio de Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de sustentabilidade da Ambev, e do ator Jonathan Azevedo.

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Altamiran Ribeiro

“O primeiro transformado sou eu, quando coloco o pé na estrada e vou até as comunidades”
Altamiran Ribeiro

Ativista pelos direitos das comunidades tradicionais brasileiras, Altamiran desenvolve um trabalho de conscientização em regiões do Nordeste do país ameaçadas pelo avanço do agronegócio. Ele recebeu o prêmio de Maurício Manfredini, diretor de compliance da Marfrig, e da apresentadora Sarah Oliveira. “O Brasil é o país que mais mata ambientalistas no mundo. Semana passada, assistimos a um assassinato de um importante líder indígena. Um cara jovem, que estava lutando pela sua tribo, como o Altamiran, e é por isso que ele vai receber esse prêmio”, lembrou Sarah.

Eduardo Schenberg

“Torço para que o Brasil reconheça a importância dos povos indígenas e faça o uso inteligente da medicina da floresta”
Eduardo Schenberg

“Eu espero que não me entendam mal quando trago uma perspectiva diferente”, disse o neurocientista Eduardo, que estuda os efeitos de drogas psicoativas, como a ayahuasca e o MDMA, no tratamento de doenças como depressão, transtorno do estresse pós-traumático e dependência química. Ele recebeu o prêmio de Malu Paiva, diretora de sustentabilidade do grupo Suzano, e de Thaíde, um dos pioneiros do rap no Brasil. Tratar o tema como uma questão de ciência, e não de ideologia, talvez seja o primeiro passo para resolver muitos dos problemas que enfrentamos hoje no Brasil”, disse o rapper. 

Pedro Bial

“Transformadora é a cultura, que a tudo conserva para que possa haver progresso”
Pedro Bial

Por apostar no poder do diálogo e na importância de escutar genuinamente todos os lados, o jornalista e apresentador Pedro Bial completou a lista de homenageados da noite. À frente do programa Conversa com Bial, ele tem a missão de conduzir debates sobre temas da atualidade no maior canal aberto do Brasil. Para entregar o prêmio a ele, subiu no palco a gerente de comunicação corporativa do Grupo Boticário, Mariana Scalzo.

Créditos

Imagem principal: Mariana Pekin

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