por Carol Ito
Tpm #174

Depois de uma década cavando seu espaço no cinema e na TV, roubou a cena do horário nobre na pele do traficante Sabiá, em 2017

“Tô felizão, pô! Tô no azeite”, disse Jonathan Azevedo na véspera deste ensaio, recusando qualquer nervosismo. “Vamo avante que o pretinho chegou!” E ele foi: se jogou nas fotos sem rede de segurança. 

O carioca de 32 anos foi uma das melhores surpresas da TV no ano passado, quando interpretou o chefe do tráfico Sabiá, na novela das 9, A força do querer. Sua participação seria de três capítulos, mas o sucesso foi tanto que ele seguiu até o fim da trama. 

Em 12 anos de carreira, o ator teve pequenos papéis em mais de uma dezena de filmes. Na lista, Meu nome não é Johnny (2008), 400 contra 1: uma história do crime organizado (2010) e Tim Maia (2014). Na televisão, participou de mais de 15 produções da Globo, de Páginas da vida (2006) à Regra do jogo (2015). Mas foi só no ano passado, interpretando o traficante, que ganhou prêmios (incluindo o de revelação no Melhores do Ano, da Globo) e o público. Passou a ser reconhecido nas ruas e teve que aprender na marra a lidar com o assédio.

Uma fã chegou a insistir para que fizesse “cara de mau” para sair na foto igual ao personagem. “Falei: ‘Desculpa, amor, não sou mau’. Mas ela me chamou de marrento.” Depois, foi a vez de um policial abordá-lo: “Para, negão! Deixa eu tirar uma foto com o Sabiá”, lembra. “Sempre gostei de tratar cada fã muito bem, mas o número aumentou muito. Tive que entender que, se fosse tirar foto com todo mundo na rua, não chegaria pra gravar.” A angústia era tanta que um dia desabafou com Juliana Paes, com quem dividiu algumas das melhores cenas de A força do querer. “Esse homem carinhoso que tu é tá passando pra tela. As pessoas estão devolvendo isso”, escutou da atriz. 

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Quem também ajudou Jonathan a assimilar a vida de celebridade foi Lellêzinha, cantora/dançarina do Dream Team do Passinho e também atriz, com quem teve um relacionamento por três meses, até janeiro passado. “Sou muito grato por ela ter entrado na minha vida. Se não fosse ela, teria ficado muito perdido naquela época”, disse. “O mundo de hoje é muito conturbado, com muitos desejos, prazeres, luxúria, parece até que não é o real.” 

O ator, que se considera romântico, está solteiro. Gosta de ficar em casa, fazendo churrasco na laje, curtindo com a família e os amigos, como mostra aos seus 1,5 milhão de seguidores no Instagram. Assíduo na rede, divide sua rotina com a hashtag #VDN, abreviação para Vida de Negs, seu apelido. Ele filosofa: “Negs é ser positivo, levar amor, alegria, respeitar o branco, o preto”. 

Vida no morro

O assédio que ele experimentou em 2017 não deve diminuir: o ator volta ao ar este ano como o petroleiro Fiapo, na série da Globo Ilha de Ferro. Seu personagem, conta, vai tentar fazer uma “revolução”, buscando melhorias para os trabalhadores da plataforma, além de se envolver em um triângulo amoroso. Diretora de A força do querer e Ilha de ferro, Roberta Richard é só elogios: “Sabe um cara astral, gente boa, coração gigante? É ele! Nunca vi um ser emanar tanto amor”.  

Jonathan mora desde seus 20 anos no Vidigal, comunidade na zona sul do Rio de Janeiro, onde começou a estudar teatro no grupo Nós do Morro – que revelou nomes como Jonathan Haagensen e Roberta Rodrigues –, antes de cursar a faculdade de artes cênicas. Foi ali também que passou a cantar no Melanina Carioca, banda da qual fez parte por oito anos. Cartola, Jovelina Pérola Negra, Sabotage e Raça Negra estão entre suas influências. 

“Nos primeiros shows do grupo, ia direto da praia, cheio de areia. Depois, falaram pra eu botar umas roupas diferentes, minhas namoradas começaram a me ajudar, fui aprendendo.” Aprendeu mesmo: antes destas fotos, passou três horas na barbearia para deixar seus dreads em dia. Ele, que já surfou e foi jogador de basquete, não abdica da malhação.

O carioca cresceu perto do Vidigal, na Cruzada São Sebastião, conjunto habitacional no Leblon. Ligado a sua família – ele descobriu ter sido adotado na adolescência –, já levou os pais e o irmão para conhecer os estúdios da Globo. Em São Sebastião, toca há quatro anos o Cruzada na Social, projeto que conta com oficinas, torneios de esporte, oferece cestas básicas e atendimento médico, e sonha em construir uma biblioteca. Neste mês, levou cem jovens de São Sebastião para ver Pantera Negra, filme dominado por atores e personagens negros.  

Em tempos de intervenção militar no Rio de Janeiro, acredita que sobra pouco espaço na mídia para as pessoas falarem de amor. “Perguntam pra mim como é viver na favela, o que é preconceito e racismo. Não deixo de falar o que as pessoas precisam ouvir, mas não é só a parte negativa que importa.” O ator é assim: gosta de espalhar mensagens de paz e amor. 

No futuro, quer alçar voos maiores, na gringa, depois de “fincar o Jonathan” no Brasil. “Quero chegar um dia e falar que tô indo fazer um filme ali em Hollywood e já volto.” Ninguém duvida. 

Créditos

Imagem principal: Bispo

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