Há 17 anos tiramos a roupa dos homens pelos quais nos apaixonamos. Otto, Julio Andrade, Johnny Massaro e outros seis crushes relembram seus ensaios e dizem o que pensam sobre vaidade masculina
A Tpm já teve homens de todas as cores, de várias idades, de muitos amores. Dos cabeças aos desequilibrados. Desde 2001, tiramos a roupa de caras pelos quais nos interessamos, sem regra nem padrão, do samba ao rap, da novela ao cinema. Foram 171 ensaios, com direito a barriguinha de chope ou corpo sarado, timidez ou safadeza, carecas e cabeludos. Gostoso é ter diversidade.
Em 2016, ligamos para Paulo Tiefenthaler, 50 anos, ator que ficou conhecido como o cozinheiro ogro do extinto programa Larica total, do Canal Brasil, e pedimos: “Fica nu pra gente?”. “Fiquei muito surpreso. Sou mais velho e não tenho o corpo sarado. Mas topei na hora. Foi minha primeira vez”, conta. Colamos com ele no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. “Eu tinha intimidade com o palco, fui ficando à vontade, tirei a roupa, mesmo com os garçons lá. Adoro aquelas fotos.”
Outro cinquentão crush da Tpm é o pernambucano Otto, que protagonizou um de nossos ensaios em 2013. “Eu era muito esquisito quando criança, diferente, desengonçado. As meninas do Recife me achavam fora dos padrões. Mas depois do grunge tudo mudou e finalmente a moda alcançou pessoas como eu [risos]!’’, brinca ele. “Sou extrovertido, carinhoso. E tem também a minha dança. Acabo atraindo as pessoas”, conta. E se assume vaidoso: “Evito o sol e tomo vários banhos por dia”.
Cultivar hábitos de beleza é rotina para um número cada vez maior de brasileiros. Em junho deste ano, o Google divulgou o Dossiê Brandlab: A Nova Masculinidade e os Homens Brasileiros, que apontou que os views masculinos no YouTube na categoria “moda e beleza” subiram de 21% para 31%, entre os anos de 2016 e 2017.
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Marcas do tempo
O ator Enrique Diaz, que posou em 2005 para a Tpm ao lado do irmão, o também ator Chico Diaz, está se deixando levar pela onda dos cosméticos. “Tenho passado umas coisas na pele para não envelhecer tão rápido”, conta. Aos 50, ele se acha um cara estranho, quase feio, mas que tem seu charme. Perguntamos: “Quem é um cara gato pra você?”. “Johnny Massaro!”, respondeu.
Massaro, 26, apareceu nas páginas da revista em 2016. “Ele não tem aquela beleza padrão, de cabelo liso e corpo malhado. Mas seus traços e sua personalidade são muito interessantes”, disse Jorge Bispo, autor das fotos. A relação do ator com a própria aparência está em constante evolução. “Sei que não sou do tipo que fica bem em qualquer ângulo, mas tem uns que eu penso: ‘Pô... até que rola, hein?’. Minha expectativa é que só melhore.”
Clicado em 2014, o ator Julio Andrade, 41, também sente que os anos só trazem melhorias. “Eu gosto muito das marcas do tempo, isso me atrai nas pessoas”, diz. Mesmo assim, a profissão faz com que ele precise tomar certos cuidados. “Apaguei duas tatuagens que tinha, uma índia nas costas, que fiz na adolescência, e um violão no braço. Gosto e teria muitas. Mas no trabalho atrapalha muito. Então tirei”, conta.
Já o rapper Marcelo D2, 50, segue na contramão: estrela de um dos primeiros ensaios da Tpm, em 2001, acumula no corpo os desenhos que fazem parte da sua história, como o rosto do sambista Bezerra da Silva, seu ídolo, e o nome de sua filha, Maria Joana. “Sou vaidoso pra caramba. Vaidade não é só ficar preocupado com o corpo, mas ter estilo. Gosto de comprar roupa, de fazer tatuagem”, contou à Tpm, aos 33, quando se deixou ser fotografado.
Em 2012, o músico e ex-VJ Chuck Hipolitho, 40, exibiu o corpo tomado por tattoos em um ensaio que provou que homem sexy não se faz só de músculos. Inspirado no disco Índia, de Gal Costa, ele tirou a roupa e misturou sua imagem com a da cantora na capa do álbum. “Eu quis usar o corpo dela como se fosse meu”, explica. Referências ao feminino como esta não intimidam nem ferem a masculinidade de Chuck, que vem se ligando nas discussões feministas nos últimos anos. “Para me sentir mais bonito e seguro, tive que jogar no lixo muita coisa do que é considerado masculino. Comecei a entender certos vícios que tinha, fui ler, passei a prestar atenção nas minhas atitudes. Estou tranquilo com a minha masculinidade e também com a minha feminilidade”, conclui.
O ator Rafael Losso, 37, também não tem medo de ser associado ao feminino e gosta de desafiar estereótipos. “Existe uma preocupação com os padrões e isso é uma armadilha. Por isso mesmo uso saia, me sinto bem assim”, conta. No ensaio de 2015, ele topou tirar tudo, sem pudor. “Eu tô pelado, quero ver a revista publicar”, disse, na época. Não pensamos duas vezes.
Derrubar padrões de beleza que aprisionam homens e mulheres é libertador pra todo mundo. Mas quem preferir o visual sarado que seja bem-vindo. Em 2008, o ator Milhem Cortaz não teve modéstia e mandou: “Sou um puta cara charmoso. Sou grande, tenho voz grossa, corpo bonito, nariz imperfeito, um olhar diferente”, disse. Aos 45, ele é chamado pela filha de “homão da porra”. Como eternizou Vinicius de Moraes, “a beleza é fundamental”. Mas é livre para ser como for.