por Luara Calvi Anic
Tpm #178

Destaque de uma nova geração de skatistas, Felipe Foguinho passou uma tarde no bowl com a Tpm

Felipe Caltabiano, ou Felipe Foguinho, tinha 11 anos quando dropou uma rampa pela primeira vez com um skate que ganhou do pai, de quem herdou o apelido. Foi em Guaratinguetá (SP), cidade onde cresceu e que, nos anos 80, foi a meca do skate nacional. “Nesse dia, eu tentava e caia sem parar, era meio maluco. Começou a chover e continuei. Quando consegui descer a rampa, corri pra minha mãe e falei ‘Nunca vou parar, quero fazer isso pelo resto da minha vida!’”, lembra Foguinho, 24 anos.

E assim tem sido, como ele lembra em um bowl de São Paulo, onde fez essas fotos para a Tpm – sem camisa, mas de calça, como pediu. “Fico um pouco envergonhado. Já posei outras vezes, mas é estranho porque não estou muito acostumado, não me vejo como modelo. É quase como se me colocassem para fazer um esporte que eu não sei.” Mas seus fãs e quase 70 mil seguidores no Instagram sabem que ele dá conta, sim. “Não dou muita atenção para as mulheres que me chamam no inbox porque tenho namorada. Não é uma coisa tipo jogador de futebol, que não consegue nem ir ao shopping, mas às vezes rolam uns assédios nos campeonatos – ‘eu te amo’, ‘casa comigo’”, diz ele, que já ouviu até pedidos de garotas de autógrafo no corpo. “Acho legal, pelo menos estão reconhecendo o meu trabalho.”

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Voltando ao skate, de Guaratinguetá ele se mudou em 2012 para Florianópolis, que já reunia nomes como Pedro Barros, seu amigo e hoje campeão mundial no skate park. Prestou vestibular para que os pais o deixassem ficar na cidade e acabou passando em psicologia e artes cênicas – se matriculou na última e frequentou as aulas por um semestre. Até que ligou para a mãe e jogou a real: esse esquema de focar 50% no skate e 50% nos estudos não o levaria muito longe. Ganharam as rodinhas, que passaram a ter 100% do seu tempo.

 No rolê, mundo afora

Foguinho logo descolou patrocínio e, três anos depois, foi o campeão da última edição do Skate Generation, em Florianópolis, disputado pelos skatistas melhores ranqueados mundialmente. Rodou o mundo competindo: passou por Austrália, República Tcheca, Estados Unidos, França. Melhorou o inglês, com que hoje costura suas frases. Neste semestre, viaja para Nova York e Tóquio para gravar a terceira temporada do 4x Sk8, programa exibido pelo canal Off, que o acompanha com Pedro Barros, Murilo Peres e Vi Kakinho nos bastidores das competições e em pistas mundo afora. Os quatro são representantes de uma geração que vive uma mudança importante no skate. É a primeira vez que o esporte estará na Olimpíada, que acontece no próximo ano, em Tóquio.

Desde que passou a ocupar o calendário oficial do evento, um burburinho toma conta da modalidade. De um lado, há atletas ansiosos com a possibilidade de viver de maneira mais profissional agora que o país tem sua primeira seleção brasileira de skate, com salário, preparação técnica e participação em competições nacionais e internacionais. De outro, skatistas questionam o quanto entrar para um evento desse porte não fará com que o esporte perca parte da sua identidade original, o espírito urbano de uma modalidade que nasceu na rua e é praticada em galera. “Uns moleques vão crescer querendo ser campeões olímpicos, com os pais cobrando, sempre pensando em treino, equipamento. Não vão viver o skate original, que é o lifestyle, a cultura, as músicas”, defende Foguinho. Mesmo assim, ele quer marcar presença no Japão. “Com certeza! O Brasil vai trazer medalha, o bagulho vai ser louco!”, aposta, enquanto treina para participar dos campeonatos continental e mundial, que garantem pontos para a classificação olímpica.

Pensar no que essa cultura do skate engloba é um tema do qual Foguinho gosta de falar – e ele adora conversar, trocar ideia pelo tempo que for necessário. Ele tem trabalhado em um projeto de conteúdo, bem diferente dos usuais vídeos de manobras. “Isso você já encontra no Instagram. Quero mostrar o primeiro lugar em que o cara andou de skate na vida, o equipamento, o estilo de roupa que ele usa.” Até porque moda e skate têm uma ligação bem natural.

 Don't touch my hair

Foguinho escolheu todos os looks que usou para essas fotos – uma calça feminina comprada num brechó com remendo atrás, camisa com uma estampa costurada por ele, cueca vermelha, tênis e um par de meias amarelas. "Tem vezes que eu boto uma roupa zoada e não consigo andar de skate, me sinto mal, parece que não flui.” O cabelo, à la Tony Alva nos anos 70, merece a mesma atenção. Quando a maquiadora foi ajeitá-lo para a foto, escutou: “Não vai cortar, hein?”. É que, depois de um cabeleireiro aparar demais seus cachos, ele ficou traumatizado. “Não sei se vou deixar alguém relar no meu cabelo tão cedo”, diz o skatista, que adotou um creme para pentear indicado pela mãe.

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Ainda sobre a cultura do esporte, há uma característica essencial: “O skateboard é uma família, a gente anda junto desde criança”, contou, enquanto fazia questão de varrer as folhas do bowl e usava seu skate como pá. Ele lembra da primeira e mais recente etapa do campeonato brasileiro de skate park, vencida em janeiro por Murilo Peres, em Florianópolis. “Ele é um cara que estava merecendo ganhar há muito tempo.” Quando Murilo foi anunciado vencedor, os skatistas invadiram o skatepark. “Você já viu alguém que perdeu entrar para levantar o adversário? No futebol, o segundo colocado não fala 'vocês tinham que ter ganhado’. Já o pessoal do skate ovaciona e mostra que esse moleque merece mesmo!”

Dancinha style

Ultimamente, quando não está sobre duas rodas, Foguinho cuida de Lupin Hendrix, um yorkshire que comprou com Gabi Lopes, 24 anos, sua namorada há nove meses. A modelo e atriz está incomunicável desde fevereiro, enquanto grava a nova temporada de O Aprendiz, reality da Band comandado por Roberto Justus. “Eu não queria namorar uma menina famosa porque as pessoas ficam em cima, todo mundo sabe o que você está fazendo. Mas com a Gabi bateu muito, achei ela agilizada, inspiradora. Me apaixonei.” Eles se conheceram no camarote de uma festa em que Felipe entrou de bico. “Ela estava lá, mó gata, e eu fiquei around. Tava tocando uma musiquinha style, fiz uma dancinha e ela veio falar comigo: 'E essa dancinha?’”, lembra. “Em camarote todo mundo fica se segurando, ninguém vive mesmo. Ela me viu vivendo e começou a dançar comigo.” Foguinho acha bonita a história dos pais, que estão há 30 anos juntos, e, no futuro, quer ter uma família tão legal quanto a sua – ele tem dois irmãos e uma irmã. “A gente veio ao mundo para aprender e ensinar, quero ter alguém para, desde pequeno, ir transformando para melhor.” 

Créditos

Imagem principal: Alex Batista

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