por Letícia Ferreira

Conversamos com três mulheres que falam sobre finanças nas redes sociais para entender como cuidar melhor da vida financeira

Falar sobre dinheiro, principalmente na internet, nunca esteve tão em alta. São muitos os personagens que criaram seus canais no youtube e nas redes sociais para ensinar como fazer um investimento, controlar suas contas e como ter uma relação mais saudável com a sua grana. Nathalia Arcuri, do canal Me Poupe, é talvez o exemplo mais conhecido. Mas outras mulheres estão por aí, construindo o diálogo sobre o tema com olhares diferentes e ideias para te ajudar a cuidar do seu dinheiro. 

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Por isso, a Tpm bateu um papo com quem entende de finanças para solucionar dúvidas que estão no radar das brasileiras. 

Nathalia Rodrigues, do canal Finanças com Nath 

A preocupação com a gestão do próprio dinheiro chegou na vida de Nathalia em 2018. Nas aulas de matemática financeira da faculdade de administração, ela percebeu que poderia “colocar ordem” dentro de casa – e levou o plano pra frente. Ensinou o pai a quitar dívidas de cartão de crédito e ajustar suas contas às necessidade da família

Nath virou uma referência entre os amigos e vizinhos e começou a olhar o que existia na internet sobre o assunto. “Eu não estava me sentindo representada. Não sou rica, não tenho muito dinheiro para guardar e muita gente também – faltava alguém para atender essa demanda”. Assim surgiu o "Finanças com Nath", em janeiro deste ano.

Qual sua resposta para "não sei para onde meu dinheiro vai todo mês"?

Eu diria para a pessoa tentar entender qual é a relação dela com o dinheiro. O dinheiro do mês é uma força de trabalho que você vende. É preciso entender como você se comporta, por que está gastando tanto. Algumas pessoas têm problemas familiares, outras, questões comportamentais mesmo. Às vezes, a pessoa passa por um monte de coisa e fala: “ah, tô tão triste, então vou comer num restaurante porque eu mereço”. Lógico que você merece, você é uma mulher que trabalha no mês todo. Mas o problema é: tá sobrando dinheiro pra você depois? Não está. Então, tem alguma coisa errada aí. Para quem está descontrolada, é melhor anotar tudo em um caderno. Se puder, coloca tudo isso em uma planilha ou um app de controle financeiro. Transformar isso em um hábito ajuda a mudar nosso comportamento. 

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Como planejar uma boa aposentadoria?

Eu recomendo que as mulheres leiam. Sobre tudo: investimento, previdência privada, tudo. Estou falando de educação financeira no Youtube, mas você também tem que ler. Sempre deixo nos meus vídeos cursos gratuitos, porque não adianta só eu falar, às vezes você precisa ir mais fundo para entender o assunto. Não é com um vídeo de cinco minutos que você vai ser expert e vai entender tudo sobre previdência. Se uma previdência privada é boa ou ruim, vai depender do seu comprometimento. Depende da sua classe social, se você ganha muito, se você ganha pouco... Assim, em qualquer banco ou corretora, você vai entender o que eles estão querendo oferecer. Conhecimento é a base de tudo. 

No que uma mulher de 20 e poucos anos deve prestar atenção quando o assunto é dinheiro? 

Eu tenho 21 anos agora. A primeira coisa que a gente pensa  é "caraca, eu ainda não tenho uma casa própria como Fulano tem”. Eu tenho que ter isso, eu tenho que ter aquilo. É muita cobrança nessa idade. Para as mulheres, ainda, tem cobranças também em questões de relacionamento, de se comparar com outras pessoas. “Fulano já está no mestrado, já está com a vida financeira organizada”. Mas o que ela fez para estar ali? Na vida financeira, você precisa estudar, se especializar, não achar que você precisa fazer tudo hoje. É olhar pra si e estabelecer as suas metas, que sejam alcançáveis, pra não rolar frustração.

Gabriela Chaves - No Front - Empoderamento Financeiro

O plano dela era estudar Direito, mais uma bolsa em Economia na PUC-SP mudou seu destino. Um professor do ensino médio insistiu que ela deveria dar uma chance à carreira. "Eu vi naquela bolsa uma oportunidade de aprender algo e mudar de vida”, conta Gabriela, hoje economista formada. 

Foi durante a faculdade, trabalhando no mercado financeiro, que ela percebeu como as pessoas com quem convivia conseguiam alcançar seus objetivos com menos recursos e mais eficiência do que as pessoas do seu bairro, o Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

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Por isso, em maio de 2018, Gabriela criou o No Front, uma plataforma de educação financeira com uma metodologia inspirada nas letras do Racionais MCs. “Quando eu pensei em como explicar a economia de uma forma acessível, me peguei pensando em como os Racionais faziam uma discussão sobre a desigualdade no Brasil”, lembra.

Como PJs (pessoas jurídicas) podem organizar a vida financeira? 

Para profissionais liberais e autônomas, a organização financeira precisa ser redobrada. Elas não têm uma série de proteções ao trabalhador que o profissional que é registrado pela CLT tem. É fundamental que eles se paguem na hora de precificar os seus produtos – é muito comum ouvir casos de profissionais que têm um preço só pensando no seu material e esquece da sua própria remuneração. Se o CLT tem um dinheiro que vai todo mês para o FGTS, o profissional autônomo precisa criar essa reserva de forma autônoma também. Outra coisa é pensar em uma possível demissão: quem é PJ não vai ter um um real para receber se isso acontecer. Enquanto estiver empregado, é preciso criar uma reserva de emergência. Em momento de reforma trabalhista, os profissionais liberais precisam se mobilizar para fazer um colchão de aposentadoria. 

O que uma mulher pode pensar em fazer com o seu dinheiro aos  30 anos?

A casa dos 30 é fundamental para quem não começou uma rotina de longo prazo. A gente já está no limite de tempo para se preocupar em relação à aposentadoria e conseguir guardar um valor legal por mês. É muito importante que as pessoas prestem atenção nos gastos fixos e nas dívidas de longo prazo. Queremos comprar imóveis, adquirir bens, carros. É importante que se organizar para conseguir esses bens sem adquirir uma dívida de 30 anos. É um risco muito grande assumir uma conta assim com a economia como ela está.

Carolina Ruhman - Finanças Femininas

Desde cedo, Carolina aprendeu em casa como funcionava o mercado financeiro – o pai trabalhava na área. Formada em jornalismo, ela se especializou em economia e passou um ano em Paris, estudando o assunto. Mas foi só em 2012 que ela percebeu que o contéudo para mulheres na internet era basicamente sobre moda, beleza, maquiagem, casamento e horóscopo. E entendeu que outras mulheres parecidas com ela poderiam se interessar por finanças. 

Na Finanças Femininas, sua empresa multiplataforma, ela ensina em vídeos como as mulheres podem cuidar do próprio dinheiro. Para Carolina, falar sobre finanças com o público feminino “não é pintar de rosa e dizer que é para mulheres. É entender os desafios delas, os vários perfis, onde é que o calo aperta, quais são as dificuldades”.  

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Se uma mulher tem trabalho e mesmo assim está com pouco dinheiro, o que ela pode fazer?

Não existe essa coisa de estou rica no começo do mês e estou pobre no final do mês. Você recebe sempre o mesmo salário, o que muda é a forma como você lida com o dinheiro. Eu bato muito na tecla de ter planilha, de ter controle, e as pessoas falam que planilha é muito chato. Vejo muito desequilíbrio nos gastos, mulheres gastando mais da metade que ganham com supérfluos. Minha dica é parar, olhar a fundo como está gastando o dinheiro, construir esse controle e ter intimidade com seus gastos. O impacto disso não pode ser menosprezado. Ter esse controle financeiro pode ser completamente transformador.. 

O Brasil tem mais de 13 milhões de desempregados. Qual é o caminho para mulheres que estão nesta situação?

Aproveite o tempo para estudar. Tem muito curso online, gratuito, você não precisa gastar dinheiro para dar uma turbinada no currículo e isso faz uma diferença. Outra estratégia é gastar o seu tempo acionando a sua rede para procurar emprego o mais rápido possível e tentar cortar os custos o máximo possível. Pensar um pouco como se fosse uma pista de decolagem. Se você ainda tiver um pouco do dinheiro da rescisão, precisa fazer isso durar o máximo possível. 

E realmente achar uma forma de conseguir uma renda extra, vendendo produtos, oferecendo serviços. Alguma coisa para complementar o que você tinha guardado para tentar encontrar um emprego. Nessas horas, a criatividade do brasileiro faz milagre.

Quais questões financeiras chegam aos 40 anos?

Se não chegou ao momento de guardar dinheiro, agora é a hora de começar. Ainda há tempo, mas vai ser muito mais difícil. O que eu mais vejo nas mulheres aos 40 são as que não começaram a poupar, que estão naquela de ganha, gasta, ganha, gasta. Até vê o padrão de vida crescer, mas não entendeu ainda que a gente não enriquece com o dinheiro que a gente ganha. A gente enriquece com o dinheiro que a gente guarda. 

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