Ter uma casa só sua, com uma rede na varanda, algumas plantinhas e bichinhos de estimação é o sonho de muita gente. Será que só quem tem muita grana consegue chegar lá?
O sonho da casa própria habita o imaginário de milhões de brasileiros e, como todo sonho amplamente cobiçado, é cercado de mitos. O primeiro deles é de que apenas quem tem muito dinheiro pode alcançá-lo num médio prazo. Isso não é verdade. O segredo é ter planejamento e disciplina, tentando aumentar o seu poder de economizar a cada mês.
A não ser que você tenha dinheiro acumulado para comprar um imóvel à vista, é preciso se preparar financeiramente para os gastos que vêm pela frente. Ou seja, é preciso montar um bom planejamento financeiro. Saber o quanto se quer acumular e o tempo que deseja realizar a compra são fatores importantes para quem quer dar esse grande passo.
A boa notícia é que você não precisa aprender o que significa siglas como CDB, LCA, LCI, IPO e COE para começar a investir e ficar cada dia mais próximo de realizar o seu sonho.
As corretoras de valores são instituições fiscalizadas pelo Banco Central que podem te ajudar nesse caminho, montando uma carteira de investimentos diversificada e segura. Grande parte dos investimentos mais conservadores funcionam como um empréstimo a bancos, empresas ou até mesmo ao país. Em troca, o valor investido é restituído com juros após um determinado tempo. Esses são os investimentos em renda fixa.
A poupança, por outro lado, não é a melhor solução para quem quer investir. A inflação em 2020 foi mais que o dobro da remuneração da poupança, o efeito final para o investidor é negativo, quer dizer, o dinheiro que ele tinha ao final comprava menos coisas do que no início, já que os preços subiram mais rápido. Quem investiu R$ 10.000 na poupança em 2020 perdeu R$240, de acordo com os cálculos de Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper. Já em 2021 foi quase o dobro da remuneração da poupança, e quem investiu R$ 1.000 na poupança em 2021 perdeu R$ 63,70, em termos reais. Este foi o pior resultado desde 1990.
Se você está com planos de comprar uma casa na praia ou o primeiro apê, mas não sabe por onde começar, vem com a gente. A Trip conversou com Guilherme Bachiega e Victor Basaglia, especialistas em investimento da Warren e planejadores financeiros com certificado CFP, sobre como investir bem não precisa ser complexo e como isso pode se tornar um ótimo aliado na conquista do primeiro imóvel.
Primeiro, eles falam da importância de escolher uma instituição de confiança, e que preze pela transparência, para fazer seu planejamento financeiro e iniciar seus investimentos. “Trabalhamos com um modelo em que a pessoa sabe exatamente quanto está pagando para o serviço e quanto está ganhando”, comenta Victor.
Como se planejar financeiramente
Saiba de onde você está partindo
Antes de traçar metas é preciso entender como está a sua situação financeira hoje. Quanto você ganha por mês? Você tem dívidas a pagar? Já montou uma reserva de emergência (aquela que você recorre quando surge algum tipo de imprevisto)? Qual o seu poder de poupar dinheiro? “Parecem perguntas simples, mas poucas pessoas sabem responder qual é o seu poder de poupança. A maioria não sabe muito bem nem o valor líquido de seu próprio salário”, comenta Victor.
Quite suas dívidas
A fórmula é simples: pague primeiro quem está te cobrando juros altos. Não há como começar a investir sem conseguir quitar dívidas de cartão de crédito e empréstimos. Com as contas no vermelho, o seu poder de poupança tem que ser revertido para as dívidas.
Já tem a sua reserva de emergência?
Com as contas em dia, é hora de começar a guardar dinheiro para possíveis imprevistos. Se você quer comprar uma casa, mas ainda não tem uma reserva de emergência, sugerimos que você foque aqui primeiro. Esse precisa ser o seu primeiro investimento. A proposta dessa aplicação não é valorizar o seu dinheiro, mas corrigi-lo, fazendo com que ele renda de forma segura e com alta liquidez – para que você possa ter acesso rápido a ele no momento em que precisar.
“Não tem receita de bolo para estabelecer o valor de uma reserva de emergência”, explica Guilherme. “Depende muito do padrão de vida da pessoa, se é funcionário público, empresário, profissional liberal. Nós recomendamos que a pessoa acumule o valor equivalente a seis meses de custo de vida. Assim, se algum imprevisto vier, ela pode recorrer à reserva e não a empréstimos de juros altíssimos, nem precisa comprometer o valor de outras aplicações para isso”.
Defina seu objetivo
Com o cenário dos seus ganhos e gastos mais claro, pergunte-se: Que imóvel você quer comprar? Em quanto tempo? Quanto você está disposto a pagar por mês, em caso de financiamento total ou parcial? Já sabe o total de impostos que terá que arcar com a compra de um imóvel? Parece desanimador pensar nisso, mas é uma etapa que vai fazer muita diferença mais pra frente. É só assim que você vai saber exatamente quanto precisa acumular de patrimônio pra não ser pego de surpresa em nenhum momento.
Hora de investir
Com a reserva de emergência encaminhada e o seu objetivo de comprar um imóvel bem claro, é hora de tirar o objetivo do papel e começar a perseguir a sua meta. Quanto antes você começar, melhor, e quanto mais fiel você seguir com os aportes mensais, mais os juros compostos vão dar tração ao seu rendimento. Escolha uma instituição financeira que tenha taxas baixas e tenha uma experiência amigável de investimento.
Investir no quê?
O alicerce de qualquer carteira de investimentos é a renda fixa. São, em sua maioria, investimentos conservadores, com rendimentos mais tímidos, mas que não possuem oscilação como as ações, por exemplo. Muitos produtos de renda fixa rendem mais que a poupança, com a mesma segurança. Mas se o seu plano for comprar o imóvel em um médio ou longo prazo (mais de 3 anos, por exemplo), o ideal é diversificar a sua carteira com outros ativos um pouco mais voláteis, mas que dão retorno maior quando o prazo também é maior. Essa diversificação é a grande vantagem. Você cria uma carteira para o seu objetivo, estabelece o prazo e quanto está disposto a aportar mensalmente, e a plataforma faz todo o resto: diversifica os seus depósitos nos produtos certos para que você atinja o valor necessário no tempo estabelecido. Simples assim, sem dor de cabeça para o cliente.
Ainda vale a pena financiar?
A dúvida que Victor e Guilherme mais recebem de seus clientes é se eles deveriam optar por um financiamento imobiliário ou comprar a casa à vista. O ideal é que a pessoa tente fugir o máximo possível dos juros abusivos dos financiamentos dos bancos. Portanto, quanto menos você puder financiar, sempre será melhor. Então, a pessoa pode investir para dar todo o valor à vista, ou acumular a maior parte do montante, deixando uma parte menor para financiar.
“No ano passado, como as taxas de juros estavam baixas, o juro imobiliário estava mais atrativo, mas também era mais difícil ter um ganho bacana com carteiras mais conservadoras, só com renda fixa, por exemplo. O cenário hoje é bem diferente. A taxa de juros está acima de 9% e, consequentemente, os juros dos financiamentos imobiliários estão mais pesados. Por mais que os investimentos em renda fixa estejam pagando mais, o valor real total do imóvel financiado também será maior”, pondera.
Ou seja, lá na etapa do planejamento, faça os cálculos: caso você opte pelo financiamento, calcule qual o valor total que você vai pagar pelo imóvel em X anos. Em alguns casos, é mais que o dobro. Por isso, veja se o caminho será seguir investindo para pagar à vista ou se valerá a pena investir para dar uma boa entrada e financiar o restante.
Custos ocultos
Comprar um imóvel é bem mais do que promete o valor vendido na planta. No planejamento, é preciso levar em consideração as reformas que você pretende fazer no imóvel, o valor para a compra de móveis, eletrodomésticos e pagamento de impostos como o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis). Todos esses são custos que precisam ser conversados junto com o seu planejador financeiro para que você não seja pego de surpresa.
“Muitas pessoas ficam confusas sobre o preço que elas vão pagar em um imóvel”, comenta Guilherme. “Todo saldo devedor de uma construtora vai sendo corrigido por índices inflacionários, o mais comum é o INCC (Índice Nacional de Custo de Construção). O valor vai aumentando e a pessoa não vai percebendo. Há que se considerar os custos ocultos: correção monetária, impostos, tarifa de avaliação de imóvel para conseguir o financiamento do banco, reformas”.
Mas antes que você fique desanimado, saiba que parece difícil, mas pode ser muito, mas muito mais simples. “Com planejamento, tudo é possível. A gente consegue desfrutar desde uma viagem até a compra de um apartamento, mas pra isso é importante definir um objetivo e estar comprometido a seguir o plano. No caso de um imóvel, a coisa mais importante é definir o orçamento total, não adianta ver só quanto custa na planta”, explica Victor.
Mudança de perfil
A compra de um imóvel não está associada apenas a um planejamento financeiro, muitas vezes pode significar também qualidade de vida. Antes da pandemia, um paulistano passava, em média, quase três horas por dia no trânsito. Por isso, muita gente optava por comprar imóveis próximos de seus locais de trabalho. Essa é uma tendência que pode estar mudando.
Primeiro, por um fator geracional. Os millennials, também conhecidos como geração Y (1980-1990), e a geração Z (2000-2010) trocam de emprego muito rápido, ficando poucos anos ou apenas meses sob o mesmo empregador. “Como existe muita incerteza com relação ao local que essa pessoa vai trabalhar, ela prefere não comprar um apartamento. O aluguel permite essa flexibilidade. Por isso, a busca por um imóvel próprio acaba ficando com pessoas da geração anterior, mais velhas, pessoas que já estão mais estáveis profissionalmente”, explica Guilherme.
O outro fator é a pandemia, que acabou popularizando o trabalho remoto. Algumas empresas abriram mão de seus escritórios ou optaram por salas comerciais menores, estabelecendo um regime de trabalho híbrido ou semipresencial. Com a flexibilização das atividades presenciais após o avanço da vacinação contra a covid-19 e a consequente queda de mortes provocadas pela doença, isso pode mudar. Ou não. O fato é que agora muita gente pode cogitar morar fora de cidades grandes antes da aposentadoria.