Ronaldo Lemos: ’Tem gente que passa o dia lançando iscas nos aplicativos e sites de paquera virtual’
Tem gente que passa o dia lançando iscas nos aplicativos e sites de paquera virtual. Há comunidades para quem é rico, bonito, feio, de uma etnia específica e até para quem mora na zona rural.
Já virou hábito. Especialmente em grandes centros urbanos, muitos jovens passam o tempo livre paquerando em aplicativos de celular. Um que está fazendo sucesso já há algum tempo no Brasil é o Tinder. O aplicativo mostra fotos de pretendentes que se inscreveram pelo Facebook e estão na mesma região. O(a) usuário(a) vai então dizendo “sim” ou “não” para cada um. Se acontecer de dois dizerem “sim” um para o outro, ambos passam a poder conversar e, quem sabe, marcar um encontro.
Tem gente que passa o dia lançando iscas para ver se descola um encontro real. Há até competição entre amigos para ver quem consegue marcar mais encontros. Com isso, o “mercado” da paquera muda com a tecnologia. Ele ganhou mais “liquidez” com a rede, que tornou tudo mais rápido. Bom para as empresas por trás dos aplicativos, que, ao oferecerem uma forma de espantar a solidão, ganham dinheiro das mais diversas formas, seja cobrando por serviços adicionais ou vendendo os dados pessoais dos usuários.
Nessa nova geração de sites de paquera on-line, há também nichos. Sites dedicados exclusivamente a quem é rico, bonito, feio, de uma etnia ou orientação sexual específica. Há até um curioso site francês chamado AgriFlirt, feito para quem mora em zonas rurais.
O fato é que a relação entre as redes e a paquera é mais antiga do que se imagina. Há relatos de que, já em 1870, operadores de telégrafo conseguiam reconhecer pelo ritmo do toque se quem estava do outro lado da linha era uma mulher. Há registro de paqueras e encontros marcados entre telegrafistas da época. E, claro, também das primeiras decepções quando o encontro acontecia para valer.
Solidão Lucrativa
Em suma, onde houver pessoas conectadas, sempre vai haver busca por dar fim à solidão. A paquera invade até sites e jogos que não são feitos propriamente para essa finalidade, mas que acabam virando pontos de encontro. Por exemplo, há muita gente que encontrou sua cara-metade ao alugar um quarto de casa por meio do site Couchsurfing. Há também relatos de paquera entre vizinhos usando o nome da rede wi-fi. E até por meio de jogos multiplayer, como World of Warcraft, em que as mulheres – minoria total – são sempre assediadas.
É bom ir se acostumando com isso. Encontrar o amor pela rede é cada vez mais comum. Para se ter uma ideia, nos EUA há cerca de 54 milhões de solteiros. Destes, cerca de 40 milhões já tentaram algum tipo de paquera pela rede. Isso faz com que as receitas dos sites de relacionamento cheguem a cerca de US$ 1 bilhão anuais. Como dá para ver, solidão dá dinheiro.
*Ronaldo Lemos, 37, é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu Twitter é @lemos_ronaldo