Depois de férias da música, Luísa Matsushita volta a ser Lovefoxx para o show que marca a reunião do Cansei de Ser Sexy
Enquanto cantoras como Anitta e Pabllo Vittar comemoram sua carreira internacional, não podemos esquecer que, na década passada, o Cansei de Ser Sexy rodou o mundo, se apresentando nos principais festivais de música pop. Em setembro de 2003, nascia, de uma brincadeira, a banda de rock eletrônico que logo se tornaria um marco para a música pop brasileira no início dos anos 2000.
Luísa Lovefoxx, Ana Rezende, Luiza Sá, Carolina Parra, Iracema Trevisan e Adriano Cintra formaram o grupo brasileiro de maior sucesso internacional daquela época. Fecharam contrato com a Sub Pop (gravadora que revelou o Nirvana), lançaram quatro discos e quatro EPs e entraram até para a lista de mais ouvidas da Billboard.
Planta, o último disco da banda, foi lançado em 2013. Apesar de brigas, polêmicas e acusações que marcaram a separação do CSS (e a saída de Adriano), a banda afirma que nunca acabou, apenas deu um tempo.
Desde então, Lovefoxx, vocalista do grupo, fez um retiro artístico na Amazônia. Estudou construção sustentável e permacultura e trocou a loucura de São Paulo pela tranquilidade de Garopaba, litoral de Santa Catarina. Em entrevista à Tpm, ela conta como foram os últimos anos e como será o retorno do CSS aos palcos depois de seis anos, na próxima dia 15 de novembro, no Popload Festival.
Tpm. O que você fez nos últimos anos?
Luísa Lovefoxx. Foram anos de muita mudança. Em 2014, comecei a estudar construção sustentável, que foi a porta de entrada para que eu entrasse em contato com a permacultura e a agrofloresta, meus maiores interesses no momento. A gente faz esses cursos e se emociona, né? Daí, vendi meu apartamento em São Paulo, vim para Santa Catarina, comprei um terreno para praticar tudo o que venho aprendendo. Neste exato momento, estou na escola do Namaste Messerschmidt, um professor e agrofloresteiro bafônico. Vim pintar alguns murais e fiquei muito feliz de estar envolvida com isso.
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Quando começou a desenhar? Sempre desenhei, mesmo durante a banda. Sempre gostei de coisas gráficas, fiz alguns trabalhos aqui e ali. Sou autodidata e aprendi a pintar pintando. Hoje, uso tinta óleo, que tem um processo mais lento. Gosto de coisas antigas. Fiz minha primeira exposição em 2014, em Oakland (EUA). Depois, fui para a Amazônia fazer uma residência. Fiquei dois meses numa casa em um igarapé, próximo a Manaus, mas era bem afastado de tudo.
O Cansei de Ser Sexy foi uma das primeiras bandas a usar a internet a seu favor. Como foi pra você ir morar em um lugar tão distante e se desconectar? Quando a gente usa a internet para o bem, é ótimo, mas há alguns momentos em que ela não nos favorece muito. Até hoje, gosto de ter esses momentos de desconexão total. Todo mundo tem Wi-Fi hoje em dia, então tinha uma pequena conexão para falar com alguém, fazer alguma pesquisa.
Como surgiu a oportunidade da reunião do CSS? O Popload já tinha conversado com a gente sobre fazer um show, não lembro exatamente quando foi o primeiro contato. Eu e as meninas [Ana Rezende, Luiza Sá e Carolina Parra] estávamos conversando pela internet, fazendo umas demos, sentindo saudades de tocar. Foi muito mágico, essas coisas acontecem com sincronicidade. A gente tá super animada!
Vocês pretendem fazer mais shows ou esse é o único? No Brasil, esse é o único porque temos um contrato de exclusividade com o Popload. A gente não tem nada programado, temos algumas novidades para o ano que vem, mas ainda não posso contar o que é! [Risos].
Vocês decidiram o setlist pelo Instagram. Como foi isso? Tem algumas músicas que só nossos fãs brasileiros gostam e a gente queria ter certeza de qual eles queriam ouvir. Não queríamos ser aquelas bandas que volta depois de um tempo longe e só toca o que quer. Fiz as enquetes, um método muito científico [risos] para descobrir quais as favoritas.
O que foi o mais bacana na época do CSS? Lembro que, quando a gente fez a primeira turnê com o Diplo, em 2006, achei que seria o único. Pensava: “Vou fazer a turnê por um mês e ter história para contar para o resto da vida”. Mas a gente nunca parou. Sempre voltávamos e sempre tinha gente querendo que a gente voltasse. Isso foi o mais legal. Nunca achei que a gente fosse voltar tantas vezes e nem que fosse rodar o mundo e tocar em vários festivais. Tem muitos momentos incríveis. Quando tocamos a primeira vez no Coachella, por exemplo. O mais desafiador sempre foi me manter presente e ciente do que estava acontecendo. Às vezes, a gente entra numas, uns dramas pessoais, lembro uma vez que eu estava bem cansada e falava que não queria mais.
E o mais difícil? É o que eu sempre falo: é cansativo, mas é um trabalho muito legal. Demanda muito. E aí eu meio que tirei uma soneca, voltei e percebi onde eu estava e tudo que estava acontecendo. Lembro que eu estava para ficar doente e consegui reverter. Manter-se presente é o maior desafio da vida. Protect me from the things I want [me proteja das coisas que eu quero]. A gente quer muito uma coisa e, quando consegue, acaba não aproveitando.
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Do que sente saudades e do que não? Sinto saudade da dinâmica do rolê com as meninas. A gente se dá muito bem, se diverte muito. Por isso, o Cansei ainda existe. A parte mais desafiadora de ter uma banda por muito tempo é se dar tempo. Afinidade no humor também tem que ser nota dez.
Vocês ainda se encontram bastante? As meninas moram fora do país, em Los Angeles. Encontrei elas várias vezes, elas vinham pra cá visitar, fui pra lá duas ou três vezes. Mas a gente se fala direto no WhatsApp. O nome do nosso grupo é A Grande Família. Essa é uma história muito engraçada: o computador do Lineu [Marco Nanini], da série [A Grande Família], tinha um adesivo do CSS. Um fã me mandou uma foto disso uma vez, mas o nome do nosso grupo já era esse. Louco, né?
Você acompanha música hoje? Curte alguém? Eu amei muito o disco da Letrux. Ele resgatou um negócio que fez parte de uma velha adolescência minha, um eletrônico divertido. Gosto muito do humor dela, que é bem sincero, e da sua inteligência. É tudo maravilhoso! O disco dela me deixou muito feliz. Discotequei em Florianópolis antes do show da Duda Beat e amei aquela música "Bédi Beat". Gostei de conhecer ela, sua história. Também adoro a Renata Rosa, o Omulu é maravilhoso, o Jaloo também. Eu sempre tô escutando música. Tenho Spotify há sete anos, ele me conhece muito bem e sempre me indica coisas novas que sabe que eu vou gostar.
Vai lá
Popload Festival
15 de novembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo
Créditos
Imagem principal: Mariana Juliano / Divulgação