Força da natureza

por Carol Ito
Trip #274

“A floresta é estranha, diversa e bela, assim como a nossa própria espécie”, reflete Emerson Munduruku, criador da drag queen Uýra Sodoma

“Uýra é uma entidade do mato, em carne de bicha e planta” explica Emerson Munduruku, descendente de indígenas, de 27 anos, que performa a drag Uýra Sodoma pelas ruas e festas de Manaus. Ele compõe seus figurinos utilizando plantas como trepadeiras, cipós, capins e palmeiras, as quais encontra no quintal da casa onde mora, na periferia manauara. Depois das apresentações, devolve as plantas para a terra para que possam se decompor.

A “montação” dura cerca de duas horas, entre maquiagem e composição do figurino. “Colo, amarro e penduro elementos orgânicos em meu corpo e eles se tornam parte de mim. Me interesso pela mistura de tintas, suor, pelos e mato”, explica.

Uýra ganhou os primeiros contornos em 2016, depois de um episódio em que Emerson foi agredido por ser homossexual ao voltar de um bar. “Comecei a perceber as violências sobre o meu corpo e os corpos parecidos com ele. Nessa época, comecei efetivamente a buscar fazer algo por outras vidas”, relembra. As inspirações para as performances, além da natureza, vem de artistas que Emerson admira, como Linn da Quebrada, Dona Onete, Elza Soares, Pabllo Vittar e As Bahias e a Cozinha Mineira.

A natureza dos corpos

A proposta da performance é valorizar a diversidade sob diferentes perspectivas, da ecologia às questões de gênero. “A floresta é estranha, diversa e bela, assim como a nossa própria espécie”, reflete Emerson. Depois de conviver com pessoas trans e travestis, conheceu a ideia de não-binarismo de gênero, conceito que ia ao encontro de suas memórias e experiências: “Nunca me senti homem, nem mulher”.

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Uýra vem pra provocar, criticar ações pautadas pelo imediatismo, pela busca de soluções fáceis para problemas complexos. “A visão imediatista é um dos maiores problemas do ser humano. É o que faz alguém dizer que bandido bom é bandido morto ou que quem polui os rios são as pessoas que moram na beira, nas palafitas”.

Emerson também é biólogo, mestre em ecologia pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e trabalha como arte-educador na Fundação Amazônia Sustentável, atuando em comunidades ribeirinhas, as quais considera fundamentais nos processos de conservação ambiental. “O desafio é estimular e garantir que elas também participem das decisões políticas e ambientais”, defende.

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