Liderado por Ibã Sales, em Jordão, no Acre, coletivo de artistas indígenas da etnia Huni Kuin vende telas para poder comprar mata virgem
O folclore indígena nos forneceu um grande número de figuras míticas, as quais afirmamos serem lendas, seres irreais. Essa certeza acaba em um aperto de mão com Ibã Sales, 53, cacique, xamã e txana, mestre dos cantos, da aldeia Chico Curumim, uma das 34 pertencentes ao povo Huni Kuin no oeste do Acre, na divisa do Brasil com o Peru. A presença de Ibã é marcada por silêncios longos, reflexões espirituais sobre a floresta e sua força, sorrisos repletos de uma doçura quase paternal, risadas abertas intercaladas por histórias milenares de seu povo, as quais conta de modo detalhista.
Ibã é hoje uma das lideranças mais respeitadas dos Huni Kuin, etnia que é chamada de Kaxinawá na documentação da Funai. Quando fala da jornada do seu povo, associa cada passagem com algum dos cantos huni meka, parte musical da cerimônia com nixi pae, a “luz do cipó”, que é como eles costumam chamar a ayahuasca no próprio idioma. Cada música citada é cantada por Ibã, dono de uma voz que faz você mergulhar em um transe imediato e acreditar que personagens como os do folclore indígena não apenas existiram, como ali está um deles, ainda vivo, bem na sua frente.
O cacique, porém, é mais do que um cantor excepcional e uma figura mística. É um professor, educador, artista plástico e ativista. É mestre pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e doutorando na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde também ministra aulas sobre sua pesquisa no curso de antropologia. E fundou, em 2013, o Movimento de Artistas Huni Kuin, o Mahku, um coletivo que reúne 12 artistas plásticos da etnia e é também o instrumento pelo qual Ibã busca recursos para seguir com um plano ambicioso: usar o dinheiro obtido com a venda de obras de arte para comprar mata virgem e protegê-la do desmatamento.
O primeiro passo foi dado em 2014, quando o trabalho do Mahku foi selecionado para a exposição Made by... Feito por brasileiros, no antigo hospital Matarazzo, em São Paulo. Ibã, Bane, seu filho, e Isaka pintaram painéis nas paredes de três salas e, ao fim da experência, venderam pela primeira vez uma obra de arte – uma tela de 5 metros, por R$ 40 mil. O dinheiro dessa primeira venda foi investido na compra dos primeiros 50 hectares, uma área um pouco maior do que a do Vaticano. Desde então, venderam cerca de 15 obras, mas em tamanhos e valores menores. E mais terras ainda serão compradas.
Essa nova etapa da jornada Huni Kuin teve um momento importante no contato de Ibã com o antropólogo Amilton Pelegrino de Mattos, professor na Ufac e parceiro do Mahku, de quem ele fala como um irmão nawa, ou homem branco. “A gente estava conversando sobre o trabalho do Mahku e pensamos que tínhamos que mostrar para longe. Criamos um blog e mandamos para algumas pessoas, outros antropólogos”, lembra Ibã. O site viajou pelos algoritmos e chegou a um representante da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, de Paris, que convidou o cacique para participar de uma mostra de arte contemporânea, ainda em 2013. Ibã desembarcou na Europa para nunca mais parar de viajar com sua arte e sua pesquisa.
Uma lógica corrompida
Desde que as Terras Indígenas começaram a ser demarcadas no Brasil, em 1961, com a criação do Parque Indígena do Xingu, um violento debate, que nunca arrefece, se dá entre aqueles que defendem a manutenção e a ampliação das reservas e os ruralistas, movidos pelo desejo de garantir o máximo de floresta possível para explorar (quer dizer, desmatar). Um embate clássico entre o instrumento mais importante do capitalismo, o dinheiro, e o patrimônio mais importante dos indígenas, a floresta e a própria cultura.
Lógicas, porém, existem para serem corrompidas.
Foi em um bar de São Paulo que encontrei os artistas Beto Shibata e Oga Mendonça e ouvi deles uma história surreal. Um amigo em comum, o também artista Bruno Novelli, tinha visitado um indígena que estava começando a colocar em prática um plano quase inacreditável: comprar mata virgem em áreas próximas às reservas ocupadas por seu povo em Jordão, no Acre. “Eu tenho uma frase que disse em uma palestra. Quando fui explicar o que estava fazendo, falei: ‘Vendo tela e compro terra’”, conta Ibã no primeiro encontro com a Trip, enquanto, junto com Bane, realizava um workshop no MAM.
A intenção de proteger a cultura e a floresta é repetida frequentemente, mas há também uma outra ideia por trás do plano de Ibã, uma motivação artística e educacional. Com isso em mente, o cacique tem um desejo para os primeiros 50 hectares que comprou: transformá-los em uma área que sirva para criar um intercâmbio com artistas não indígenas, de diferentes linguagens e regiões. “Não vamos derrubar nada. É pra ser uma área independente de reserva florestal. Vamos limpar, ver as ervas medicinais e fazer uma kupixawa [construção mais ancestral Huni Kuin], bem no meio, pra receber artistas e pessoas que venham fazer intercâmbio com o Mahku. Nas Terras Indígenas não pode. Nas terras que a gente compra é um movimento independente”, explica Ibã, lembrando a visita de Bruno, que não chegou a ir até as aldeias, mas participou de uma pintura coletiva na sede da prefeitura de Jordão.
Ao mesmo tempo em que Ibã passava para a Trip detalhes dessa utopia capitalista, porém, os parlamentares em Brasília seguiam na incansável perseguição ao passado, buscando a aprovação da PEC 215, que muda as regras de demarcação de terras indígenas. Segundo o projeto, o reconhecimento de reservas deixaria de ser uma prerrogativa do poder Executivo a partir de parâmetros legais, para ser algo decidido pelo Legislativo, ou seja, por eles próprios – a alegria da bancada ruralista.
Os Huni Kuin ainda estavam em uma situação delicada no início dos anos 80. Não havia terras demarcadas para eles, e o povo – que se autoproclama descendente de Incas – vinha de anos de conflitos e trabalho análogo à escravidão para os seringueiros da região. Estavam dispersos como etnia e a língua, o hantxa kuin, estava ameaçada, tal qual as tradições mais antigas. Havia, porém, uma importante reserva de sabedoria: os velhos, como eles costumam falar, entre os quais estava Tuin, pai de Ibã. Conhecedor dos saberes ancestrais, Tuin começou a dividi-los com o filho. Mas em vez de só escutar, Ibã gravou tudo, do pai e de outros velhos da aldeia. “Essa pesquisa virou meu primeiro livro, Nixi pae, o espírito da floresta, e foi o meu mestrado”, ele conta.
Outros tempos
Com 19 anos, Ibã foi passar um tempo na cidade para estudar. Quando voltou, já tinha em mente que precisava mudar a dura realidade de analfabetismo do seu povo. Foi então que ele virou professor e começou a alfabetizar adultos e crianças, mas sempre voltado para uma educação sobre a própria existência, cultura e tradição. Ibã encontrou no meio acadêmico um lugar para aprofundar sua investigação, mas é na população que vive às margens dos rios Jordão e Tarauacá que essa busca pela sabedoria dos antepassados deixou marcas profundas.
“Nos anos 70, chegamos a ser pouco mais de 300”, lembra Ibã, para ilustrar a preocupação que tinham sobre o futuro. Hoje, estão perto de chegar a 4 mil pessoas, segundo o Polo Base de Jordão, que abriga as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (Emsi) que atuam nas aldeias, com visitas mensais a cada uma delas. As Terras Indígenas onde estão as 34 aldeias Huni Kuin localizadas no Brasil foram demarcadas em 1984 pela Funai – há índios da mesma etnia do lado peruano da fronteira. Atualmente, cada uma delas tem, ainda que com dificuldades, uma escola própria.
A PEC 215 está, por enquanto, engavetada, depois de pressões e protestos. Já os planos de Ibã seguem em curso, mas não em linha reta, e sim em longas curvas, como as que são traçadas pelo rio Jordão, no oeste do Acre. E era lá que eu precisaria chegar para entender tudo que pensa e faz Ibã nessa jornada de resgate e proteção da cultura de seu povo.
Como todo aventureiro de primeira viagem, imaginava um caminho cinematográfico até a aldeia. O trajeto parecia tranquilo. Um voo, com uma parada em Brasília, nos deixou em Rio Branco, capital do Acre, o único trecho operado em grande escala. Do mesmo aeroporto, já acompanhados por Ibã, embarcamos em um bimotor até Jordão, onde descemos em uma pista à beira da floresta, com duas casinhas de madeira que serviriam para fazer o “check-in” na volta. Faltava então encarar cinco horas de barco subindo o rio. O que não apareceu nas pesquisas pré-viagem, porém, era que esse itinerário só é feito nesse tempo nos períodos de cheia, que, no meio de outubro, estavam distantes ainda alguns meses. Seria um pouco mais complicado do que o imaginado, e não só por conta da navegação em si.
Pés descalços
Não há caminhos por terra que levem a Jordão, então conseguir coisas elementares passou a ser missão de garimpo, a começar pela gasolina para o motor da canoa. Normalmente, quando as entregas por rio são possíveis, o preço do litro de combustível já não baixa de R$ 6. Nessa época, com a impossibilidade de grandes embarcações percorrerem o caminho até a cidade, depende-se exclusivamente de moradores que tenham algo em estoque por, no mínimo, R$ 10 o litro. O problema maior é encontrar quem tenha.
Paramos no restaurante Avenida, de Edivaldo, um nawa que é parceiro do Mahku. Era com ele que contávamos para o abastecimento, nosso e do motor. “Sem chance, já perguntei em todo lugar. Ninguém tem. Vocês não vão conseguir chegar”, ele disse, pessimista. Ibã discordava e saiu para conversar com algumas pessoas. Voltou com 20 litros, suficientes para ir e vir, e um barqueiro. O rio estava realmente bem baixo, então em muitos momentos tínhamos que percorrer trechos a pé, varando a floresta e nos reencontrando com o barqueiro mais à frente. Ibã nos contou que não daria para ir até Chico Curumim, aldeia que seria nosso lar por uma semana. Chegamos com o dia já escurecendo na aldeia São Joaquim.
“Não vamos derrubar. É pra ser uma área independe de reserva florestal”
À luz de lamparina, fomos recebidos com um jantar – macaxeira, banana cozida, amendoim, uma paçoca que eles usam como tempero e mingau. Essa combinação de pratos, e as frutas comidas durante o dia, formariam a nossa dieta pela próxima semana, com algumas pequenas variações aqui e ali, especialmente em dias de caça (paca, macaco e veado foram os animais que surgiram nos dias seguintes). Redes penduradas, hora de dormir.
Às 5h30, o sol já entrava por todo lado e estávamos prontos para mais uma rodada de macaxeira antes de seguir viagem. A rotina era a mesma do dia anterior: trechos embarcados, trechos pela mata, e passagens por dentro de várias aldeias, onde éramos sempre bem recebidos e Ibã tratado com respeito. Por todo os lados estão índios Huni Kuin alfabetizados por ele. Pouco depois de nossa última parada – na aldeia Boa Vista, onde fomos surpreendidos por um cacho de coco verde – precisamos descer da canoa para uma caminhada que deveria ser breve. Descemos descalços. Faltou, porém, reencontrar o barqueiro. Ibã nos tranquilizou: “Vamos caminhando, estamos perto”.
Não sabíamos, porém, que o “perto” não chegaria antes do pôr do sol. Por quase duas horas, nosso caminho – ora pelo meio da floresta, ora pela margem do rio – foi feito sem tênis e na escuridão total da mata. “Ibã, e não tem cobra por aqui?”, perguntei. “Isso não é hora para esse tipo de pergunta!”, brincou Barbara Veiga, a fotógrafa da Trip. Todos rimos e seguimos até Chico Curumim, onde só deu tempo para um banho nas águas quentes do rio Jordão, rodeados por uma grande quantidade de morcegos que voavam em torno das bananeiras da margem, e para recepção na casa de Isã, irmão do cacique.
As obras do Mahku são criadas para retratar de forma pictográfica a história do povo, um idioma gráfico tal qual os hieróglifos do Egito antigo. Cada tela, seja coletiva ou pintada por algum dos 12 integrantes do coletivo, se dá sempre a partir da letra de algum dos cantos huni meka, sendo também uma forma de ilustrar a “miração”, nome dado por eles às visões decorrentes da ayahuasca. “A miração mostra caminhos que a gente precisa tomar e é um processo de cura, de limpeza. A gente vê as coisas que precisa ver”, conta Ibã. Ela começou a pintar como uma forma de traduzir as canções cerimoniais em algo que pudesse ser lido por qualquer pessoa. Uma linguagem universal, a arte, que condensava dois elementos formadores da etnia: a música e a ayahuasca.
É a partir do trabalho com nixi pae que os Huni Kuin atravessaram a história. Eles são um dos povos mais tradicionais no consumo da bebida alucinógena, em cerimônias realizadas mensalmente e em datas ou eventos comemorativos, como aniversários e casamentos. E é através do nixi pae que nasce a pintura. As telas do Mahku têm um traço forte e muitas cores, que em um primeiro contato podem nos fazer lembrar artistas como Tarsila do Amaral ou a mexicana Frida Kahlo. Tem também algo de naïf. Mas não há como compreendê-las melhor do que em uma cerimônia, sob o efeito da bebida.
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“Quando completei 18 anos, ganhei um caderno de pesquisa do meu pai e, nele, aprendi as músicas e comecei a ter vontade de pintar os significados”, conta Bane. “Com o nixi pae, comecei a aprofundar as cores. As imagens da ayahuasca são coloridas… Azul, amarelo, verde, tem jiboinha, lagartinho. Eu desenhava inicialmente apenas algumas figuras, aí aprendi a usar as cores dentro da força da ayahuasca”, completa o filho de Ibã.
Depois de três dias na aldeia vivendo a rotina Huni Kuin, chegou o dia de presenciarmos e participarmos do trabalho com nixi pae. Na cerimônia, as cores e imagens que Bane menciona realmente apareceram. Tudo fez muito mais sentido. A conexão com a terra é imediata, as mirações realmente trazem pensamentos de grande profundidade e imagens que marcam, em cores alucinantes. A vontade de desenhar é, de fato, real. Em meio ao transe, eu também tive, mas não há ayahuasca que consiga tirar alguma arte de mim. A ideia pode vir da bebida, mas o talento com as artes é algo que nasce com o artista. E a vivência Huni Kuin é inteira baseada em expressões artísticas. Não há momento na aldeia em que alguém não esteja cantando ou tocando algo. Há músicas para todas as ações do dia. “Se a gente vai construir uma casa, é uma música, se vamos caçar, é outra, se vamos preparar nixi pae é outra. Estamos sempre cantando”, conta Ibã.
Guardiães do povo verdadeiro
Ibã vem de uma família que sempre cuidou de manter vivas as tradições dos Huni Kuin, que significa “o povo verdadeiro” em hantxa kuin. Com as histórias do avô, Tene, nasce a vontade de proteger o povo, que viveu um período de “guerra” no seringal. Depois, seu pai, Romão Tuin, se preocupou em passar adiante as histórias e mitos. E hoje Ibã faz o mesmo com seus filhos e irmãos. Além de Bane, que estuda pedagogia na Ufac, em Jordão, e segue os passos do pai no coletivo Mahku, como um dos grandes expoentes das artes plásticas Huni Kuin, muitos outros familiares participam de alguma maneira da missão de preservar a própria cultura.
Em todo lugar encontramos parentes. Uns dizem que há mais de 500 pessoas nessa árvore genealógica, outros, mais conservadores, falam em 300, e encontra-se por lá quem diga que o número passa de mil. O fato é que entre os cem habitantes de Chico Curumim não há ninguém que não esteja vinculado por sangue. Na aldeia, dois dos irmãos de Ibã, cada qual em um sentido, cuidam e preservam o que eles sempre chamam de espírito da floresta.
“Não sou político. Minha política é o Mahku”
Isã, 44, é pajé – domina, portanto, o trato com as ervas medicinais que curam seu povo – e professor. De poucas palavras e muita serenidade, é ele quem transmite aos jovens o conhecimento das danças e rituais tradicionais, e também ensina o trabalho e modo de vida ancestral, praticado ainda hoje. Mais do que isso, transmite o amor por esses elementos que colocam os Huni Kuin em contato com o passado e o presente – é quando ele deixa o ar de paz e silêncio de lado para sorrir e cantar com seus alunos.
Enquanto Isã cuida dos jovens, Iasã, 55, trata de proteger o bem maior, a floresta. Agente florestal, não há planta na mata ao redor que ele não saiba onde está. “Floresta serve pra nós, dá tudo que a gente precisa. É importante cuidar dela”, explica. A cada incursão, ele traz para a aldeia as ervas, frutas e plantas que são importantes para a vida deles, e cultiva tudo em seu roçado, um lugar que parece saído de alguma fábula mitológica. “Já plantamos mais de 9 mil plantas diferentes aqui”, conta Ika Muru, filho de Iasã.
Há também a filha de Ibã, Maria, que cuida de elementos da arte mais ancestral, juntamente com as outras mulheres – as cerâmicas, a tecelagem, a cestaria e a pintura do corpo. E existe o desejo de vender também essas criações, como já ocorre com as artes plásticas. “A gente não quer Bolsa Família. Queremos independência, fazer dinheiro pra melhorar a vida. A gente precisa de internet pra isso, de placa solar”, diz a cacique da aldeia Novo Natal, Ozélia, prima de Ibã e figura proeminente entre os Huni Kuin.
No município de Jordão, fora das aldeias, o trabalho com a internet deve se intensificar para possibilitar a venda de trabalhos do Mahku para outras cidades brasileiras e também para fora do Brasil. Os preços podem variar de R$ 2 mil a R$ 40 mil, dependendo do tamanho. “Uma parte vai para o artista que pintou, uma parte paga as contas do Mahku, e guardamos uma parte para comprar mais terra virgem no futuro”, conta Ibã.
Enquanto não fica pronta a sede do Mahku nas terras compradas por eles, os encontros dos integrantes ocorrem em outro centro cultural, o Kayatibu – Juventude Indígena Huni Kuin, responsabilidade de Txana Tuin, 25, também filho de Ibã. “Quando os jovens deixavam a aldeia para estudar, descobriam no município a cachaça e a noite. Aí começamos a fazer o trabalho com nixi pae mais focado nos jovens. E hoje eles estão em todas as cerimônias e deixaram a cachaça. Estão na nossa cultura. A gente segura tudo isso”, explica o cacique.
Hoje, vendo o que ocorre nas aldeias, é difícil imaginar que a extinção da cultura ancestral era assunto relevante entre os velhos, efeito claro do trabalho educacional de Ibã. E é isso que faz dele uma figura respeitada por seu povo e procurada por políticos locais, com os quais tem contato frequente, mas com cuidado ao se aproximar. “Quando comecei o Mahku, tive uma miração, que eu estava numa árvore bem alta, a Samaúma [árvore mais importante na cultura deles, símbolo do espírito da floresta]. Lá embaixo, estavam os bichos, cobras e o gato [onça], de boca aberta. Se eu caísse, iria direto para a boca deles. Eu entendi que eles eram os políticos. Eu não sou político. Minha política é o Mahku.”
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Imagem principal: Barbara Veiga