Chico Landi: o mecânico que se tornou o primeiro piloto de F1
Antes de Senna, Piquet e Fittipaldi, um mecânico paulistano abriu caminho para o Brasil na Fórmula 1. A história pioneira de Chico Landi volta às pistas com a estreia de Gabriel Bortoleto em Interlagos
Chico Landi: o mecânico que se tornou o primeiro mestre brasileiro na F1
Por Redação
em 6 de novembro de 2025
Se as pistas do Autódromo de Interlagos já entregaram grandes momentos para os fãs brasileiros de Fórmula 1, é impossível contar essa história sem falar de Chico Landi. Ao contrário de Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Ayrton Senna e Felipe Massa, ele nunca venceu em casa uma prova da mais alta categoria do automobilismo. Mas foi Landi, o primeiro piloto a correr pela F1, um dos responsáveis pela reforma que trouxe o GP do Brasil de volta em 1990. Diretor do autódromo por anos após se aposentar das corridas, ele trabalhou ao lado de Ayrton Senna para consolidar o país no mapa do automobilismo.
No ano em que o Brasil volta a ter um representante no grid, com a estreia de Gabriel Bortoleto no circuito, Chico Landi terá sua trajetória lembrada no próximo final de semana no Grande Prêmio de São Paulo. Ao lado da Trip, a Porto vai contar a história do nosso primeiro piloto de Fórmula 1 e exibir uma réplica do carro que ajudou a abrir as portas para o sonho do automobilismo brasileiro. E pra isso a gente precisa voltar um século para trás!

Francisco Sacco Landi tinha 13 anos quando deixou a escola para trabalhar em uma oficina mecânica. O ano era 1920 e o automobilismo engatava a primeira marcha – a Fórmula 1, sua mais alta categoria, só seria criada 30 anos depois. Foi entre pneus e motores que o brasileiro descobriu a paixão que o levaria das ruas às pistas internacionais. Seu considerável conhecimento sobre mecânica permitiu que Landi preparasse seus próprios carros, uma vantagem fundamental para qualquer piloto em potencial, especialmente naquela época. Sua estreia oficial aconteceu em um circuito improvisado em Santos (SP), mas foi em 1934 que ele correu seu primeiro campeonato importante, o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro.

Foram muitas vitórias e campeonatos conquistados − o primeiro deles o Circuito Chapadão, em 1935. Só na corrida de rua do Rio, conhecida como Circuito da Gávea, Landi se consagrou campeão três vezes, em 1941, 1947 e 1948. Mas foi no fim da Segunda Guerra Mundial que veio o grande salto na carreira do piloto brasileiro, uma época em que a escassez de gasolina abalou o automobilismo.

Com o racionamento, Landi correu − e venceu − com carros movidos a gasogênio, combustível feito de carvão vegetal que demandava um equipamento pesado e complexo. Ele se adaptou tão bem ao combustível alternativo que criou sua própria empresa de fabricação do produto, mostrando ao mundo o talento e a engenhosidade brasileira. Foi assim que Chico ganhou o apelido de “Rei do Gasogênio”.

Em 1948, pilotando uma Ferrari, ele venceu o Grande Prêmio de Bari, na Itália − a primeira vitória de um brasileiro fora do país. O ineditismo da conquista foi tanto que os organizadores sequer tinham o hino nacional disponível para tocar. Assim, a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, foi a música usada para celebrar a estreia do Brasil no mapa da velocidade.

Com a criação da Fórmula 1 em 1950, Landi colocou o Brasil no grid. Ele estreou no GP da Itália de 1951, em Monza, com uma Ferrari 375 alugada. A primeira corrida durou só uma volta, devido à quebra da transmissão, mas foi o início de uma história que já levou 33 pilotos às pistas da categoria, com oito títulos conquistados – três de Senna, três de Piquet e dois de Fittipaldi.

Landi também detém o título de primeiro brasileiro a marcar pontos na F1. Em 1956, no GP da Argentina, ele cruzou a linha de chegada em 4º lugar pilotando uma Maserati 250F. Na época, o regulamento permitia a troca de pilotos. Landi dividiu o carro com o italiano Gerino Gerini e, por isso, recebeu 1,5 ponto na classificação do campeonato.

Mesmo já fora do cockpit, o mestre Landi seguiu acelerando o esporte. Ajudou o piloto Paulo Gomes a conquistar o primeiro título da Stock Car e dirigiu o Autódromo de Interlagos, desempenhando um papel importante na reforma que trouxe o GP do Brasil de volta em 1990. Chico Landi morreu em 1989, e suas cinzas foram espalhadas no circuito que ele ajudou a reerguer e tornar símbolo do automobilismo nacional.

No próximo final de semana, celebramos o legado de Chico Landi sem deixar de olhar para o futuro. Enquanto a Arquibancada Porto em Interlagos relembra o piloto que abriu caminho para o Brasil na F1, Gabriel Bortoleto, de apenas 21 anos, estreia no GP que tem como palco a pista onde nasceram algumas das maiores conquistas do automobilismo nacional. Haja coração!

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