15 minutos: o tempo para uma cidade mais humana
E se tudo o que você precisa estivesse a 15 minutos de casa? A teoria do urbanista Carlos Moreno é uma das reflexões que inspiram o futuro que o Instituto Motiva quer ajudar a construir
Carlos Moreno, Eduardo Srur, Jandaraci Araújo e Hélio da Silva / Fotos: Divulgação / Reprodução
Por Motiva
em 22 de outubro de 2025
Já imaginou sair de casa a pé e estar a 15 minutos do seu trabalho, da escola do seu filho, do posto de saúde mais próximo, de uma praça e de um bom supermercado? Segundo Carlos Moreno, urbanista colombiano radicado na França e conselheiro da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, isso não só é possível como é também o modelo ideal de cidade.
Para mostrar que o sonho também pode ser real, ele cita em suas palestras o caso de Paris, que recentemente conseguiu a aprovação em plebiscito para a transformação de 500 ruas em vias ajardinadas proibidas para carros. E também conta a história de Amsterdã, cidade hoje conhecida pela quantidade de ciclistas e bicicletas que tomam suas vias. Mas, até os anos 1970, o cenário era bem diferente. Naquela época, a cidade holandesa registrou o maior número de acidentes fatais envolvendo crianças no mundo.

O turning point aconteceu quando o filho de um jornalista morreu ao ser atropelado por um carro. Seu pai então criou um movimento chamado “Parem de matar nossos filhos”, que durou quase 20 anos e culminou no convencimento do governo de que a cidade não poderia continuar sendo um depósito de carros.
“O essencial é considerar que as longas distâncias viraram um vício e que a proximidade pode e deve ser uma virtude, porque ela humaniza a cidade”, afirma Carlos Moreno. Foi com esse tipo de provocação, e também para refletir sobre o futuro que desejamos para as nossas cidades, que o Instituto Motiva reuniu na Bienal de São Paulo vozes que falam e defendem a importância da arte, diversidade, inclusão e natureza como caminhos para curar o espaço urbano – e nós mesmos.

O encontro realizado com o apoio criativo da Trip teve como objetivo anunciar o novo posicionamento e o compromisso social do Instituto de investir R$ 1 bilhão até 2035 em projetos que ajudem a transformar as cidades brasileiras. A estratégia será guiada por três pilares estruturantes: soluções sustentáveis; qualidade de vida, por meio do incentivo à saúde e ao esporte; e redução das desigualdades, por meio da democratização do acesso à cultura e à educação.
Além do urbanista colombiano, participou do encontro o artista plástico Eduardo Srur, que trouxe uma reflexão que tão bem reflete a ousadia de suas obras: “A arte é uma forma de ocupar a cidade, de reinventar espaços e de mostrar que a transformação também pode nascer da imaginação coletiva”, disse ao exibir imagens de suas intervenções de grandes proporções, que intrigam por provocar e nos fazer refletir sobre assuntos como meio ambiente, lixo e desigualdade.

O painel conduzido pelo jornalista Paulo Lima reuniu o ex-executivo responsável por criar o maior parque linear de São Paulo, Hélio da Silva, que hoje se intitula um plantador de árvores, a presidente do conselho administrativo do Museu Afro Brasil, Jandaraci Araújo, e Flávio Canto, judoca e um dos fundadores do Instituto Reação, para discutir como pensar em soluções sustentáveis para cidades tão marcadas pela desigualdade. “Você só sonha com aquilo que você vê”, disse Jandaraci. “Diversidade e representatividade constroem futuros possíveis”.
Para Paulo, o conceito de “acupuntura urbana”, que diz que pequenas e pontuais intervenções em locais estratégicos de uma cidade geram um grande impacto, pode ser pensado não apenas do ponto de vista técnico, mas também como uma metáfora de como diferentes pontos de vista podem se unir, se complementar e gerar um mesmo movimento de transformação. “Conseguimos mostrar como cada uma dessas agulhas potentes – pessoas que, na área em que atuam, fazem a diferença – pode transformar realidades em diferentes cenários: da questão ambiental à desigualdade, passando pelo acesso à cultura e pelo esporte. São justamente essas as frentes em que o Instituto Motiva quer atuar de forma mais objetiva”, ponderou.

Além de Eliane Lustosa, presidente do conselho de administração do Instituto Motiva, Renata Ruggiero, presidente-executiva do Instituto, também subiu ao palco para apresentar o novo posicionamento: “Sustentabilidade é poder viver em equilíbrio com o ambiente à nossa volta, com os outros e também com nós mesmos. O Instituto Motiva quer ser um catalisador de iniciativas concretas nesse caminho”, afirmou.
O evento também contou com a participação da artista Sandra Peres, uma das vocalistas da dupla Palavra Cantada e embaixadora do programa Escolas Baseadas na Natureza. Ela falou sobre a importância da natureza na vida das pessoas, principalmente na infância, e conduziu uma premiação das escolas participantes do programa.
O encontro foi encerrado com a fala de Antônio Lessa, superintendente da Fundação Bienal, que celebrou a parceria e aproveitou para convidar o público para uma visita guiada pela exposição: “É uma das maiores mostras de arte contemporânea do mundo, e essa conexão com a Motiva amplia o acesso e a circulação de pessoas e ideias”.

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