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O brasileiro que desafiou a guerra ao terror dos EUA

Em pleno governo Bush, José Maurício Bustani tentou usar a diplomacia para evitar uma guerra. Ele foi impedido de avançar nas negociações de desarmamento, mas sua história virou símbolo de resistência

Com a missão de evitar a proliferação de armas químicas no mundo, José Maurício Bustani  negociou a eliminação desses arsenais no Iraque / Foto: Divulgação

Com a missão de evitar a proliferação de armas químicas no mundo, José Maurício Bustani  negociou a eliminação desses arsenais no Iraque / Foto: Divulgação


Por Redação

em 21 de outubro de 2025

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Pouco mais de 20 anos atrás, um diplomata brasileiro ousou desafiar a lógica da expansão de poder através da guerra e da destruição. Com um programa estrategicamente batizado de “Guerra ao Terror” – lançado pelos EUA após os atentados de 11 de setembro de 2001 –, o país usou o combate ao terrorismo como pretexto para intervir militarmente em países como o Iraque, importante alvo de interesses econômicos e estratégicos, incluindo petróleo e influência regional.

À época Diretor-Geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), o embaixador José Bustani acreditava que transparência e diálogo podiam substituir bombas, invasões e mortes de inocentes. Com esse objetivo, ele negociou com o Iraque para que o país aderisse à Convenção sobre Armas Químicas, que obriga as nações a eliminar arsenais de substâncias tóxicas que podem matar ou incapacitar em grande escala.

Com a missão de evitar a proliferação de armas químicas no mundo, José Maurício Bustani  negociou a eliminação desses arsenais no Iraque / Foto: Divulgação
Com a missão de evitar a proliferação de armas químicas no mundo, José Maurício Bustani  negociou a eliminação desses arsenais no Iraque / Foto: Divulgação

Se o Iraque aceitasse, inspetores independentes da OPAQ poderiam comprovar a inexistência dessas armas no território, o que enfraqueceria um dos principais argumentos dos Estados Unidos para deflagrarem a guerra que causou centenas de milhares de mortes de 2003 a 2010 – sendo cerca de 5 mil soldados norte-americanos e algo entre 200 e 600 mil cidadãos iraquianos.

Quando as negociações para o desarmamento químico do Iraque estavam avançando, o governo Bush pressionou para que Bustani renunciasse. Ele recusou, mas os EUA deflagraram uma campanha para derrubá-lo, ameaçando não só retirar o financiamento da organização, mas também a sua segurança pessoal e de sua família.

Em 2002, sem contar com nenhum apoio do governo brasileiro de FHC, Bustani acabou destituído do cargo por decisão política sustentada pelos interesses econômicos de grandes corporações. No entanto, em reconhecimento à sua coragem e ao seu trabalho pelo desarmamento químico e pela paz, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2003 e se tornou uma das vozes mais respeitadas da diplomacia global.

Trip no Festival Path

Nesta quinta-feira (23), às 11h, o fundador e editor da Trip Paulo Lima entrevista José Maurício Bustani no Festival Path. Eles discutirão temas como ética versus poder, liderança, coragem e disputas políticas em todos os tipos de organizações, incluindo famílias, empresas e governos e se devemos ou não ter esperanças num futuro razoável para a humanidade.

Os ingressos para o evento estão disponíveis aqui.

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