por Carol Ito

Colocamos uma lupa nos valores e pessoas que inspiram o Prêmio Trip Transformadores

Há 13 anos, o Trip Transformadores reconhece pessoas que, com seu trabalho, ideias e iniciativas de grande impacto ou originalidade, ajudam a promover o avanço do coletivo. "Buscamos uma alternativa ao modo de vida individualista, que valoriza poder e conquista antes de tudo", afirma o editor e fundador da Trip Paulo Lima. "O prêmio existe para celebrar pessoas que descobriram maneiras mais inteligentes e generosas de gastar seu tempo nesta breve passagem por este planeta".

Para nos ajudar a encontrar as melhores histórias, contamos com uma rede de pessoas que conhecemos ao longo de 32 anos de Trip, além de especialistas de diversas áreas e homenageados de edições anteriores. Felizmente, nos deparamos, a cada ano, com incontáveis opções e a escolha dos 10 nomes que personificam esses valores não é nada fácil.

Aqui, lembramos algumas figuras marcantes da história do prêmio para tentar clarear critérios, um tanto subjetivos, mas que traduzem o nosso jeito de olhar o mundo, usados em nosso processo seletivo.

 

Além dos holofotes

Entrevistamos algumas das celebridades mais interessantes do país ao longo dos 32 anos de Trip e homenageamos aquelas que usam sua visibilidade para reverberar causas importantes.

Nem todo mundo sabe, mas, além de ator, diretor, apresentador e escritor, Lázaro Ramos é também embaixador da Unicef e cumpre uma agenda movimentada promovendo temas ligados à educação e à infância. “Eu me sinto como qualquer cidadão, que pode participar e fazer a diferença”, disse ele, durante a cerimônia de premiação, em 2018. Já a cantora Daniela Mercury, transformou sua declaração de amor em ato político ao anunciar seu casamento com a jornalista Malu Verçosa, em 2013. "Sofrer preconceito é como ser enterrado vivo, mas desde pequena eu luto para dar visibilidade aos invisíveis", disse a cantora ao ser homenageada.

Eu sou porque nós somos

Há homenageados que ajudam a evidenciar, de forma muito clara, a ideia de que só vai ficar bom para alguém quando estiver bom para todo mundo e transformam uma luta individual em luta coletiva.

É o caso de Katiele Fischer, que recebeu o prêmio em 2015. Ela ficou conhecida por sua luta para legalizar a importação do canabidiol, um óleo derivado da maconha capaz de conter as crises epiléticas da filha, Anny, portadora de um problema genético raro. Através de sua luta, conseguiu tirar o CBD da lista das substâncias proibidas da Anvisa, o que favoreceu milhares de pessoas que enfrentam doenças desse tipo no Brasil. "Hoje é um dia duplamente especial, primeiro por esse prêmio, e também porque hoje completa 2 anos que dei a primeira dose de CBD para minha filha", disse no palco da cerimônia de premiação.  

Transformação profunda

É preciso uma dose extra de coragem para lutar contra os problemas enraizados na cultura brasileira e as instituições que os alimentam. Por isso, homenageamos pessoas que toparam o desafio de transformar as engrenagens de um sistema injusto e violento.

 Com uma trajetória de mais de 20 anos dedicados à militância pelos direitos humanos, o então deputado estadual Marcelo Freixo foi um dos homenageados de 2013, por sua luta no enfrentamento  de um dos maiores e mais temidos problemas do país: o crime organizado. Com a CPI das Mílicias, que investigou o tráfico de armas, ele denunciou fraudes que levaram à cassação de outros parlamentares e aprovou um projeto de lei de combate à tortura.

Teve também o Valdeci Ferreira, que dedicou a vida ao trabalho na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), um revolucionário e bem sucedido modelo prisional, que aposta em estabelecer uma relação de confiança com os detentos e dá a chave das celas em suas mãos. “É impossível esquecer, mas é possível perdoar”, disse, lembrando Mandela, durante a entrega do prêmio, em 2018.

 

Humanizar é preciso

Quem consegue desenvolver um jeito mais humano de lidar com as questões do mundo é sempre digno de homenagens.

Com o objetivo de aliviar o sofrimento de quem lida com a chegada da morte, a médica Ana Claudia Arantes criou a Casa do Cuidar, que oferece cuidados paliativos e apoio psicológico para familiares, além de cursos para que cuidadores, médicos e outros profissionais de saúde sejam mais empáticos durante o tratamento. “O Brasil que a gente quer ver é o que pratica a compaixão. É o caminho mais transformador”, disse, ao receber o prêmio em 2017.

 

Novas soluções para velhos problemas

O Brasil enfrenta problemas estruturais tão complexos, que parecem não ter solução. Felizmente, há sempre alguém disposto a usar a criatividade para fazer a diferença.

Thomaz Srougi, por exemplo, resolveu encarar de frente a enorme demanda negligenciada pelo sistema público de saúde e criou o Dr. Consulta, serviço médico de atendimento básico particular a preços populares. “Empresas sociais impactam a sociedade na medida em que trazem soluções que o governo e as ONGs não foram capazes de prover”, disse em 2011.

 

Ideias que transformam

Em tempos de intolerância e falta de empatia, homenageamos pessoas que se dedicam a apontar caminhos para a transformação. Sueli Carneiro, uma das criadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra,  primeira organização negra e feminista independente de São Paulo, é uma delas. Homenageada em 2018 por sua contribuição para o resgate da identidade e autoestima da mulher negra, ela disse: “Essa homenagem renova em mim a ideia de que conviver é possível. Conviver com as nossas diferentes orientações sexuais e com diversas convicções religiosas”.

Desde os anos 90, Monja Coen espalha uma mensagem de paz e justiça a todos os seres vivos que habitam nosso planeta. A fundadora da comunidade Zen Budista, em São Paulo, usou uma frase de Mahatma Gandhi para resumir ser trabalho, durante a premiação, em 2008: “Temos que ser a transformação que queremos no mundo”.

Volta por cima

Homenageamos pessoas que transformaram o sofrimento e as adversidades em combustível para seguir em frente e se tornaram exemplos da capacidade de resiliência do ser humano.

Um dos momentos mais emocionantes da história do prêmio foi protagonizado pela judoca Rafaela Silva, em 2017, que não conseguiu evitar as lágrimas ao lembrar de sua trajetória. Nascida na Cidade de Deus, periferia do Rio de Janeiro, ela era a grande aposta brasileira na Olimpíada de Londres, em 2012, mas foi desclassificada em uma etapa preliminar da competição. Vítima de violentos ataques racistas que quase a fizeram abandonar o esporte, ela superou o trauma e se tornou a única mulher brasileira campeã mundial e olímpica de judô. Ao receber o troféu Trip Transformadores das mãos de seu treinador, ela agradeceu:  “Ele acreditou no meu potencial e nunca me deixou desistir”.

Ciência e tecnologia a serviço da transformação

O rápido avanço tecnológico pode contribuir para solucionar grandes problemas da humanidade, mas isso só será possível se, por trás da inovação, existir o olhar humano e a vontade de transformar. Por isso homenageamos na última edição Luiz Chacon Filho, criador da SuperBac. A empresa é pioneira no Brasil na utilização de bactérias para a criação de soluções ambientais, como, por exemplo, a despoluição de rios. "Meu único propósito foi utilizar a inteligência da própria natureza para transformar os processos produtivos, provando que podemos fazer negócios e, ao mesmo tempo, respeitar o meio ambiente", disse.

 

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