A saga do manauara de 22 anos que conquistou 10 milhões de seguidores nas redes sociais com vídeos de limpeza
Vídeos de limpeza não são exatamente uma novidade na internet – e os influenciadores que surfam essa onda têm um rótulo só para eles: cleanfluencers. O manauara Guilherme Gomes é um deles, mas é também muito mais do que isso. “As faxinas foram um propósito, um começo para transformar a vida de outras pessoas”, diz.
Ele chegou a ter uma empresa com vinte funcionários, mas largou o empreendimento e passou a usar sua força na internet para limpar, de graça, a casa de acumuladores compulsivos. As empreitadas, que chegam a ter mais de dez voluntários, devolvem a dignidade a pessoas que vivem em meio ao lixo e pilhas de objetos que há muito perderam o sentido.
No Trip FM, o jovem de 22 anos bate um papo com Paulo Lima sobre a sua trajetória, o preconceito contra a profissão, dinheiro, saúde mental e muito mais. O programa fica disponível no Spotify e no play aqui em cima.
Como foi a transição de empreendedor da faxina para os atendimentos a acumuladores?
Guilherme Gomes. A minha transição de empreendedor para influenciador não foi eu quem fiz, foi a internet. Sendo um menino jovem, fazendo limpeza, comecei a tirar das pessoas essa visão de que faxina é uma profissão ruim. A faxina mudou a minha vida financeiramente e a força da internet mudou a minha vida da água para o vinho. Atender os acumuladores foi uma forma de agradecer tudo o que a faxina fez por mim. Hoje, eu não cobro um centavo para fazer esse serviço. É uma forma de gratidão por tudo o que eu já conquistei.
E o que você mostra com esse trabalho? Era comum falar que a depressão era falta do que fazer, falta de Deus, seja lá o que for. Eu mostro pessoas que vivem em situação de acumulação, no meio do lixo, em situações difíceis de acreditar. Mas eu mostro também que elas são pessoas com uma história que precisa ser ouvida, como foi que elas chegaram ali. É a vida real.
E isso geralmente traz um resultado positivo? Limpar a casa de um acumulador faz com que a pessoa volte ao seu passado, a como ela era antes. A nossa casa é um reflexo de nós mesmos: um lar bagunçado mostra, muitas vezes, uma vida bagunçada. O que eu faço é tirar a pessoa daquela vida – e é uma responsabilidade muito grande. No começo eu queria fazer tudo e ajudar todo mundo. Isso me custou um pouco da minha saúde, com muita ansiedade. Aquele comentário ruim no meio de mil coisas boas me destruía.
Você sente um preconceito em relação à profissão de faxineiro? O preconceito contra o faxineiro tem diminuído. A internet trouxe essa oportunidade, mas eu sei que ali é também um mundo sem lei, com muito conteúdo que não agrega à vida de ninguém, pessoas ficando ricas, com muito dinheiro, enquanto os fãs ficam ali só assistindo elas esbanjando. Se não fosse a internet, minha vida não teria mudado. Abri mão de muita coisa, sofri, cheguei a passar tempo doente, com milhões de pessoas colocando o meu caráter em xeque, mas a internet mudou a minha vida. É só saber usar.
Créditos
Imagem principal: Divulgação