por Anita Pompeu

Homenageado pelo Trip Transformadores 2018, Lázaro Ramos atua em campanhas relacionadas à educação

Lázaro Ramos é um cara que todo mundo conhece. Foi Foguinho, na novela Cobras & lagartos (2006), interpretação que lhe rendeu indicação ao Emmy de melhor ator, é Brau, na série Mister Brau. Viveu Martin Luther King, em O topo da montanha (2015), que dirigiu e levou mais de 100 mil pessoas ao teatro. No cinema, estrelou Madame Satã (2002), O homem que copiava (2003) e Meu tio matou um cara (2004). É autor do livro Na minha pele (2017), que ficou entre os mais vendidos de não ficção ano passado, e de dois infantis, O caderno de rimas de João (2015) e Caderno sem rimas da Maria (2018). É roteirista e apresentador há 13 anos do programa Espelho, no Canal Brasil, para o qual já entrevistou mais de 300 nomes, de Caetano Veloso a Marília Gabriela. É marido de Taís Araújo, pai de João Vicente e Maria Antônia, entre tantos outros apostos. Todo mundo conhece Lázaro Ramos.

Na cidade de São Francisco do Conde, a uma hora de Salvador (BA), no píer de onde saem as embarcações que vão para as ilhas próximas, Lázaro, 39 anos, posa para fotos, enquanto caminha, ao lado da mulher, dos dois filhos, de uma assistente, do pai e da madrasta. Quem o identifica pede selfie. O destino era a Ilha do Paty, onde estão suas raízes. Seu pai, Ivan, nasceu nessa ilhota, cuja população hoje é de 152 pessoas – todas praticamente da mesma família. A pauta era educação, e a intenção de Lázaro era mostrar as suas origens, a sua família, revisitar o seu passado. Achou que faria sentido falar de educação e do seu profundo comprometimento com o assunto, voltando ao seu passado, territorial e afetivo.

No caminho de barco até a ilha, contou sobre os projetos que toca atualmente, como o espetáculo musical Viagens da caixa mágica, inspirado em seus dois livros infantis, em que atua e dirige, e o Ler é Poder, programa que fundou com a prima Rosania Amorim, em 2007, de ações de incentivo à leitura por meio de ampliação e modernização de bibliotecas públicas. Esse, sim, um Lázaro que o grande público desconhece. Todo esse envolvimento rendeu a ele, em 2009, o título de embaixador da Unicef e uma movimentada agenda de compromissos relacionados à educação e infância.

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Nessa trajetória, o ator passou a ter muito prazer em visitar escolas e conversar com os alunos. Na semana anterior a esta entrevista, ele havia visitado dois colégios. “O bacana é que essas conversas nunca são simples. É um encontro em que a gente consegue tratar assuntos de forma mais complexa. E dá muita esperança e motivação ver que os jovens estão prontos para uma narrativa em que não ficamos declamando certezas... Nessas conversas, falo também muito sobre a importância da escuta”, explica, um pouco antes de ancorarmos na ilha e sermos recebidos por Marquinhos, um parente que faz as vezes de cicerone para os visitantes que ali chegam.

Caminhando pelas poucas ruas que compõem Paty e por suas raízes, revendo e cumprimentando seus familiares nem tão distantes, Lázaro passeia também por sua história. O que ele teve que outros jovens não tiveram? “Tive muito acolhimento nas minhas dúvidas e pessoas dispostas a responder as minhas inquietações. Acolhimento nos meus momentos de tristeza e celebração nos meus momentos de vitória para eu continuar a seguir. E isso foi composto por pessoas que encontrei na vida, sejam professores, seja Dindinha [uma tia, com quem viveu durante muitos anos de sua vida], seja dentro da minha casa. A sensação de estar só passava pela minha cabeça, mas se diluía rapidamente a cada encontro. Pertencia a algum lugar, a um grupo, tinha escuta, tinha carinho. Tinha respostas.”

Palco antigo
É hora de voltar para Salvador, mais precisamente para o teatro Vila Velha, revisitar um pouco mais do passado de Lazinho, agora como integrante do Bando de Teatro Olodum, onde ele ingressou em 1994, e sobre o qual acaba de lançar o documentário Bando, um filme de:. A trupe é conhecida por sua militância negra e por peças como Ó, paí, ó!, que virou filme homônimo em 2007 dirigido por Monique Gardenberg, além de seriado exibida pela TV Globo no ano seguinte, que contaram com Lázaro no elenco. “O Bando me deu as primeiras orientações de como ser ator, me profissionalizar e me ensinou que, além de entreter, eu poderia também levar mensagens de transformação. Lá estão os meus primeiros ídolos. E a relação que a gente tem é familiar, mistura muito carinho e admiração de um pelo outro, e também muita valorização, pois a gente sabe da importância desse grupo.”

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Cercado pelos antigos companheiros da trupe, a conversa continua. O bate-papo segue um rumo orgânico, que dá norte, contorno e sentido a tudo o que foi conversado naquele dia. “Acho que duas palavras definem o trabalho que a gente faz: acolhimento e aprendizado. E isso vem de uma ancestralidade, uma cultura, uma herança que trazemos para reverberar”, sintetiza uma atriz, que resume como o Bando e seu legítimo representante Lázaro entendem educação, com “e” maiúsculo: origem, passado, identidade, acolhimento, escuta e arte como um potente canal de aprendizado e profunda transformação.

Créditos

Imagem principal: Mario Ladeira

Fotos Mario Ladeira

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