World Bike Tour SP

por Luiz Filipe Tavares

Evento de cicloativismo traz primeiro show do Brasil com energia gerada por por pedaladas

No mês de janeiro, São Paulo recebe mais uma edição da World Bike Tour, evento de ciclismo e cicloativismo que toma conta da cidade com uma ampla programação sobre duas rodas. E a cereja do bolo é o World Bike Show, um show especial da banda Fresno na Arena de Eventos do Parque Ibirapuera, uma apresentação com impacto ambiental reduzido e energia gerada através de pedaladas.

Na programação, palestras, bicicletadas, oficinas, esportes sobre duas rodas, exposição de artes e atividades para as crianças. Tudo em nome da mudança de mentalidade das pessoas sobre mobilidade urbana, um dos assuntos mais quentes da política social nos últimos anos.

Sobre o evento, conversamos com Lucas Silveira, gaúcho vocalista da banda Fresno que vive em São Paulo desde 2006 e idealizador do show movido a pedaladas. Na entrevista, ele falou sobre a importância da bicicleta nesta década, as mudanças necessárias para o trânsito da cidade e a iniciativa de fazer esse show.

Antes de mais nada, como surgiu a ideia de fazer um show movido a pedaladas?
Quem me conhece sabe: sou cicloativista, faço todos os meus trajetos possíveis em São Paulo e em outras cidades a bordo da minha bicicleta e defendo veementemente os direitos dos ciclistas e maior conscientização em torno dos meios alternativos - e mais saudáveis - de transporte. Eu passei boa parte do ano passado pensando em alguma maneira de fazer um show, ou uma série de shows, que não fossem simples apresentações da nossa banda. Queria pensar em algo que fosse ao mesmo tempo inspirador, inovador e que chamasse a atenção de todos.

Como surgiu o convite para participar do World Bike Tour?
Um dia, passando em frente ao stand 'Volta Ao Mundo', que é uma estrutura sustentável do World Bike Tour e que tem energia geradas pelas pedaladas de algumas bicicletas ergométricas, veio-me a faísca do que iria tornar-se o World Bike Show. Entrei em contato com o Diamantino do World Bike Tour, que já é um evento consagrado não só em São Paulo, como no Rio, Brasília e outras cidades do mundo, e ele adorou a ideia, fazendo com que déssemos o pontapé inicial nessa empreitada.

Você tem ideia de quanta energia é preciso para fazer rolar um show da Fresno?
Um show padrão precisa de algo em torno de 200KvA's de energia elétrica para garantir força aos equipamentos de palco, sistema de P.A e o jogo de luzes. No entanto, para viabilizar o World Bike Show a gente teve que cortar muitas coisas, para que o impacto ambiental fosse mínimo. Ainda não chegamos ao ponto de garantir que a totalidade da energia dispendida no show seja fornecida pelas bikes pois não conseguimos patrocínio suficiente para incrementar o sistema, que utiliza uma tecnologia importada que custa muito caro. No entanto, o plano é que na próxima edição do World Bike Show, no Rio de Janeiro, já consigamos ter sustentabilidade plena. É um trabalho em andamento que pode crescer muito ainda. O World Bike Show, na minha utopia, seria colocar umas duzentas bicicletas a serviço do show e ter energia criada em tempo real, numa coisa jamais vista antes. Nada que seja impossível caso alguma empresa grande compre a ideia.

Você é um cara que gosta de pedalar e é bastante envolvido com o cicloativismo. Com qual frequência você anda de bike em SP?
Eu uso a bicicleta diariamente para pequenos trajetos mas, sempre que possível, procuro participar de passeios coletivos, como o Fixed Gear Monday Night Ride, que é um passeio forte, no qual a maioria das bicicletas utiliza pinhão fixo de velocidade única, assim como nas bikes utilizadas no ciclismo olímpico de pista. É uma modalidade bem diferente, que oferece adrenalina extra, além de uma relação diferente com o meio de transporte e que é cada vez mais comum nas grandes cidades do mundo, além de uma tendência crescente em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

 

"A mudança precisa acontecer muito mais na cabeça das pessoas do que na malha viária"

 

Em 2010 aquele atropelamento coletivo da bicicletada da Massa Crítica em Porto Alegre mudou o tom do debate sobre mobilidade urbana no país. Dois anos depois, Já deu pra sentir alguma mudança no comportamento de ciclistas e motoristas?
Porto Alegre é uma cidade em que a prefeitura está trabalhando bastante - às vezes até de forma apressada (e impensada) demais - para viabilizar cada vez mais o trânsito de ciclistas. No entanto, ainda existe no Brasil a mentalidade de dar cada vez mais espaço para os carros, o que, no mundo inteiro, já revelou-se como um contra-senso. O espaço a ser ampliado tem que ser o dos meios alternativos, pois somente assim a população sente-se incentivada a testar um novo estilo de vida. Em Nova York o prefeito simplesmente deu uma faixa de todas as já instransitáveis ruas para bicicletas, skates e similares. O que parecia, em primeira avaliação uma burrice, transformou-se num incentivo e hoje Manhattan tem um fluxo enorme de ciclistas, patinadores, skatistas e todo tipo pessoas utilizando meios não-poluentes de locomoção, adotando estilo de vida mais saudável e alegrando seus próprios dias.


Qual deveria ser o próximo passo em São Paulo para melhorar a vida de quem usa a bicicleta como meio de transporte na cidade?
As cidades estão paradas. Está cada vez mais impossível locomover-se de carro pelas ruas e avenidas de inúmeras cidades brasileiras. Obras estruturais e ampliações de grandes avenidas mostraram-se incapazes de reduzir os engarrafamentos, ao passo que a crescente popularização dos carros traga todos os dias milhares de veículos novos para as nossas ruas. A mudança precisa acontecer muito mais na cabeça das pessoas do que na malha viária. Não digo que as pessoas tenham que fazer trajetos de 50km de bicicleta, como os que eu faço às vezes. Mas não custa nada você pegar a bike para ir ali na padaria, ou para aproveitar o caminho até a academia para ir aquecendo as pernas. Existem muitas coisas que podem ser feitas de bicicletas, mas isso muitas vezes nem passa pela cabeça das pessoas. Quanto ao comportamento no trânsito, as cidades encontram-se em momentos diferentes. Em São Paulo, onde o movimento cicloativista já possui mais tempo de atividade, eu percebo que nós ciclistas somos mais visíveis no trânsito, existe um maior respeito. No entanto, a infinidade de vias arteriais de alta velocidade que cortam a cidade por todos os lados torna impossível alguns trajetos mais extensos sem uma ciclovia paralela. Mas eu vejo progressos em todas as cidades.

Quais são seus lugares favoritos para andar de bicicleta e os lugares onde você não pedala de jeito nenhum?
Meu lugar favorito para pedalar atualmente é a Ciclovia do Rio Pinheiros, que, apesar dos quebra-molas, é um dos melhores lugares para se praticar o ciclismo como esporte. Onde eu não pedalo de jeito nenhum é na Marginal Tietê e na Rodovia Ayrton Senna, onde, numa tarde de domingo, já fui atingido por um carro em alta velocidade que estava ultrapassando o tráfego pelo acostamento e não me viu. Não sofri nenhum ferimento sério, mas foi por uma questão de centímetros.

Vai lá: World Bike Show apresenta Fresno
Quando: sábado, 19/01, às 16h
Onde: Arena de Eventos do Ibirapuera - Parque Ibirapuera, Portão 10 (Museu Afro-Brasileiro)
Quanto: 1kg de alimento
Ingressos: no local

World Bike Tour: Programação

Road Show
Data: até 20 de Janeiro (Finais de Semana)
Horário: 10h às 18h
O Road Show World Bike Tour promoverá aulas de "spinning", teste drive de bicicletas comuns e adaptadas. Ciclistas poderão aprender a utilizar corretamente a bicicleta como meio de transporte em meio ao tráfego de intenso.
Itinerário: 19 de janeiro - Estádio do Pacaembu

Bicicleta Gigante
Data: até 25 de Janeiro
Horário: Exposição Permanente
Local: Estacionamento da Globo São Paulo (7 a 25 de Janeiro)

Volta ao Mundo
Data: até 24 de Janeiro (Diariamente)
Horário: 10h às 18h
Local: Parque Ibirapuera
Os ciclistas produzirão energia elétrica ao pedalar em 12 bicicletas instaladas no Parque do Ibirapuera. A cada mil quilômetros percorridos, uma árvore é devolvida à cidade.

Kids
Data: 20 de Janeiro
Horário: 9h
Local: Estádio Pacaembu
Crianças carentes de 2 a 11 anos de idade, na maioria provenientes de instituições de apoio à criança, ganharão um kit World Bike Tour.

Feira
Data: 21 a 24 de Janeiro
Horário: 10h às 20h
Local: Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP)
Durante o evento, participantes fazem a retirada do kit do World Bike Tour.

Passeio Ciclístico WBT
Data: 25 de Janeiro
Horário: 9h
Local Partida: Ponte Octávio Frias de Oliveira (Ponte Estaiada)
Local de Chegada: Velódromo da USP

WBT e Arte juntos por uma causa
Obra do artista plástico Gustavo Rosa será colocada a leilão. Os fundos também serão revertidos para o “Criança Esperança”

www.worldbiketour.net
www.facebook.com/WorldBikeTour

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