O ator e diretor fala sobre o trabalho humanitário de Sérgio Vieira de Mello, que interpreta em filme que produziu, e sobre os efeitos da crise global
Depois de interpretar o narcotraficante Pablo Escobar, em Narcos, e antes da estreia na direção do longa Marighella, sobre o guerrilheiro brasileiro, Wagner Moura vive o diplomata Sérgio Vieira de Mello, ex-alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (posto mais alto já ocupado por um brasileiro na ONU), em Sergio, filme que chega ao Netflix nesta sexta-feira, depois da estreia no Festival Sundance, neste ano.
O diplomata brasileiro foi morto em um ataque terrorista promovido pela Al Qaeda, em 2003, enquanto chefiava a missão da ONU no Iraque, após a invasão americana – a qual ele tinha diversas restrições – e a queda de Saddam Hussein, como lembra o filme, dirigido por Greg Baker e produzido por Wagner, que interpreta seu primeiro protagonista em inglês.
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Após Narcos, o ator buscava comprar os direitos da biografia do diplomata, O Homem Que Queria Salvar o Mundo, escrito por Samantha Power (ex-embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas), quando descobriu que eles haviam sido adquiridos por Baker e que já havia um projeto de filme. O ex-jornalista e correspondente de guerra americano dirigiu Sergio (2009), documentário sobre o diplomata, Manhunt: The Inside Story of the Hunt for Bin Laden (2013), sobre a caçada ao terrorista, e The Final Year (2017), sobre a equipe de política externa de Barack Obama (que incluiu Samantha), no último ano de mandato do ex-presidente. Com Sergio, Baker faz sua estreia na ficção. “A gente resolveu se juntar. Conversei com o Greg e percebemos que queríamos fazer o filme pelas mesmas razões, a gente vê o mundo de forma parecida. E foi ótimo”, conta Wagner por telefone, de Los Angeles, onde mora com a família e segue em quarentena, entre um pouco de meditação e skypes com amigos pelo mundo.
Filho de diplomata, Sergio participou, ainda estudante, dos protestos de 1968, em Paris. Durante sua carreira de mais de três décadas na ONU, sempre valorizou o trabalho em campo, o que fez em conflitos na Bósnia, Ruanda e Sudão, entre outras partes do mundo. O filme mostra sua missão de maior destaque, no Timor-Leste, em que ajudou a construir um novo governo, depois de duas décadas de ocupação pela Indonésia. Também foca no relacionamento com a economista argentina Carolina Larriera (interpretada no filme por Ana de Armas, de Blade Runner 2049), ex-funcionária da ONU, que acompanhou Sergio em Bagdá e sobreviveu ao mesmo ataque que o vitimou.
“O coronavírus expôs a fragilidade da maioria dos líderes mundiais”
Wagner Moura
Neste momento de crise global, em que a pandemia atinge com ainda mais força os mais pobres, é fácil se perguntar sobre qual seria a atuação de Sérgio, depois de assistir ao filme. “Certamente, ele estaria lutando para conseguir mitigar os efeitos da crise nas populações mais vulneráveis, tanto as vítimas da doença quanto as que vão sofrer as consequências do desemprego, da recessão mundial”, responde Wagner. “O coronavírus expôs a fragilidade da maioria dos líderes mundiais, da ausência pragmática de tomada de atitudes e de conseguir prever o que iria acontecer. Muitos dos grande líderes negaram, diminuíram o tamanho do problema. E o Sérgio é oposto: pragmático, negociador, especialista em geopolítica. Era um cara muito guiado por valores elevados. Tudo se resumiria na palavra empatia. É um filme sobre empatia.”
“Gosto de fazer filmes que façam eu aprender coisas que não sei”
Wagner Moura
Os mais recentes trabalhos de Wagner – Escobar, em Narcos, a direção de Marighella (que estrearia no próximo mês), Wasp Network, suspense do francês Olivier Assayas, exibido apenas em festivais no Brasil, e baseado em Os últimos soldados da Guerra Fria: A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita dos Estados Unidos, livro de Fernando Morais, além do filme sobre o diplomata brasileiro – podem sugerir um caminho político para a carreira de Wagner.
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“É muito mais natural do que consciente. Meu interesse vai naturalmente para coisas que eu gosto. Sou um militante de direitos humanos [o ator foi nomeado pela Organização Internacional do Trabalho da ONU para trabalhar com a agência para o fim do trabalho forçado em todo o mundo]. Então, é muito natural fazer um filme como Sergio”, diz. “Mas não fecho a minha carreira em nada. Gosto de fazer filmes que façam eu aprender coisas que não sei, que me façam melhorar como ser humano. Faço primeiro para mim. Se fizer sentido para mim, acho que pode fazer sentido para outras pessoas.”
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