As recomendações da familiares e conhecidos ganham força na internet e resgatam a importância de ”pessoas reais” em detrimento das fórmulas matemáticas
POR RONALDO LEMOS*
Que o Google mudou o perfi l de como se acessa a internet todo mundo já sabe. Por exemplo, o conceito de portal, muito em voga nos anos 90, hoje significa muito pouco. A idéia dos portais era que os usuários entrariam em sites através da porta da frente. A página inicial funcionaria como uma espécie de “índice”, a partir do qual os visitantes se dirigiriam aos seus respectivos conteúdos de interesse.
Hoje qualquer blogueiro sabe que a maioria absoluta dos visitantes vem pela “porta dos fundos”. Em outras palavras, chegam pelo Google, que aponta diretamente para o conteúdo procurado, na maioria das vezes situado “dentro” do site. Nesse contexto, a página principal tem pouca importância. É como se a página inicial da maior parte dos sites fosse hoje o próprio Google.
Isso alterou a própria arquitetura da rede. Sites monolíticos como o New York Times perceberam que estavam perdendo feio em visibilidade para outros sites descentralizados como a Wikipedia. A razão era o fato de o conteúdo do primeiro ser “fechado”, ou seja, todo o peso do site concentrava-se em sua página inicial e o restante era trancado por senha (e por isso não indexado pelo Google). Ao perceber que um número enorme de visitantes não acessava o site por conta disso, o New York Times decidiu abrir todo o conteúdo, que agora pode ser acessado e indexado livremente. Foi a solução encontrada para resgatar a relevância do site no tempo em que a maior parte das visitas dependia da busca.
GOOGLE AMEAÇADO
Tudo caminhava assim, até que algo novo aconteceu: o fenômeno dos vídeos online. Além de colocar em jogo a cadeia de produção e distribuição do audiovisual, os vídeos online colocam em xeque também o próprio status dominante das buscas na internet. Uma pesquisa recente realizada nos EUA apontou que apenas 33% dos vídeos online são acessados através dos buscadores (leia-se o Google) e 55% dos vídeos são acessados através de links presentes em outros sites. Surpreendentemente, 10% dos vídeos são acessados graças a referências em revistas e jornais (sim, de papel!). Ou seja, o Google deixou de ser a “página inicial”, ao menos no que diz respeito ao vídeo na rede. O dado mais importante da pesquisa, no entanto, é que 32% dos vídeos na internet são acessados por recomendação de amigos ou familiares. Em outras palavras, praticamente o mesmo número de acessos gerados pelos buscadores.
A conseqüência é uma verdadeira efervescência no mercado para tentar capturar esse poder de amigos e familiares funcionarem como uma nova fonte de referência para a rede. Tal fenômeno resgata, de certa forma, a importância de “pessoas reais” na organização do conteúdo da rede, em detrimento de fórmulas matemáticas “frias”. O que está acontecendo com relação aos vídeos online, em que os buscadores perdem importância, pode ser o prenúncio de uma mudança maior na arquitetura dos caminhos da informação na rede.
Os exemplos não faltam. O fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, lançou há pouco tempo o Wikiasearch, um buscador que tem como lema “fazer com que os usuários – e não os computadores – possam ditar o futuro das buscas”. Há ainda sites como o FriendFeed, que permite compartilhar com amigos escolhidos o que você tem visto, ouvido, lido ou acessado na rede. Em síntese, o próprio Google já está se adaptando a essas progressivas mudanças (criou o projeto Knol, que compete com a Wikipedia, e acabou de anunciar que vai lançar também um navegador, para competir com o Firefox e o Internet Explorer).
Em qualquer caso, quem conseguir capturar o poder dos “amigos” como referência para a informação na rede pode contar com um caminho seguro a trilhar, nem que seja por alguns anos.
*RONALDO LEMOS, 32, é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br
Que o Google mudou o perfi l de como se acessa a internet todo mundo já sabe. Por exemplo, o conceito de portal, muito em voga nos anos 90, hoje significa muito pouco. A idéia dos portais era que os usuários entrariam em sites através da porta da frente. A página inicial funcionaria como uma espécie de “índice”, a partir do qual os visitantes se dirigiriam aos seus respectivos conteúdos de interesse.
Hoje qualquer blogueiro sabe que a maioria absoluta dos visitantes vem pela “porta dos fundos”. Em outras palavras, chegam pelo Google, que aponta diretamente para o conteúdo procurado, na maioria das vezes situado “dentro” do site. Nesse contexto, a página principal tem pouca importância. É como se a página inicial da maior parte dos sites fosse hoje o próprio Google.
Isso alterou a própria arquitetura da rede. Sites monolíticos como o New York Times perceberam que estavam perdendo feio em visibilidade para outros sites descentralizados como a Wikipedia. A razão era o fato de o conteúdo do primeiro ser “fechado”, ou seja, todo o peso do site concentrava-se em sua página inicial e o restante era trancado por senha (e por isso não indexado pelo Google). Ao perceber que um número enorme de visitantes não acessava o site por conta disso, o New York Times decidiu abrir todo o conteúdo, que agora pode ser acessado e indexado livremente. Foi a solução encontrada para resgatar a relevância do site no tempo em que a maior parte das visitas dependia da busca.
GOOGLE AMEAÇADO
Tudo caminhava assim, até que algo novo aconteceu: o fenômeno dos vídeos online. Além de colocar em jogo a cadeia de produção e distribuição do audiovisual, os vídeos online colocam em xeque também o próprio status dominante das buscas na internet. Uma pesquisa recente realizada nos EUA apontou que apenas 33% dos vídeos online são acessados através dos buscadores (leia-se o Google) e 55% dos vídeos são acessados através de links presentes em outros sites. Surpreendentemente, 10% dos vídeos são acessados graças a referências em revistas e jornais (sim, de papel!). Ou seja, o Google deixou de ser a “página inicial”, ao menos no que diz respeito ao vídeo na rede. O dado mais importante da pesquisa, no entanto, é que 32% dos vídeos na internet são acessados por recomendação de amigos ou familiares. Em outras palavras, praticamente o mesmo número de acessos gerados pelos buscadores.
A conseqüência é uma verdadeira efervescência no mercado para tentar capturar esse poder de amigos e familiares funcionarem como uma nova fonte de referência para a rede. Tal fenômeno resgata, de certa forma, a importância de “pessoas reais” na organização do conteúdo da rede, em detrimento de fórmulas matemáticas “frias”. O que está acontecendo com relação aos vídeos online, em que os buscadores perdem importância, pode ser o prenúncio de uma mudança maior na arquitetura dos caminhos da informação na rede.
Os exemplos não faltam. O fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, lançou há pouco tempo o Wikiasearch, um buscador que tem como lema “fazer com que os usuários – e não os computadores – possam ditar o futuro das buscas”. Há ainda sites como o FriendFeed, que permite compartilhar com amigos escolhidos o que você tem visto, ouvido, lido ou acessado na rede. Em síntese, o próprio Google já está se adaptando a essas progressivas mudanças (criou o projeto Knol, que compete com a Wikipedia, e acabou de anunciar que vai lançar também um navegador, para competir com o Firefox e o Internet Explorer).
Em qualquer caso, quem conseguir capturar o poder dos “amigos” como referência para a informação na rede pode contar com um caminho seguro a trilhar, nem que seja por alguns anos.
*RONALDO LEMOS, 32, é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br