Sobre DNIT, CBF e Oslo

por Alê Youssef
Trip #202

Alê Youssef: ”O mundo da política institucional está completamente louco”

O mundo da política institucional está completamente louco. Vivemos um momento de impasse, que prejudica os cidadãos. Mas a sociedade civil começa a inventar novas formas de organização, longe de movimentos viciados.

Destrinchando os muitos problemas políticos recentes e as notícias que ocuparam os veículos de comunicação no último mês, podemos perceber que muitos dos assuntos debatidos têm alguma conexão, por mais distantes que possam parecer, e que o mundo e suas relações políticas – tal qual conhecemos – precisam de uma grande mudança.

Quando a presidente Dilma demitiu o ministro e toda a cúpula do Ministério dos Transportes passou um recibo claro de que o PR (Partido da República) está na base do governo para se beneficiar das verbas milionárias do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). A mesma lógica de aliados é adotada na relação entre o governo e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A diferença básica é que não rolou nenhuma tentativa de faxina e os contratos de construção de estádios para a Copa continuam crescendo e já contam com dinheiro e incentivo públicos sem precedentes.

Oras bolas, será que não era possível nos dias de hoje evitar esse tipo de barganha? Já não sabemos que figuras como Valdemar Costa Neto e seus aliados não são confiáveis? Alguém ainda acredita na honestidade de um tipo como o Ricardo Teixeira? O vale-tudo pela aliança que te garante o poder destrói a credibilidade da política.

Nos EUA os partidos democrata e republicano protagonizaram uma novela que assombrou a economia do mundo, com a impossibilidade de diálogo sobre a elevação do teto da dívida. O presidente Obama, que até agora demonstrou que ter boas ideias e representar o novo não significa nada na prática, não conseguiu dobrar os republicanos, que estão cada vez mais contaminados por um radicalismo de direita. E olha que Obama praticamente não fez nada que desagradasse o grande mercado, mesmo depois da crise econômica mundial. Todo o discurso de regulação de Wall Street virou um precário projeto que na prática muito pouco mudou. Seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e seu ex-assessor econômico e ex-secretário do governo Clinton Larry Summers não são figuras que possam representar mudanças concretas. Pelo contrário, sempre jogaram o jogo desregulado e maluco dos banqueiros.

Esse tipo de radicalização nas negociações gera o acirramento entre as partes e o surgimento de forças tenebrosas como o Tea Party, movimento ultraconservador, e faz quem sonhou com mudanças fugir do debate de que a política possa realmente melhorar nossas vidas. Esse clima de desesperança é território fértil para loucos como o atirador de Oslo, que, além de cometer uma barbaridade, se julga no direito de fazê-lo baseado em uma mentalidade tosca, preconceituosa e belicista.

O mundo da política institucional está completamente louco. As alianças partidárias são interesseiras e encobertam altos esquemas de corrupção. A impossibilidade de diálogo gera impasses que prejudicam os cidadãos. Movimentos ultrarradicais que representam o ódio crescem ameaçando as estruturas democráticas e potencializando ações de loucos.

Momento de impasse
O momento é de impasse, mas na contramão dessa loucura a sociedade civil começa a inventar novas formas de organização, longe da política institucional e dos movimentos viciados. São o que podemos chamar de núcleos vivos da sociedade, que por meio das redes sociais e das novas formas de comunicação começam a se mobilizar para fazer o bem. Atuam pontualmente, com suas marchas, twittaços e outras ações coletivas. Focam no bem- estar e na qualidade de vida e têm bandeiras transversais de cunho comportamental. É uma nova geração olhando para o mundo velho da política. É um sopro de esperança que pode virar um grande vendaval se for apoiado.

Para o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o mundo está grávido de outro mundo, bem diferente deste velho que parece ter chegado ao seu limite. Não vejo outra forma de mudar esse quadro cheio de vícios, senão de fora para dentro, de cima para baixo, dando força para esses admiráveis novos núcleos, que podem ser a cara do que virá.

* ALÊ YOUSSEF, 36, é sócio do Studio SP e um dos fundadores do site Overmundo. Foi coordenador de Juventude da prefeitura de SP (2001-04). Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br. Seu Twitter é @aleyoussef

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