Trip passou a Semana Santa acompanhando os passos do filho de Deus, que prefere ser chamado de Inri Cristo, em sua pequena igreja em Curitiba.

Ele está entre nós. Ausente do plano terrestre por quase dois milênios, Cristo voltou. Tem 56 anos, mora no Paraná, não faz sexo desde os 30 e é um homem de poucos sorrisos. O sobrenome é o mesmo, mas ele abandonou o prenome por ordem de seu Pai e adotou o que lhe foi dado por Pôncio Pilatos no dia do martírio: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Como fica muito grande, prefere a abreviação JNRJ, que em latim vira INRI, como foi fincada no topo da cruz romana. Desde a infância, Inri Cristo escuta a voz imperativa de Deus. Foi essa voz que o fez largar a escola assim que foi alfabetizado e abandonar o lar da família aos 13 anos para se tornar um poliglota teodidata (ensinado por Deus). Já foi padeiro, verdureiro, cobrador de ônibus. Em 1969 se tornou profeta de um “Deus desconhecido”, mas somente em 79, ao quebrar o nariz em uma queda enquanto jejuava em Santiago do Chile, Deus lhe falou que era ele seu primogênito, o mesmo Cristo crucificado no calvário.

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Não por coincidência, mas por obra divina, bastou girar a segunda letra de seu nome de batismo terreno, Iuri, para que se tornasse Inri, Inri Cristo. Vestiu a túnica e as sandálias, única roupa que usa até hoje, e começou a peregrinação. Falou ao povo em mais de 20 países, na Europa e em toda a América Latina. Queimou seus documentos, aglutinou multidões, invadiu igrejas, quebrou imagens, foi preso 28 vezes e deportado ao Brasil. Hoje leva sua palavra para pouquíssimos e seletos fiéis em sua igreja em Curitiba — onde vive de doações — ou viajando pelo país em seu confortável motor home. Conhecido no Brasil na década de 80 pelas escandalosas aparições televisivas, em que frequentemente era humilhado, ele se queixa fervorosamente da cruz que carrega nesta encarnação — o boicote que sofre da imprensa. “Coisa da Igreja meretriz romana, dos arcebestas do Brasil”, postula em seu sotaque estranho, resíduo do aramaico que falava nos arredores de Nazaré, em sua última encarnação. Então, escutai suas palavras, caros leitores. Plagiando a famosa e fatídica frase de Pilatos antes de lavar suas mãos: “Eis o Homem”.

Trip: O senhor é apenas filho de Deus ou também é Deus? Inri Cristo: Sou o primogênito de Deus, mas ninguém é obrigado a crer. E como primogênito digo que meu pai e eu somos uma só coisa, pois não tenho livre-arbítrio. Vivo só para seguir a vontade de meu Pai, e ele age através de mim. Eu e ele somos uma só coisa, mas na hora da crucificação, se você prestar atenção, teve um momento em que eu disse: “Pai, por que me abandonaste?”. Ora, se eu fosse Deus, não diria isso... E meu pai nunca aceitaria receber chicotadas, cuspe no rosto. Por outro lado eu disse, sem ser paradoxal, que quem me vê, vê meu Pai. É uma questão de raciocinar com honestidade intelectual. Me confundem com Deus pois sou seu primeiro filho. O réptil rastejante evoluiu, chegou a ser macaco e a primeira vez que esse ser deixou de ser macaco, fui eu: Adão. Deu pra entender?

O senhor foi Adão? E qual foi o pecado original? Também fui Moisés, Abraão, Davi e Noé. Mas Adão é uma palavra para definir o primeiro filho de Deus, poderia ser qualquer nome, o que importa é que sou eu o pai da humanidade. Deus, mesmo sabendo que eu não iria cumprir a ordem Dele, porque não tinha experiência, disse que eu não deveria comer do fruto da árvore da vida. Se comesse teria de arcar com as consequências — trabalhar, cuidar da prole... E a árvore da vida era o sexo. Fui tentado e acabei fornicando com a fêmea. Como consequência, fiquei responsável por toda a minha prole.

A culpa de tanto sofrimento nos tempos de hoje é do senhor?! Sim, por conta da minha desobediência é que tudo está errado. Mas me redimi na cruz. Meu castigo foi a crucificação, pois eu teria que voltar como juiz ilibado, que não deve para a lei.

Então o senhor veio para realizar o juízo final, o Apocalipse? Minha missão, como Cristo, é estabelecer o reino de Deus na Terra e cumprir o que está escrito no Apocalipse. Através da Soust (Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade), a minha nova e única igreja, devo formar um só rebanho com um só pastor — eu.

E quando acontecerá o Apocalipse? O dia e a hora nem os anjos sabem. Os sinais já estão acontecendo… Como já disse [levanta a voz]: guerra, rumores de guerra, reino contra reino, tempestade, terremoto, inundações, pestilências e fome são apenas o início das dores. Então vereis o sinal do filho do Homem. Alguns intelectualóides falam que sempre houve fome, terremotos, guerra. É verdade, só que nunca houve tudo na mesma época. Agora tu liga a televisão, vê tudo isso em um só jornal. Só falta a humanidade ver o rosto do filho do Homem com os cabelos brancos, como está previsto em Apocalipse 1:14. E, por enquanto, não estou totalmente grisalho.

O que o senhor achou do filme Paixão de Cristo, de Mel Gibson? É tudo verdadeiro? O diretor fantasiou muito no filme, mas aconteceu toda aquela violência. Violenta mesmo foi a ideia de, há 2000 anos, me chicotear, me bater tanto. Era só crucificar e pronto. Mas aquele sangue todo do filme é para dar bilheteria e saciar a sede de sangue do povo

VADE RETRO

Inri Cristo esculhamba personagens religiosos e alivia a barra do presidente Lula

Padre Quevedo - “Todo rei tem seu bobo da corte. Ele é o meu. Mas fora das câmeras é um vigarista simpático.”

Buda - “Ele foi um príncipe que percebeu que vivia em uma gaiola de ouro. Mas não é filho de Deus. Nenhum homem que morre de diarréia por comer carne de porco pode ser o iluminado.”

Marcelo Rossi - “O Morcego Rossi? É um bailarino gracioso.” [Risos.]

Lula - [Pensativo.] “O que posso dizer é que ninguém chega a ser presidente sem o consentimento de Deus, então há um propósito. Ele tem um bom coração, mas tenho certeza de que não vai cumprir o que prometeu.”

Créditos

Imagem principal: Bruno Torturra Nogueira

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