Causou surpresa a notícia de que os patrocinadores não deram resposta a uma idéia simples
Quando uma marca se aproxima dos 25 anos, é natural que tenha desenvolvido uma rede forte de relações e uma capacidade pelo menos razoável de atrair para perto pessoas e entidades que pensam de forma parecida. O tempo e o número grande de projetos levados a cabo com êxito vão solidificando as relações, na razão inversamente proporcional à necessidade de justificativas e argumentos para convencer os parceiros. A própria adesão de anunciantes importantes e numerosos às páginas de publicidade desta e de todas as edições da Trip atesta o fato.
Assim, causou alguma surpresa a notícia de que, para uma ideia simples e ao mesmo tempo urgente e absolutamente necessária, a resposta de patrocinadores tenha sido nenhuma.
Explico. Enxergamos, por um ângulo, o país ganhando a atenção e a admiração de boa parte do mundo, dando sinais de que finalmente começa a realizar parte de sua vocação e perto do que deve ser uma das eleições mais multifacetadas, ricas e instigantes das últimas décadas . Do lado oposto, as situações de desmando, corrupção e abuso (o processo Sarney e a censura ao Estadão, só para ilustrar tópicos mais atuais de uma lista sem fim) se amontoando em pilhas. Com essa tela diante do rosto, resolvemos propor uma ideia. Uma espécie de evento, mais até, um festival. Um dia inteiro para refletir sobre algo essencial: Política.
Queremos reunir boas cabeças, bandas, filmes e outras formas de trocar e expressar ideias, sobre todos os ângulos que pudermos encontrar para tratar dos princípios, conceitos e processos embutidos nesta palavra – que, a julgar pela reação de repulsa e rejeição que provoca, tornou-se perigosamente assustadora.
Descobrimos: na prática, nenhuma instituição quer ficar nem sequer perto do tal vocábulo ou correr o risco de ter sua imagem atrelada à carga nefasta que ele arrasta.
É até compreensível, mas é também preocupante.
Do nosso lado, seguiremos em frente, tentando entender e aprender com este e com outros fenômenos intrigantes. Nossa forma de pensar e de fazer política passa por encabeçar e viabilizar, ainda que sem apoio de outras entidades, iniciativas como a descrita acima. E também por encarar outros inexatos e intrigantes conceitos, como o que inspira esta edição: Honestidade.
Fomos atrás de um ex-policial da verdadeira Tropa de Elite e de um ex-presidiário, libertado depois de mais de 30 anos de cadeia (na vibrante e original entrevista de Páginas Negras conduzida pelo diretor editorial Fernando Luna), do campeão mundial de surf preso por crime fiscal, de seis sósias de Roberto Carlos e de um bom número de outras fontes, para refletir de forma livre sobre um valor que merece ser ao menos mais bem entendido.
Achamos que ainda há tempo, que é oportuno tratar da honestidade, enquanto a palavra ainda não foi esfolada e indevidamente maculada, causando repugnância e medo, como infelizmente, ao que parece, já se consumou (tomara que não de forma irreversível) com a noção de Política.
Paulo Lima, editor
P.S. 1: segue firme a terceira edição do Prêmio Trip Transformadores. Outra forma de falar de honestidade e, por que não, de política. Leia mais sobre os homenageados de 2009 nessa edição.
P.S. 2: em pequena parte da tiragem desta edição, os leitores encontrarão nas bancas exemplares da Trip com uma nota de dinheiro encartada. A ideia é uma brincadeira que quer nos ajudar a concretizar o objetivo da edição, fazer pensar sobre o que é afinal honestidade. As notas de reais que nos forem devolvidas serão doadas a entidades sérias de ajuda a pessoas necessitadas.