Conheça a praia no Bronx, em Nova York, que é o equivalente americano ao nosso Piscinão de Ramos
O Bronx, um dos cinco distritos que compõem a cidade de Nova York, é considerado um dos lugares mais heterogêneos dos Estados Unidos. Foi um dos berços da salsa e do hip-hop, bem como de diversas outras culturas underground. Mesmo assim, ele ainda é visto como terra de ninguém por muitos nova-iorquinos. A maioria se recusa a aventurar-se por essa porção de terra a nordeste da cidade – talvez por questões geográficas, talvez por medo da reputação barra-pesada que seu nome evoca.
Desde sempre, o Bronx acolhe famílias de imigrantes oriundas de todos os cantos do mundo. Mas sua imagem é definida principalmente pelo caos que tomou suas ruas entre o final dos anos 60 e o começo dos 80, quando depredações, incêndios, vício em drogas e todo tipo de negligência social eram praxe. Para as famílias que resolveram chamar esse cenário destruído de lar, Orchard Beach, a única praia em todo o distrito, era e continua sendo um abençoado refúgio do confinamento imposto pela selva de concreto. Construído nos anos 1930 pelo urbanista Robert Moses, o lugar carrega o estigma de “a pior praia de Nova York”, sendo comumente chamado de Horseshit Beach (Praia de Bosta) ou Riviera de Porto Rico, por causa dos muitos frequentadores latinos.
Eu comecei a fotografar as pessoas de Orchard Beach durante o verão de 2005, assim que me mudei para Nova York. Logo percebi que a má fama deste oásis era completamente injustificada. Não tive outra alternativa a não ser me envolver com essa comunidade de famílias trabalhadoras, repleta de personagens megacoloridos. As fotografias deste ensaio celebram o orgulho e a dignidade dos que se estiram na areia não tão branca e mergulham na água nem sempre limpa de Orchard Beach.
Imagino que a primeira coisa que capture o olhar do leitor seja o estilo extravagante dos modelos. Para mim, é tudo parte de uma busca profunda por identidade e sensação de pertencimento – indivíduos carregando cicatrizes, marcas e vestígios de suas trajetórias pessoais, que muitas vezes refletem a própria história complexa do local onde cresceram. Através do olhar dos retratados, vemos uma comunidade que se mantém de pé apesar de todo o preconceito que sofre da opinião popular.
Os seis anos que passei fotografando Orchard Beach me deram não apenas tempo e espaço para refletir sobre a importância de coisas como família e comunidade, mas também um sentimento de irmandade e propósito na vida.