por Redação

A dura recuperação de Alexandre Freitas

Há cerca de seis meses divulguei aqui, sob o título "Inimigo invisível", as dificuldades enfrentadas pelos participantes do Eco Challenge, corrida de aventura disputada em Fiji, na qual 80 participantes foram parar no hospital. Em particular, o drama vivido pelo brasileiro Alexandre Freitas, 40, que quatro dias depois de concluir a prova teve que ser internado, entrou em coma e durante meses ficou entre a vida e a morte.

Esta semana, com o auxílio de sua fonoaudióloga, ditou as principais idéias do texto a seguir para sua colega Patrícia Croci:

"Minha luta pela vida é longa, mas estou confiante na vitória. O apoio dos meus familiares e amigos tem sido importante para a minha recuperação e sei que tenho dado muito trabalho a todos.

A minha história é única: em outubro de 2002, durante uma competição nas Ilhas Fiji, fui infectado por um parasita endêmico da região (Angiostrongylus cantonensis), provavelmente através da ingestão de verduras cruas ou peixes malcozidos. O parasita alojou-se no tronco da medula. Durante dois meses e meio, fiquei inconsciente e permaneci na UTI (primeiro em um hospital na Austrália, depois transferido para o Brasil). Quando acordei constatei que conseguia apenas mexer meus olhos. Nada mais. O fato mais doloroso era que eu tinha consciência das minhas limitações, mas não conseguia manifestar nenhum tipo de reação. Apesar das dificuldades, meu maior tesouro estava preservado: minha consciência.

Hoje sou assistido em casa. Meu quadro atual é de meningite eosinófila: eu não ando, não enxergo as coisas com nitidez, não degluto normalmente e não falo sem o auxílio de uma válvula. Tenho que reaprender a viver. Minha visão foi extremamente prejudicada por uma úlcera de córnea, o que, por vezes, retarda o processo de recuperação. Cerca de 95% da sensibilidade humana está na visão. Outro agravante é que dependo de um aparelho para respirar, pois ainda retenho mais gás carbônico (CO2) que o normal. Isso me prende muito, mas sei que em breve deixarei de utilizar a máquina.

Sou uma pessoa bastante determinada, tenho certeza de que vou me recuperar totalmente e, para isso, levarei o tempo que for necessário. Tenho consciência de que sobrevivi apenas por ser uma pessoa de hábitos saudáveis. Sei, também, que para melhorar tenho que me esforçar muito, por isso me aplico com afinco aos exercícios de fonoaudiologia e fisioterapia, sem reclamar da dor ou cansaço que eles me causam. Minhas atividades começam às 6h30 e terminam somente às 20 h. Por vezes, acordo durante a madrugada para me exercitar sozinho. Já consigo ficar de pé com o auxílio de enfermeiros, tenho sustentação dos músculos, faço exercícios de equilíbrio de tronco.

Acredito que a fase crítica já foi superada. Sei que, agora, minha luta depende muito mais de mim do que de médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e enfermeiros que me assistem, mas reconheço que ainda necessito deles. Agradeço a todos que, de alguma maneira, têm me ajudado a passar por tudo isso, em especial aos meus pais, Henrique e Vera, minha irmã, Vera Helena, meus filhos, Amanda e Rodrigo, minha esposa, Elza, amigos e familiares. Estou determinado a voltar às minhas atividades brevemente."

Alexandre é o principal responsável pelo desenvolvimento da corrida de aventura no Brasil. Com recursos próprios e muita determinação ele fundou a EMA (Expedição Mata Atlântica) e viabilizou as primeiras competições. Não tenho dúvida de que ele vai vencer mais essa. Estamos torcendo.

Notas

WCT - Tavarua

O atual campeão mundial, o havaiano Andy Irons, com uma atuação brilhante na final, contra Cory Lopez, venceu a quarta etapa do Tour, sua segunda no ano, e disparou na liderança do Mundial de surfe. O melhor brasileiro é Paulo Moura (23º).

Lixão

Desde 1950, o Everest tem sido usado como um grande depósito de lixo. São garrafas de oxigênio, latas de comida, e até corpos. Nesta temporada, dois times americanos e um japonês se encarregaram da anual faxina. Saldo: 2,5 toneladas.

Raid Gauloises - Quirguistão

A equipe brasileira de corrida de aventura, Atenah, predominantemente feminina, foi a única sul-americana convidada entre 39 selecionadas pela organização da prova que acontecerá entre os dias 10 e 19 e terá 950 km de percurso.

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