Não tinha teto, não tinha nada

por Isabella Infantine

A ONG “Um teto para o meu país” reúne universitários na construção de casas emergenciais

Saí do meu “quadrado”, do bairro em que as ruas possuem nomes de cidades. Pulei a cerca elétrica e tropecei no arame farpado. Vinte e cinco quilômetros rodados e mais uma pequena caminhada. Sinto o cheiro do ralo. Atravesso rapidamente o caminho entre um lixão.

Estou acompanhada de voluntários da ONG chilena "Um teto para meu país", cuja meta é construir moradia para aqueles que vivem em situação de pobreza extrema.  Hoje, a ONG está presente em 14 países latino-americanos. No Brasil já conta com 800 participantes e mais de 150 casas construídas.  

Anita Garibaldi, para onde viemos, foi um assentamento do MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, na periferia de Guarulhos na Grande São Paulo. Hoje é uma favela muito diferenciada, pois o terreno está todo loteado, entre os barracos há ruas numeradas e no centro há um campinho para o bate-bola. O som é de pagode, em quase cada esquina há um boteco com caninha. Na rua de terra batida a poeira corre solta, crianças agarram suas bicicletas sem freio e empinam pipas no terreiro. Em pouco tempo irá receber mais cinco casas emergenciais, destinadas às famílias mais necessitadas.

Organização para a moradia

O projeto da Teto possui três fases: a primeira é sanar a necessidade básica da habitação. A família paga 10% do valor da casa, e o restante é bancado por doações. A estudante de arquitetura Natália Dias Fonseca, 21 anos, explica: “quando você se coloca junto com eles fazendo o trabalho manual, passa a falar a mesma língua”.

Já na segunda fase, “os voluntários atuam na reabilitação social da favela, eles buscam ajudar nas áreas da saúde, trabalho, assistência jurídica, educação e finanças”, conta Larissa Dantas, diretora social da Teto.

A terceira parte fica por conta da favela, que mais estruturada, constrói suas próprias casas de alvenaria (esse objetivo, até agora, foi conquistado somente no Chile).

A maioria dos universitários entrou para o projeto porque sentiu a necessidade de ajudar o próximo, sem o foco assistencialista. O estudante de economia Victor Pereira Marinho, de 20 anos, afirma: “Minha vida toda me preocupei com os outros, e encontrei nesse trabalho voluntário o mesmo ideal que tenho de erradicar a pobreza, não impondo um modelo de vida para a população, e sim, inserindo novamente essas pessoas nas redes formais”.

Construindo um teto

Durante a construção de uma casa, converso com a beneficiada pelo projeto. Marinalva de Souza, 42 anos, prepara o almoço com arroz e salsicha trazido pelos voluntários. Diz: “todos esses jovens são meus filhos, fazem das tripas coração para me ajudar, vou ficar emocionada quando tudo ficar pronto [e realmente já se emociona ao falar]”.

Em seguida, visito outra família beneficiada. “Agora estou pensando em pintar o meu lado”, diz Maria de Fátima da Silva, 29 anos, contente com os seus oito filhos. Carinhosamente chamada pelos voluntários como Dona Ilda, ela cuida com muito esmero do seu domicílio.

O próximo passo da Teto é reconstruir cinco casas na favela Projecta, também em Cumbica, que foram destruídas por um incêndio.

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