Junto e misturado

por Alê Youssef
Trip #210

Como o ativismo paulistano se encontra com Obama, Kony e novas formas de educação

Recentemente participei em São Paulo do Think Infinite, evento organizado em locais estratégicos do mundo para debater a inovação nas mais diversas áreas e sua interface com plataformas digitais. A provocação para os palestrantes era trazer uma ideia “fora da caixa”, diferente do convencional. Minha palestra foi centrada na participação política e em novas formas de organização das pessoas para lutar pelos seus diretos. Apesar de todos os outros palestrantes terem temas diferentes, relacionados às suas respectivas atividades profissionais, fiquei positivamente impressionado com a presença do novo ativismo e da busca constante por novas formas de mobilização social nas outras palestras.

Russel Stevens, publicitário que ganhou fama por criar e coordenar a surpreendente campanha do presidente Obama nas redes sociais, mostrou, além do seu case mais conhecido, outras campanhas de profundo engajamento e enorme repercussão. Uma delas foi a grande mobilização para tornar conhecido e prender Joseph Kony, líder do Exército de Libertação do Senhor, que promove um genocídio no norte de Uganda. O vídeo (http://migre.me/8CpMD), feito por ativistas da organização Ivisible Children, mostrou para todo o mundo as atrocidades cometidas por esse homem que é chamado de Senhor da Guerra.

Outra campanha bem-sucedida apresentada foi a do ciclista americano Lance Armstrong, ao longo de sua batalha contra o câncer. O movimento Livestrong (www.livestrong.org) se tornou símbolo de força de vontade e luta pela vida. A mobilização social em torno da campanha foi impressionante. Quem não se lembra de algum amigo ou conhecido usando aquela pulseirinha amarela?

A queniana Jepchumba, artista digital, como ela mesma se define, usa de sua plataforma de trabalho para dar visibilidade ao enorme potencial criativo e inovador do continente africano, em contraposição às notícias negativas sobre a região. Uma imagem marcante foi sua representação da África como um imenso iceberg, com a parte que fica para fora da água ínfima perto de todo o resto. A arte choca e faz pensar no preconceito embutido na cabeça de todos nós (www.jepchumba.com).

O jornalista inglês Dougald Hine apresentou o projeto School of Everything (schoolofeverything.com), que propõe uma reinvenção da educação formal, aprofundando a ideia de que a cidade pode ser uma escola e hoje aprende-se de várias formas e de jeitos completamente diferentes. A mobilização dos novos educadores e a contraposição da escolha estática e careta é muito marcante para quem busca novas formas de participação social. Hine, no site do projeto, explica tudo em uma frase. “Ninguém gosta de fazer o que mandam. A School of Everything está aqui e então você pode organizar sua educação da maneira que preferir.” A ideia é uma versão radical do brasileiro Projeto Aprendiz, liderado pelo também jornalista Gilberto Dimenstein, que promove ações para que a Vila Madalena, em São Paulo, seja um bairro-escola com a cabeça aberta para essa nova educação.

Política é repugnante?
Minha apresentação sobre novas formas de atuação política foi muito bem complementada pelos outros palestrantes. Ao lado de Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Acampadas Espanholas, Marcha da Maconha, Parada Gay e outras mobilizações que apresentei, o marketing de Russel Stevens, a arte de Jepchumba e a educação de Dougald Hine fizeram todo sentido.

A nova política, definitivamente, se faz com novas ideias mas também de formas diferentes. Naquela tarde em São Paulo, em um evento repleto de profissionais de TI e publicitários, todos nós falamos de política. E esse assunto, tão espinhoso e repugnante para tanta gente, de repente se tornou algo muito mais interessante

*Alê Youssef, 36, é fundador e sócio do Studio SP e do Studio RJ, um dos fundadores do site Overmundo e presidente do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta. Foi coordenador de Juventude da prefeitura de SP (2001-04). E-mail: ayoussef@trip.com.br/Twitter: @aleyoussef

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