GIGANTE INVISÍVEL
Por Alê Youssef
em 21 de janeiro de 2009

Estiquei o domingão no Rio – depois de mais uma noite de sábado bem sucedida do Studio RJ. Fiquei para acompanhar meus sócios Ronaldo Lemos e Hermano Vianna ao evento ANIME CLUB. Ronaldo foi jurado do concurso de COSPLAY e Hermano, que sempre me conta histórias incríveis sobre esses eventos, é uma espécie de patrono de honra das festas de ANIME no Brasil. Resolvi conferir.
Nos arredores da Hebraica em Larangeiras já dava pra perceber a encrenca. Bares e ruas lotados de centenas de jovens (maioria entre 15 e 18 anos) – todos vestidos com alguma fantasia. Quem pagava os R 15,00 pelo ingresso ganhava uma pulserinha na entrada e tinha o direito de sair para comer e beber no bairro.
Dentro, aproximadamente 3.500 pessoas circulavam pelos corredores e salões do clube que se transformou numa grande feira de games e cultura pop. No primeiro andar stands de todo tipo de games com filas quilométricas, dois palcos com concursos do hit do momento, o Guitar Hero, e uma boate embalada pela ANIMEMIX – web rádio especializada em músicas de games, além de centenas de banquinhas vendendo os mais variados produtos: adesivos, imãs de geledeiras, camisetas, e todo tipo de apetrechos que poderiam auxilar na composição do COSPLAY.
No segundo andar uma enorme passarela serviu para dois concursos: melhor COSPLAY (desfile simples das fantasias) e melhor interpretação (os fantasiados tinham que encenar seus respectivos personagens). Os games japoneses dominavam o evento, mas alguns se arriscavam na pele de outras figuras como Amy Winehouse, o Wally de “Onde está Wally”, Gorpo, Vampiros e até Jesus Cristo. A cada apresentação – embalada pelos beats do DJ SANNY PIT BULL – a multidão delirava. Muitos usavam uma plaquinha bacana (uma lousinha branca que surgiu junto com toda essa cultura) pra fazer comentários ao vivo sobre cada participante.
No meio da confusão, Pedro Carvalho, um jovem tranquilão de bermuda e camiseta observava tudo atento. No auge dos seus 20 anos, ele é o responsável pela bagunça – criou o evento no quintal de casa e viu tudo crescer muito rápido. Em um papo ao lado da passarela, me contou que todas aquelas pessoas (3.500) eram pagantes e que o evento não estava tão bombado como de costume, pois estavam rolando outros festivais de ANIME no mesmo dia: um na Tijuca e outro em São Paulo. Para o próximo, a expectativa é de 10 mil pessoas. Sem conseguir um espaço maior, vai continuar realizando os eventos na Hebraica, clube totalmente decadente que não oferece qualquer infraestrutura para essa multidão (o calor era insuportável). Os patrocínios também são escassos. Ele só consegue fazer parcerias com empresas pra montar os stands de games, palcos e para distribuir seus produtos. A Red Bull, por exemplo, teve o melhor custo benefício de ativação de marca de sua história: não colocou um centavo, mas deu produto pra todo mundo que desfilava na passarela. Espertos, não?
Todo o dinheiro para viabilizar o projeto vem da própria bilheteria gerada por Pedro, que atribui a dificuldade de conseguir um espaço melhor e patrocínios, ao fato de nunca sair uma nota sequer em qualquer mídia sobre o ANIME CLUB. Acho que ele tem razão. Tenho certeza que Paulo Amorim do Vivo Rio ou Perfeito Fortuna da Fundicão Progresso se interessariam pela bilheteria gerada por esses meninos, se soubessem exatamente do que se trata. As marcas também perceberiam que é um ótimo negócio investir nesse evento.
O Studio RJ teve uma super divulgação na imprensa carioca. Conseguimos por duas vezes meia página do Segundo Caderno de O GLOBO, destaque nos Guias Rio Show (O Globo) e Programa (JB) e Vejinha Rio e até entrevistas nas Radio Oi, Nacional e CBN. Nossa média de público em 3 edicões do STUDIO RJ é 380 pessoas. Pedro, com 3500 em um dia não tão cheio, merece mais destaque.
O consolo para a falta de visibilidade foi a presença de Regina Casé. Convidada para ser uma das juradas dos concursos, circulou por todo os ambientes e interagiu com o público. Mega antenada, Regina não precisa da mídia para saber o que ta rolando por aí. Caso ela emplaque o ANIME CLUB em algum programa, vai ajudar Pedro a crescer e realizar o sonho dele: fazer o maior evento de ANIME do Brasil.
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