A França reagiu ao terror reafirmando a vocação para a celebração
Ataques terroristas como os que aconteceram em Beirute e Paris ou com o avião russo no Egito escondem um cálculo sórdido: atos desse tipo buscam desencadear uma reação de islamofobia. Essa reação não é consequência não intencional de tais ataques, mas parte de sua lógica. O Estado Islâmico quer a reação contra o Islã porque ela dá credibilidade à narrativa de que existe de fato uma guerra entre o Ocidente e o Islã. Ao reforçar e fortalecer o pensamento da direita xenófoba na Europa, eles automaticamente se fortalecem em todo o mundo. Outro ponto trágico disso tudo é que a reação desse crescimento da xenofobia pode ter como alvo os refugiados que justamente fugiram do reinado de horror do Estado Islâmico.
Demonstrando extraordinária compreensão desses simbolismos e estratégias, o povo francês reagiu ao terror negando as tentativas de grupos anti-imigração de ocuparem as praças com mensagens de racismo. Reafirmaram também a vocação parisiense para a festa e a celebração da vida, com movimentos que surgiram ainda no mesmo fim de semana dos fatídicos atentados na capital francesa. O #HappyParis que incentivou a juventude a sair à noite ou a charge de capa do jornal Charlie Hebdo com a frase “Eles têm as armas. Eles que se f... Nós temos o champanhe” são demonstrações de reação à barbárie com a valorização de uma vida libertária.
FALSOS PARAÍSOS
Essa postura diante dos acontecimentos rompe com o perigoso ciclo vicioso ao qual me referi e que é benéfico principalmente para quem gera o estado de terror. Colocam também no tabuleiro a estratégia da propaganda dessa liberdade, para combater as mentirosas peças publicitárias do Estado Islâmico que prometem uma vida paradisíaca para jovens pobres e descriminados dos subúrbios europeus. Aliás, a pobreza colabora com o terror e é urgente suprir essa juventude de horizontes e sonhos através de processos de inclusão social. Os imigrantes e seus descendentes também merecem um estado de bem-estar social europeu decente.
A força que deseja gerar uma “guerra de civilizações” precisa ser derrotada, mas para isso não bastam as estratégias militares. É necessário disputar os jovens sem perspectivas e que vivem oprimidos e acuados dando-lhes oportunidades e divulgando a beleza que é viver com liberdade.
A celebração da vida em sua plenitude e a valorização de todas as suas possibilidades é a melhor estratégia para superarmos o terror.
Créditos
Flávia Junqueira