Ele vai jogar na seleção

por Caio Ferretti
Trip #193

Vasculhamos e apresentamos alguns jogadores que você deverá ver com a amarelinha em 2020

A seleção brasileira entra em campo. Estamos em 2020, não é ano de Copa do Mundo, mas os jogos das eliminatórias preenchem a agenda do time mais bajulado do planeta. Minutos antes do início da partida, Cléber Machado começa a escalação da equipe canarinho. Desculpe informá-los, mas em 2020 Galvão Bueno já vai estar com 70 anos de idade - e não vai mais narrar nenhum jogo de eliminatórias. Entre os jogadores escalados estão Gabriel Barbosa, Kaique Virgílio, Andrigo Araújo e Caio Rangel.

Não conhece nenhum desses nomes? Normal, trata-se apenas de uma suposição, mas com chances de se tornar real. A reportagem da Trip buscou nas categorias de base da seleção e dos principais clubes brasileiros quais são as maiores promessas do futebol nacional para a próxima década. Levamos em conta ainda o desempenho dos meninos em campeonatos, premiações de artilharia ou de melhor jogador, convocações para vestir a amarelinha, opinião dos treinadores e valor dado por agentes de futebol.

Fazer essa escalação não é fácil. Muitos clubes tentam esconder ao máximo suas promessas com medo de perdê-las precocemente para o futebol europeu. Receio que faz todo o sentido. Até os 16 anos de idade os jogadores não podem assinar contratos com os times que defendem. O que, na prática, significa que eles podem sair quando quiserem. A assessoria do Vasco, por exemplo, afirma que "é prejuízo para o clube expor garotos de 10 a 16 anos, pois não há como fazer contratos e proteger a instituição". Essa questão à parte, a verdade é que Gabriel, Kaique, Andrigo e Caio têm tudo para estar, sim, naquele suposto jogo do primeiro parágrafo, nas eliminatórias de 2020, escalados na voz de quem quer que seja.

Gabriel Barbosa Almeida, 14

Zito esperou o apito final para ir conversar com os pais daquele menino que havia acabado de o surpreender. O garoto de apenas nove anos parecia ser boa aposta - e não é qualquer um que desperta interesse em alguém que jogou ao lado de Pelé e Garrincha no bicampeonato mundial da seleção brasileira. Mas Zito queria aquele jogador no time de base do Santos.

O menino em questão era Gabriel. Antes mesmo de completar uma década de vida ele saiu da periferia de São Bernardo do Campo e foi para a Vila Belmiro receber um bom salário e viver com a família em um apartamento pago pelo clube. Retribui tudo com gols. Muitos gols. Em sua conta - que faz com a ajuda do pai - foram mais de 300 nos últimos cinco anos, entre campo e salão. E deve ser mesmo, tanto que seu apelido é Gabigol. Ano passado ele foi artilheiro do Campeonato Paulista sub-13. E, este ano, mesmo jogando no sub-15, uma categoria acima da sua, ele tem a melhor média de gols do time no torneio.

Modéstia à parte, Gabriel diz com quem se parece em campo:"Neymar, porque eu sou abusado, vou pra cima dos adversários". Assim, foi convocado duas vezes este ano para a seleção brasileira sub-14. E viu sua popularidade crescer nas mãos do famoso empresário Wagner Ribeiro - que já agenciou Robinho e Kaká.

O que, de certa forma, preocupa sua mãe, Lindalva. "O Wagner me disse que tinha um clube de fora interessado nele, mas nem comentei com o Gabriel para ele não ficar ansioso. Queremos que ele se preocupe só em jogar bola." E qual era o clube? "Internacional de Milão. Eles ofereceram uma casa, um carro, um emprego pro meu esposo... Mas é complicado ir tão cedo." Agora pode ser cedo, mas até 2020 vai ser difícil segurar Gabriel no Brasil.

Kaique Vergílio da Silva, 14

Dia de testes no Corinthians. O clube precisa selecionar alguns jogadores para uma nova categoria, a sub-09, para disputar um campeonato dessa idade. Um menino de 8 anos, indicado por ter se destacado nas escolinhas de futebol que o time mantém, entra em campo e ainda no primeiro tempo de jogo marca quatro gols. Não precisava mostrar mais nada, Kaique já estava garantido na equipe.

Assim, sobrando em campo, o moleque da periferia de São Paulo deu os primeiros passos no futebol. Dois meses depois daquele teste, por sinal, Kaique jogou o campeonato sub-09 da Associação Paulista de Futebol. Resultado: foi o artilheiro e ganhou o prêmio de melhor jogador. Em 2006, disputando o sub-11 do mesmo campeonato, repetiu o feito e embolsou as mesmas honrarias. E no sub-12? Sim, tudo igual.

O destaque lhe rendeu a convocação para a seleção brasileira sub-14 este ano - e abriu os olhos dos empresários de futebol. "Vários já vieram atrás dele", conta a mãe, Lúcia. "Apareceu até uma empresa alemã interessada em agenciar sua carreira. Já sou até especialista em dizer não. Eu ralei muito pra cuidar do Kaique e agora que ele está superbem um empresário quer tomar conta?"

Faz sentido, já que o futuro de Kaique parece estar muito bem encaminhado. "Se ele continuar nesse ritmo de desenvolvimento não vai mais deixar de ser convocado pra seleção", prevê seu treinador no Corinthians, Edson Rocco. E faz coro com o que planeja o próprio Kaique. "Em 2020 quero estar na seleção principal e ainda no Corinthians. Quero que no memorial do clube esteja escrito: Kaique Virgilio da Silva."

Andrigo Araújo, 15

O assessor de imprensa do Inter ri quando digo que estou fazendo uma reportagem sobre as futuras promessas do futebol e gostaria de incluir um tal de Andrigo. Ele me pede para aguardar no telefone. Ao fundo, escuto: "Promessa? Mas o Andrigo já é uma realidade!". Com apenas 15 anos de idade, é assim que Andrigo é encarado. E motivos não faltavam. Dez dias após o contato, Andrigo ganhou destaque nos jornais por uma suposta transferência à Europa - não concretizada até o fechamento desta edição.

Aos 11 anos o moleque de Estrela (RS) despertou o interesse do Inter após se destacar nos campeonatos estaduais de futsal jogando por um time do interior. "No primeiro ano só joguei meio campeonato e fui vice-artilheiro. Depois joguei inteiro e fui o goleador." Transferido para o Inter, viu a estante de troféus crescer. Foi artilheiro da Copa Sul-americana aos 12 anos e do campeonato gaúcho aos 14.

Mas o ápice da iniciante carreira veio em 2010. O Inter foi campeão da Copa Nike, uma espécie de Brasileirão, e ganhou vaga para disputar um mundial na Inglaterra. E Andrigo? Artilheiro de novo. Os gringos enlouqueceram. "Chegaram propostas do Manchester United, Manchester City, Inter de Milão Barcelona..." Tudo por meio do empresário Delcir Sonda - dono de parte dos passes dos consagrados Neymar e Ganso (Santos) e Dentinho e Bruno César (Corinthians).

"Ele é completo", diz Deive Bandeira, treinador no Inter. "Se pegar os números de artilharia ele se destaca, mas deixo isso para a imprensa." Para Andrigo, os cálculos são mais simples: "Daqui a dez anos quero estar na Europa. E talvez até com duas Copas no histórico".

Caio Rangel da Silva, 14

"Ele é o clássico camisa 10 do futebol." O treinador das categorias de base do Flamengo Marcus Lourenço listava as qualidades de seus principais jogadores quando soltou essa frase sobre o meia-atacante Caio Rangel. Eu, que estava na dúvida sobre qual das promessas do clube carioca deveria entrar na matéria, entendi o recado como uma dica de que o jovem Caio era o nome certo.

Mais armador do que goleador, Caio não tem no currículo uma série de artilharias pelos campeonatos que disputou - o que não significa que não tenha uma boa relação com as redes. "Quando eu estava com 11 anos ganhei um troféu por ter feito 50 gols em um único campeonato da Federação de Futebol de Salão do Rio". O desempenho valeu mais do que a premiação. Rendeu ao menino de Bonsucesso um convite para trocar seu então time, o Olaria, pelo Flamengo.

E a ascensão não parou por aí. Jogando pelo time mais popular do país ele foi eleito o melhor jogador do Campeonato Carioca sub-13 do ano passado. E, assim, garimpou a vaga de titular nas duas convocações da seleção brasileira sub-14 que aconteceram este ano - e, claro, ganhou também um empresário para carregar a tiracolo. Para responder onde pretende estar em 2020, Caio nem sequer titubeia. "No Barcelona. Jogando ao lado do Messi." Mas o Messi já vai ter 33 anos, retruco. Ele ainda estará lá? "Sim, ele vai me esperar."

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