Colunista passa a vida colecionando dizeres e reparte seu “best of” pessoal
Tenho o costume, devo confessar, de anotar em um canto de minhas agendas frases que vou lendo e que, de alguma maneira, me marcam. São pensamentos que devem ter aparecido na minha frente no momento certo. Seguem algumas delas, na ordem em que foram guardadas.
“Deixem as mulheres bonitas para os homens sem inspiração.” Essa é de Marcel Proust. Já o jornalista Mino Carta, se referindo a um político corrupto, escreveu em seu blog: “Não acredito em Lombroso. Mas há exceções, às vezes as aparências não enganam”. Quem escreveu “o que faz andar o barco não é a vela enfurnada, é o vento que não se vê” não foi um marinheiro, foi Platão. E Woody Allen constatou que “se nós falamos com Deus estamos rezando, mas se Deus fala conosco estamos loucos?”. Na época em que as companhias aéreas tornaram as viagens de avião pelo país um pesadelo, o comandante Rocha Lima sintetizou, brilhantemente, a um jornal, que “no Brasil de hoje ir de avião é o meio mais caro para se chegar atrasado a qualquer lugar”.
Interessado pela guerra do Vietnã, me chamou a atenção em uma revista piauí a foto de um isqueiro Zippo com os dizeres “In Vietnam the wind dosen’t blow. It sucks” (No Vietnã o vento não sopra. Suga). Já a frase “A verdade sempre brilha”, que parece saída de um brasão ou bandeira, não sei de onde saiu, mas já me serviu, muito, de consolo. Na sequência, um provérbio judeu: “Com uma mentira se pode ir muito longe, mas sem esperança de retornar”.
O filósofo espanhol Julian Marias escreveu que “no se puede ser inteligente sin ser generoso”, e isso me deixou encucado por um tempo. Já Aristóteles Onassis, armador grego que trabalhou a vida inteira para ser milionário e passou à história como o segundo marido de Jacqueline Kennedy, dizia: “The rule is: there are no rules” (A regra é: não existem regras). Talvez esse fosse seu segredo. Mas, por outro lado, em algum lugar li, e anotei, que alguém descobriu o óbvio, que “os ricos não reconhecem o que não tem preço”.
Guardo, também, os papeizinhos que me tocam nos biscoitos da sorte dos restaurantes chineses. Tenho três colados, um embaixo do outro, bastante enigmáticos. Um deles diz que “mesmo oprimido, procure pelo sucesso”, outro aconselha: “Não se preocupe com o que se passa de fora de sua porta”. Um terceiro sentencia que “tudo o que é visível deve expandir até penetrar o âmbito invisível”. Na verdade não sei ao certo se são enigmáticos, redundantes ou pretensiosos.
Chutando o balde
Neil Young aparece com uma frase retumbante e trágica: “Its better to burn out than to fade away” (algo como: É melhor se acabar do que desaparecer). Serve como uma luva para quem quer chutar o balde. Mario Quintana é mais romântico e escreve que “uma vida não pode apenas ser vivida, precisa também ser sonhada”. A seguir, depois de algumas semanas, deparei com o livro dos Eclesiastes, do Novo Testamento: “Stultorum infinitus est numerus” (O número de estúpidos é infinito). Já Santo Agostinho é bastante prático e cético com a condição humana. Escreve que “toda virtude se deve à falta de oportunidade para o vício”. E Guimarães Rosa vai numa linha mais sintética e platônica ao dizer que “quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”.
Depois de uma viagem à Eritreia voltei com a frase, quase inútil, “knowledge makes one laugh, but wealth makes one dance” (o saber nos faz rir, mas a riqueza faz dançar). E um dia, monótono com certeza, me lembrei do Chacrinha dizendo “todo dia tomo banho, na mesma banheira do mesmo tamanho”. Por fim, um bom escritor dos anos 30, em Hollywood, de quem não lembro o nome, resumiu: “Quais são os três maiores prazeres da vida? Um dry martini antes e um cigarro depois”.