Darcy Ribeiro concordaria

por Alê Youssef
Trip #183

Vinte milhões de pessoas saíram da pobreza; a crise internacional chegou tarde e saiu cedo

O antropólogo perceberia que o Brasil está em outro patamar. Vinte milhões de brasileiros saíram da pobreza e ingressaram na classe média, e a crise internacional chegou tarde e saiu cedo

O povo brasileiro, obra-prima do antropólogo Darcy Ribeiro, mergulha fundo na busca pela identidade do Brasil. Analisa o processo de gestação étnica, estuda as diferenças regionais e critica fortemente o sistema institucional. Já no prefácio da obra, o autor pergunta: “Por que o Brasil ainda não deu certo?”.

Darcy ficaria surpreso com o momento atual do país. Em primeiro lugar por constatar que os valores de uma sociedade democrática agora também fazem parte da identidade do Brasil. Nossa sociedade é plural, aberta às diferentes correntes sociais e com regras do jogo definidas e que não se alteram para atender aos interesses de quem está no poder, ao contrário do que acontece em grande parte do nosso continente.

O antropólogo também perceberia que o Brasil está em outro patamar não apenas pela consolidação da democracia. Vinte milhões de brasileiros saíram da pobreza e ingressaram na classe média, o nível de investimento e confiança na economia do país é o maior da história, a crise internacional chegou tarde e saiu cedo, nossa importância no mundo bateu recordes, a descoberta do pré-sal e o investimento em tecnologias como o biocombustível apontam para um futuro promissor e as confirmações de eventos como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 potencializam tudo isso.

Todo esse ambiente acontece no governo de Lula – presidente oriundo do mais original povo brasileiro descrito por Darcy Ribeiro. Além de encabeçar os projetos que alçaram o país a esse novo patamar, Lula decidiu não mudar a constituição para criar o terceiro mandato, mesmo tendo 80% de popularidade.

Salto de decência
Obviamente que muita coisa ainda precisa ser feita para que todas as conquistas se estabeleçam. Precisamos de reformas estruturais que preparem o país para o salto de desenvolvimento e a inclusão social que esperamos. No plano tributário, uma reforma que ajuste nossa economia a uma realidade de moeda valorizada e organize o sistema de arrecadação. No aspecto político, uma reforma que combata a corrupção, os currais eleitorais, as pilantragens do Congresso e as sacanagens das campanhas.

Como enfatiza nossa coluna todos os meses, a transparência absoluta das ações dos nosso representantes, a simplificação do acesso ao universo público, a consciência ambiental para que o desenvolvimento seja sustentável e políticas conectadas com as novas gerações de brasileiros também são prioridades absolutas na agenda do país.

É muito bacana viver esse momento em que os olhos do mundo se voltam para o Brasil e saber que temos muitos indicativos de que agora vai. Devemos reconhecer os méritos, mas também projetar o futuro e todos os desafios que temos pela frente para que tenhamos também um salto de decência na política, que inclua a ética na identidade do Brasil como algo indissociável ao nosso DNA de nação.

Que no futuro não tenhamos coroneis mandando no Congresso nacional e governos reféns de acordos com partidos que só pensam nos bolsos de seus membros. Darcy concordaria.

*Alê Youssef, 33, é sócio do Studio SP e foi um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br

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