Tofu com batata doce

por Nyle Ferrari

Sem consumir ovos, leite, carne ou derivados, atletas veganos fazem do esporte ativismo, já recebem até patrocínio e desmitificam a proteína animal

Um quilo de peito de frango e vinte claras de ovo, por dia. Proteína animal era o que não faltava na dieta do fisiculturista Felipe Garcia, o Fefeu, antes do sorocabano de 30 anos se tornar, há dez, adepto do veganismo. Hoje ele prova que a marmita de carne branca com batata doce não é essencial para quem quer ser um atleta de alta performance com um título regional conquistado ano passado no II Campeonato de Fitness e Musculação de Mairinque, no interior de São Paulo.

Pela primeira vez na história do fisiculturismo brasileiro havia dois atletas veganos na competição: o baiano Paulo Victor Guimarães, conhecido como Paru, conquistou o 4º lugar. Ganhar disputas e desbancar carnívoros nos torneios é uma das estratégias de esportistas como Fefeu e Paru para quebrar uma das maiores barreiras do estilo de vida contrário a qualquer forma de exploração animal: o mito da proteína. “Culturalmente, somos levados a acreditar que sem carne, ovos, leite e derivados não é possível ganhar massa”, diz Fefeu. “Mas, pelo exemplo, nós provamos que isso é um mito”.

Vegano há 14 anos, Paru aderiu à filosofia quando as informações sobre veganismo no Brasil, principalmente para quem morava no interior da Bahia, eram limitadas. “Eu me tornei vegan antes mesmo de saber o que era”, conta. A decisão de abolir produtos de origem animal veio depois de assistir o documentário Meet your meat, sobre a realidade da indústria da carne. Como a internet ainda engatinhava na época, ele teve acesso à produção por um CD que recebeu pelos Correios.

Depois de aprender tudo na raça, hoje ele próprio contribui para informar e difundir o estilo de vida no Facebook, no Youtube e ainda administra um dos maiores grupos sobre musculação vegana, com mais de 34 mil membros. Lá, marombas dão dicas de dieta e treinos que não incluem tomar Whey e comer vinte claras por dia.

Força Vegana
O fisiculturismo não é a única modalidade em que atletas veganos se destacam. Ex-campeã olímpica pela seleção brasileira de vôlei, Fernandinha Ferreira, que aderiu ao veganismo há três anos, enquanto ainda competia, divulga nas redes sociais os benefícios da dieta. “A mudança me deixou mais consciente sobre o meu corpo. Passei a me sentir melhor, me lesionar menos e me recuperar mais rápido", diz a ex-jogadora. "Foi impressionante.”

Junto a mais de 400 outros membros adeptos do estilo de vida, Paru, Fefeu e Fernandinha fazem parte da Força Vegana, equipe que divulga o veganismo através do esporte e do condicionamento físico. Nas redes sociais, os participantes trocam informações sobre nutrição esportiva e organizam treinos solidários — que arrecadam dinheiro para ONGs e também permitem a participação de carnívoros, explica Daniel Caldas, um dos participantes mais ativos da equipe. “Inclusão é uma boa forma de fazer ativismo”, diz o ultramatonista.

Além de difundir a causa pela internet, a Força Vegana chama atenção para o veganismo por meio de camisetas personalizadas, usadas pelos atletas da equipe durante treinos e competições. A ideia é instigar a curiosidade e fazer com que pessoas se interessem pelo assunto. De quebra, ainda revertem o dinheiro das vendas para os animais.

E as proteínas?
Tofu, proteína de soja, brócolis, tempeh (soja fermentada), couve-flor, castanhas, feijão e grão de bico são alguns dos alimentos que atletas veganos consomem para garantir as proteínas. Segundo Paula Gandin, especializada em nutrição esportiva sem ingredientes de origem animal, o segredo é incluí-las em todas as refeições e variar sempre. “Exagerar na quantidade de carboidrato é um erro comum de veganos iniciantes. Por isso, equilibrar as refeições e cuidar da quantidade de proteína ingerida é importante”, diz.

O fisiculturista Fefeu enfatiza que esportistas veganos regulares, que não sejam atletas de alto desempenho, não precisam gastar muito com dieta para ganhar massa. Se o intuito é atingir níveis profissionais, no entanto, é bom preparar o bolso. “Eu já cheguei a gastar mais de R$ 1.000 só em dieta, me preparando para competir”, diz. “E o dinheiro que ganhamos nas competições ainda é simbólico, não dá para viver disso”, completa o personal trainer, que atualmente recebe patrocínio da VeganWay, marca de suplementos protéicos veganos.

Créditos

Leo Cavallini, Andre Negreios

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