Hortas comunitárias se espalham por São Paulo e promovem o convívio social
No shopping Eldorado, zona oeste de São Paulo, o chá servido ao superintendente do estabelecimento, Sergio Nagai, é o mesmo consumido por todos os funcionários do local, incluindo a auxiliar de limpeza Margarida Pereira. Guardada em garrafas térmicas, a bebida é feita com folhas frescas de hortelã e erva-cidreira colhidas na horta que fica no teto do complexo comercial. Num espaço de 2 mil metros quadrados, onde bate sol o dia todo, são cultivados alface, berinjela, rúcula, pimenta, jiló e manjericão – alimentos que depois são dis distribuídos aos funcionários. O adubo usado nas plantações é feito com os restos de comida da praça de alimentação. “Nossa meta é cobrir os 10 mil metros do teto com as hortas”, explica Rui Signori, engenheiro agrônomo responsável pelo projeto, que começou em junho do ano passado.
O caso do Eldorado é um belo exemplo de horta que vem brotando em meio ao concreto. Seja na praça do Ciclista, na avenida Paulista; na praça das Corujas, na Vila Beatriz; ou em Parelheiros, na zona sul, o cultivo de alimentos vem ganhando terreno na capital paulista. Algumas são pequenas hortas comunitárias, como a que foi reativada em abril no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na Vergueiro. Voluntários fazem um mutirão no último domingo do mês para cuidar do espaço. “Há pessoas de diferentes formações: designers, arquitetos, tradutores, paisagistas. Em comum, o gosto pelo cultivo da terra”, conta o gestor ambiental André Biazoti, integrante do Hortelões Urbanos, grupo responsável pelo projeto em parceria com o CCSP. Na página do Facebook deles (veja abaixo), é possível se informar sobre os mutirões. Qualquer pessoa interessada pode participar.
Outras hortas fazem parte de iniciativas maiores, com o objetivo de geração de emprego e melhora da alimentação da população de baixa renda. É o caso do projeto da ONG Cidades sem Fome, responsável por 21 hortas comunitárias que beneficiam 150 famílias na zona leste. “São desempregados de baixa escolaridade que moram no entorno das hortas e aprendem a cultivá-las. Uma parte do que é produzido vai para o consumo deles. O restante é comercializado em sacolões”, conta Hans Dieter Temp, fundador da ONG e ex-coordenador do programa de agricultura urbana da Secretaria do Verde de São Paulo.
Ciclo natural
Além de oferecer uma fonte de renda a essas famílias, o projeto transforma terrenos baldios em áreas verdes e produtivas que melhoram a paisagem dessas regiões. “São terrenos da prefeitura, da Eletropaulo ou particulares, que são usados em regime de comodato”, explica Hans, cuja organização recebe recursos do governo e da iniciativa privada.
Para os adeptos do cultivo comunitário, as hortas servem como um espaço de convívio social. “O mutirão estimula as pessoas da vizinhança a se conhecerem e cuidarem do espaço público. Cada um leva um prato de comida, compartilhado com os outros. Todo mundo se diverte”, diz André, do Hortelões Urbanos. Para Rui, do Eldorado, a horta tem um papel educativo. “As pessoas aprendem de onde vêm os alimentos que chegam à mesa. Percebem que existe um ciclo natural com um tempo próprio de crescer, florescer e dar frutos. Muda totalmente a nossa relação com os alimentos e com a natureza de maneira geral”, conclui o agronônomo.
Vai lá www.facebook.com/groups/horteloes // http://cidadessemfome.org/pt