Tia Dag: semeando a transformação

por Tia Dag

Para a psicopedagoga, não podemos esquecer os meios polinizadores em que vivemos, mas é preciso olhar para cada um como uma semente transformadora

Li em algum lugar, outro dia, que não podemos mais definir o tempo por décadas, eras ou estações. A idade das coisas e das pessoas mudou porque as pessoas mudam e as sociedades também. Um idoso de 80 anos na África não é o mesmo que um idoso da mesma idade que mora na Itália. Um jovem de 15 anos na Croácia, não é o mesmo que um Zezinho no Parque Santo Antônio. Antes, acreditava-se que a biologia, a forma como nosso corpo e mente se desenvolvem, nunca mudaria. Hoje, já se sabe que cada indivíduo (guarde essa palavra, ela é importante) se desenvolve de acordo com aquele indivíduo, de maneira pessoal, íntima e peculiar. Em outras palavras, não existe ninguém igual a você em todo o Universo.

Em todo o Universo. Pense nisso por um momento.

É claro que a ancestralidade (de onde viemos, nossa família e nossas raízes), a sociedade (onde nascemos e o entorno onde somos criados) e os grupos (turma de amigos, trabalho, lazer etc.) dos quais participamos contribuem para nossa formação. Porém, todos esses grupos são apenas polinizadores. Eles não são a semente. A semente é o indivíduo, é você. Muitas e muitas vezes, acontece de a semente “cair” em um lugar errado, nascer em um terreno que não oferece tudo que ela precisa. Ela pode até crescer, com dificuldade e falta de recursos, e pode até vir a se tornar uma grande e poderosa árvore porque a Natureza sempre tenta dar um jeito para consertar o que sai do rumo. Com as pessoas pode acontecer o mesmo.

Acho engraçado (só que não) o senso comum de condenar uma “semente” por tentar sobreviver a qualquer custo em condições miseráveis, com pouca água e pouco alimento de que ela precisa. Acho engraçado (só que não) o julgamento fácil da vida do outro sem o mínimo critério de avaliação de como aquela “semente” foi parar ali, como chegou no fundo do poço se nasceu com todas as mesmas qualidades biológicas do outro (só que não de novo). Como um bom educador não pode nem deve ter como base apenas o senso comum, o melhor é ir atrás da história dessa semente, ir atrás do indivíduo, ir buscar o coração.

Na juventude, aprendemos; na maturidade, compreendemos.
Marie Eschenbach

Vou te contar uma coisa, eu sei e conheço muito sobre a maldade. Eu sei tudo que um ser pode fazer para o outro, formas indescritíveis de magoar, entristecer e se afastar da inteligência humana. Mas também sei e conheço o que um ser pode fazer pelo outro. Eu conheço a solidariedade, eu conheço o perdão e a compaixão como ninguém. Eu conheço sementes que caíram na melhor terra possível e não deram em nada. E eu conheço sementes que tiveram que lutar por um lugar ao sol, contra a maré e por um espaço para crescer. E prosperaram. E deram frutos doces. A minha pedagogia é a do desenvolvimento que se sustenta, que se firma nos próprios pés, esse é o meu jeito. Se você juntar essas duas ideias, indivíduo e semente, o resultado é a descoberta de um potencial sem limites para o crescimento. Um potencial que para vir a ser precisa de sustentação, de apoio, olhar e cuidado. O mesmo que a Natureza faz com tudo que cria.

Cada um de nós pode ser um polinizador de novas ideias, de novas formas de crescimento para todas as sementes espalhadas por aí. Não conheço ninguém que não tenha algo de bom para ensinar. Até uma história triste pode ser um ensinamento de luta ou um alerta para mudar o rumo de uma pessoa para melhor. A Casa do Zezinho surgiu como uma ponte para unir histórias de vida, para unir corações únicos e diferentes, para ser esse lugar que busca espalhar quantas sementes puder pelo mundo, no Universo.

Hora de se espalhar, de correr mundo, de aprender e ensinar, de plantar e colher o melhor que puder. Hora de semear sua história de forma contagiante, ativa, perseverante e permanente.

Eu já comecei. E você?


Tia Dag foi homenageada no Trip Transformadores de 2007.

* Acompanhe aqui, semanalmente, os textos de grandes pensadores da sociedade brasileira, que já passaram pelo palco do Trip Transformadores.”

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