Sandro Testinha está torcendo por Bob Burnquist e a nova diretoria da Confederação Brasileira de Skate
"Às vezes faço o que quero, às vezes faço o que tenho de fazer."
A célebre frase do eterno Chorão, do Charlie Brown Jr. (RIP), ainda ecoa em meus ouvidos, às vezes em torno de mim mesmo e às vezes em torno de tarefas que vemos as pessoas fazendo. Independentemente do grau que ocupam na sociedade, todos temos vezes que fazemos o que queremos e vezes que fazemos o que devemos.
Nos casos específicos que vou citar aqui, todos os envolvidos, mesmo que indiretamente, já estiveram no palco do prêmio Trip Transformadores ao menos uma vez. Na ocasião em que fui homenageado pelo trabalho social e educativo que realizamos através da ONG Social Skate, em 2013, tive a honra de receber o prêmio das mãos do "então somente" considerado um dos melhores skatistas do mundo em todos os tempos, Bob Burnquist. Coloquei "então somente" entre parênteses pois Bob, além do que eu já disse recentemente, se tornou presidente da CBSK – Confederação Brasileira de Skate –, a entidade máxima regulamentadora do skate no Brasil.
Claro que ser dirigente de algum esporte no Brasil em tempos que vemos dirigentes esportivos de altos escalões indo presos sob acusações de corrupção não é uma das tarefas mais fáceis, mesmo para quem encara o monstro em forma de obstáculo chamado Mega Rampa, no qual Bob é o melhor de todos já há algum tempo.
No dia de sua posse, Bob disse em seu discurso que poderia continuar tocando muito bem tanto sua carreira quanto seus negócios, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. Ou seja, ele conquistou ou conquistaria seu espaço independentemente da Confederação, porém disse que entende que o skate é muito além do que um esporte de competição, e que precisa da entidade organizadora e que ela deve continuar nas mãos de skatistas e profissionais que ao menos procuram entender o skate no Brasil nos últimos 30 anos. Bob em sua carreira como skatista saltou além do mercado e do mundo do skate, e é esse salto que ele pretende trazer para a Confederação Brasileira de Skate, para fazer com que o skate chegue a todos os níveis da sociedade de forma organizada e coordenada, junto de quem entende do assunto. Ou seja: os skatistas.
“Raramente no Brasil algum esportista de renome assume o posto máximo na Confederação que representa seu esporte”
Sandro Testinha
Bob tem a missão de transformar uma entidade até então legítima e sem uma vírgula de algo errado em sua biografia, porém é chegado o momento da entidade ser reconhecida e respeitada além do mundo do skate e além de nossas fronteiras nacionais, assim como fez em toda sua carreira. Raramente no Brasil algum esportista de renome assume o posto máximo na Confederação que representa seu esporte, embora vemos frequentemente esses campeões assumindo postos mais baixos nas entidades, porém o poder de decisão sempre fica nas mãos de algum Cartola antigo e, por que não dizer, com pensamentos e atitudes arcaicas para os dias de hoje? Sem mencionar mais uma vez os casos de corrupção que vira e mexe aparecem nas notícias.
Bob tem a chance de realizar um trabalho semelhante ao de outros dois homenageados do Trip Transformadores. Falo de Ana Moser e Raí que, além de se dedicarem aos seus próprios Institutos, formaram a Associação Atletas pela Cidadania, que trabalha com a transformação pelo esporte. Os objetivos são: esporte escolar acessível a todos os estudantes brasileiros, aumento da prática de atividades físicas pela população brasileira e a revisão do Sistema Esportivo Nacional, com vistas a uma estrutura mais democrática e transparente.
Tive a oportunidade de falar com Bob, que já conhece nossas frentes no trabalho social com skate, sobre o tema. Foi uma conversa rápida e informal, mas o novo presidente da CBSK já sinalizou contar conosco quando o assunto for a inclusão através do skate. Acredito que seremos chamados em breve para colaborar no mandato e acredito, também, que se deixarem Bob ousar, criar e desafiar como ele faz ao andar de skate, podemos estar prestes a uma mudança mais que positiva no antes esporte de “vagabundos” e que hoje salva vidas nas periferias do Brasil. Estamos torcendo por Bob e a nova diretoria da CBSK, e quem sabe em breve não teremos o próprio Bob recebendo um prêmio Trip Transformadores pelos feitos à frente da entidade que acabou de assumir a presidência.
Sandro Testinha foi homenageado pelo Trip Transformadores 2013. Assista aqui a sua história.
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