Criou o Favela Orgânica, uma iniciativa com foco total em reduzir o desperdício, reeducar os brasileiros sobre a sua relação com os alimentos
Pega, o troféu é seu Regina Tchelly! Não que isso seja algo determinante para que a paraibana de Serraria siga os seus sonhos. Com um nome típico de personagens de novela, sua vida está mais para um filme. Daqueles repletos de riscos enfrentados, nãos recebidos e, ao mesmo tempo, com uma protagonista cuja naturalidade para encarar a vida é difícil de ser encontrada até mesmo nos mais valentes heróis da ficção.
Regina chegou ao Rio de Janeiro com 19 anos. Nada de desespero na bagagem; na verdade ela vinha para conquistar uma melhoria significativa de vida. O desespero aconteceu, na verdade, quando a então doméstica se deparou com o desperdício de alimentos evidente na cidade grande. Onde já se viu, em um país no qual tantas pessoas passam fome, onde a mortalidade em decorrência da falta de recursos é crescente, descascar a laranja e jogar a casa fora?
Sempre apoiada pela então patroa, a moradora do Morro da Babilônia foi aos poucos encontrando um jeito de unir o conhecimento de causa – que nenhuma escola, senão a da vida, ensina – e a vontade de ajudar ao próximo. Participou de um curso de culinária no Senac e viu em um concurso a sua grande chance de tornar seus sonhos tangíveis. Na ocasião, o melhor projeto que beneficiasse a comunidade ganharia um edital de R$ 10 mil para sair da utopia e virar realidade. Regina não ganhou.
Mas é como ressaltamos no início desse texto: quem disse que para realizar um sonho é preciso um prêmio? Ela contou com a própria vontade e com a ajuda, pequena porém sincera, de pessoas que acreditavam em seu trabalho. Em 2011 – na verdade, poucos dias depois do “não” conquistado no concurso descrito anteriormente -, Regina realizava a primeira oficina daquilo que viria a se chamar Favela Orgânica. Uma iniciativa com foco total em reduzir o desperdício, reeducar os brasileiros sobre a sua relação com os alimentos – de forma mais saudável e sustentável -, e reduzir a escassez de recursos nas comunidades em vulnerabilidade. Não por acaso as oficinas e serviços oferecidos por ela são gratuitos aos moradores da comunidade.
Daí em diante, as coisas deram certo. De uma oficina experimental, feita com donativos, para mães da comunidade onde morava, Regina Tchelly viu sua ideia ganhar asas, atingir mais de sete estados brasileiros, aparecer na televisão e, então, conquistar o “sim” que faltava naquele mesmo concurso que inicialmente lhe concedeu um severo “não”. Uma negativa que mais serviu como estímulo, ou que ao menos não serviu como uma barreira para o sonho.
Além das oficinas, Regina Tchelly é autora de mais de 400 receitas que envolvem, é claro, a utilização consciente de alimentos, além da horta que instituiu no Babilônia com o intuito de que todos participem de sua manutenção e desfrutem de seus resultados.
O fim do filme está ainda distante. Ainda tem muito clímax por aí. Muitos “sins” por vir – a era dos “nãos” passou. Mas uma coisa é fato: Regina Tchelly segue na luta e vem acompanhada de conquistas por um final feliz.