Ziggy Marley no Brasil

por Fernando Gueiros

Ziggy Marley trocou boas vibrações por telefone com a Trip. O filho do homem fala sobre política, religião e amor.

ziAmante do futebol brasileiro, David Nesta Marley, hoje com 37 anos, quando pequeno sonhava em conhecer o Brasil. “Futebol e Pelé... Adorava isso”, conta o jamaicano.

Apelidado de Ziggy – homenagem ao personagem criado por David Bowie em 1972 – o filho primogênito de Bob Marley esteve no Brasil em 1993 e 96 junto com o Melody Makers, grupo que formou com seus irmãos em 1985, e chegou a fazer um barulho com os baianos do Olodum.

Pulsando espiritualidade, Ziggy não acredita em política, pensa que o problema do mundo é espiritual e que as religiões confundem as pessoas. “Religião, hoje, não é verdade. É confusão. Usam impropriamente o conceito de Deus. Eles abusaram e confundiram. Religião no mundo de hoje não é o caminho para Deus. Estão dividindo as pessoas delas mesmas. Todos devem ter a mesma crença: o amor. Essa é a religião original”. E como fica o rastafarismo? “Rastafarismo não é religião. Este é um nome que usamos para expressar nossa experiência do que muitas pessoas chamam de Deus. Nós temos nosso estilo de vida, o amor é a nossa religião”.

É na trilha do amor que Ziggy batizou seu último trabalho de Love Is My Religion e revelou influências de Fela Kuti, Miles Davis e... obviamente, Bob Marley. “Esses não podem faltar em nenhuma coleção”, garante ele. Sobre o reggae feito hoje em dia, o músico profetiza: “A música continua viva, mas é expressada de maneiras diferentes”. Sim, o reggae vive, mas a maconha ainda é parte importante dessa cultura? “Não para todo mundo. Não podemos dizer qual é a verdade. A maconha afeta pessoas diferentes de diferentes modos. Pode ser bom para mim e muito ruim para outro. Temos que dizer a verdade para as crianças. Não queremos nos promover dizendo que maconha é bom e todo mundo pode fumar, não! Isto não é certo”, alerta.

Trabalhando ativamente como compositor, Ziggy não poupa verbos para falar de amor, crenças e política. “Não vejo problema em falar de política nas músicas. O importante é expressar o que você sente, se falar de política for necessário para você, você deve se expressar”, desafia o filho do cara que tomou tiros por se envolver com política e ainda fez música sobre o ocorrido – escute “Ambush In The Night”, de Bob Marley. “Políticos não são líderes de verdade, eles são produzidos. É difícil encontrar um líder que fale para o coração das pessoas e diga a verdade, temos um problema espiritual”, profere.

O engajamento não pára por aí... “Temos que resolver o problema dentro de nós antes de resolver os problemas externos. O problema espiritual é mais importante que o problema físico. Problemas espirituais causam sofrimento, falta de amor causa sofrimento, ausência de Deus causa sofrimento. O homem sofre de falta de compreensão e conhecimento. Este apego material causa os problemas do mundo”, afirma o músico que já viveu na pobreza de Trench Town, periferia de Kingston, e hoje mora nos EUA.

Ideologias transmitidas, poucas palavras e muita fé depois, o primeiro Marley da “segunda geração” mostra que a linha de pensamento rebelde da família está viva. “Irie”, diz ele ao final da entrevista. A saudação jamaicana quer dizer “beleza”, “estamos bem”, como quem supera com paz e espiritualidade os problemas sociais de seu país. “Eu continuo sonhando para me comunicar”, canta ele em uma de suas letras. Agora nos resta conferir ao vivo as vibrações que Ziggy vai trazer da terra de Peter e Bob para o país de Caetano e Gil.

Vai : Primeiro filho da união entre Bob e Rita Marley, Ziggy está no segundo disco solo e se apresenta dia 5/10 em São Paulo, dias 6 e 7/10 no Rio de Janeiro e dia 9/10 em Curitiba, pela primeira vez sem a banda dos irmãos, o The Melody Makers.

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