por Luiz Alberto Mendes

Zé Povinho

 

Às vezes sou injusto e fico pensando que você, Zé Povinho, é o azar de minha vida. Já nem sei quem é você. Talvez seja todo aquele que fala mal de mim pelas costas e pede segredo. Você é medroso e me teme. Provavelmente pelos monstros que há dentro de você e faz de mim espelho. O que te irrita, o que te pôe contra mim? Eu não te faço nada, evito até olhar muito. Sei que se eu te encarar, você fará questão de vir, com aquele teu sorriso mentiroso afivelado na cara, me bajular. Baba tanto no saco que dá nojo, lembra algo pegajoso, tipo lesma. Mas é só virar as costas e você procura a quem falar de meu passado. E tece comentários, busca raízes, conta casos escabrosos (imaginados ou exagerados) explorando toda atenção que recebe.  

 

Quando me vê na televisão em alguma entrevista ou debate; quando lê comentários elogiosos sobre meus livros ou textos, diz que é mais que meu amigo. É quase um irmão. Estudou comigo no Grupo Escolar, empinou pipa comigo nas ruas de terra da Vila Maria, ou até me deu dicas de como escrever melhor. Mas, passou aquele momento de glória pessoal, volto a ser o maconheiro, macumbeiro, bandido, ladrão e tudo o que você colecionou em seu ensandecido imaginário. Sou tudo o que você imagina ou teme, tudo o que sempre quis ser e não teve coragem, embora afirme que não teve oportunidade. Mas que oportunidade tive a mais do que qualquer pessoa que luta e se esforça pelo que acredita?

 

Minhas conquistas te atingem como uma agressão; ofendem diretamente. Chega a coçar na pele e você fica nervoso dizendo para si mesmo que não é possível. Em seu coração você não conhece respeito. Você só “respeita” a quem teme; vive com medo de consequências. Você não admira ninguém, antes inveja com sua alma de ferro.

 

Você mandou a polícia em minha casa no passado. Tuas denuncias complicaram minha vida e nelas não havia nem um pingo de justiça. Mesmo agora, tua inveja é tamanha (não sei de que, não tenho carro, não tenho dinheiro...) que só o fato de eu existir te incomoda. Você me persegue, sorrateiramente e sem aparecer. Eu te sinto nas perguntas capciosas, na conspiração velada, nos contatos que você consegue envenenar, no sussurro ao pé do ouvido...

 

Hoje eu não sei mais quem é você. Não tens mais rosto, és anônimo, escondido, aquele que espera uma chance. Você é uma emboscada armada. Mas não me preocupa mais. Imagino como deva ser terrível ser você, exprimido e torturado por sua mente torpe e amesquinhada. Quando paro e penso em você, ao final como agora, me sinto envolvido em profunda compaixão. Quase uma nuvem de denso calor humano.  A vida será dura contigo, como foi comigo. Vai te espremer até que não reste nenhum vestígio de toda essa loucura que você fez de você. Força, coragem companheiro; já passei por isso e veja: sobrevivi. Não se apresse; chegará tua vez.

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Luiz Mendes

12/01/2010.     

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