por Diogo Rodriguez

Os seres vivos mais antigos do mundo são fotografados em vários países por Rachel Sussman

Os homens brasileiros, segundo dados recentes do IBGE, têm uma expectativa de vida de 72,8 anos . Em 1998, era de 69,66 anos, um avanço considerável. Jeanne Calmente, francesa, é a pessoa no mundo que mais tempo viveu, com um recorde de 122 anos. Se isso já é difícil de imaginar, pense em alguém (ou algo) que vive 2 mil anos. Ou mais, tente conceber uma vida que dura pelo menos 100 mil anos, que é o tempo aproximado de existência dos seres humanos na Terra.

A fotógrafa americana Rachel Sussman tem só 35 anos. Desses, os últimos 15 vividos em Nova York (ela nasceu em Baltimore). Interessada em tirar fotos de paisagens, Rachel percebeu que nossa curta passagem pela vida é ainda mais rápida se comparada à de uma erva-marinha espanhola - que viu o "nascimento" da espécie humana. Ou a de um fungo que cresce na Groenlândia e já existia quando o Império Romano dominava a Europa Ocidental.

Seu projeto The Oldest Living Things in The World pretende mapear e registrar o maior número possível de criaturas vivas pelo mundo com mais de dois mil anos. Ela já conseguiu visitar 23, de fungos a árvores milenares, passando por líquens e corais. Chile, Groenlândia, Namíbia, Índia e Japão são alguns dos destinos aos quais ela foi para conseguir fotografar os organismos anciãos. Rachel conta com a ajuda de biólogos, que permitem sua presença em viagens de pesquisa e fornecem dados e novas informações.

Tantos deslocamentos não são baratos: até agora tudo foi financiado por ela própria com a ajuda de amigos e familiares. Rachel está em plena campanha para arrecadar fundos através da internet. Já conseguiu 77% do total necessário (10 mil dólares) para visitar os outros nove "velhinhos" que ainda faltam ser registrados. De Nova York, a fotógrafa conversou com a Trip sobre filosofia, sequóias gigantes e fantasmas na Groenlândia.

"Percebi que poderia juntar fotografia de paisagem, investigação científica, e uma moldura que poderia ajudar a colocar a experiência humana e a passagem do tempo em uma perspectiva diferente"

Como surgiu o projeto?
Assim que o conceito deste projeto se concretizou, comecei a trabalhar nele. Mas até chegar nesse ponto, muito tempo se passou. Eu faço fotos de paisagens faz tempo, e sempre me interessei por ciências naturais e filosofia, particularmente pelo conceito de Sublime Natural. O que eu não tinha era um jeito de juntar os três, até que surgiu uma ideia. Foi após uma viagem ao Japão, onde eu fiz uma aventura para visitar uma árvore antiga numa ilha remota. Percebi que poderia juntar fotografia de paisagem, investigação científica, e uma moldura que poderia ajudar a colocar a experiência humana e a passagem do tempo em uma perspectiva diferente. Fiquei extasiada ao descobrir que um projeto como esse nunca havia sido feita nas artes e ciências e comecei a trabalhar.

Quantas pessoas estão envolvidas?
O projeto em si é meu trabalho, mas eu me baseio em biólogos que estudam esse organismos incríveis de inúmeras maneiras. Isso inclui ler as pesquisas deles, encontrar e me corresponder com ele e, às vezes, eles me acompanham, seja para fazer suas próprias pesquisas ou só para me ajudar. Em alguns casos, os organismos são tão remotos que eu não conseguiria acha-los sem um expert me acompanhando.

Como o projeto tem sido bancado até agora?
Com a exceção da ajuda generosa de amigos e familiares, o projeto tem sido auto-financiado até agora. Como você pode imaginar, é muito caro. Estou no meio de uma campanha para angariar fundos no Kickstarter, um site fantástico para micro-financiar projetos criativos. Vai até 19 de junho. No site dá para conhecer meu projeto e ver uma projeção de slides.

Qual foi a foto mais difícil de tirar até agora?
A viagem mais desafiadora até agora foi à Groenlândia para encontrar um líquen de três mil anos. Chegar lá foi um esforço de planejamento e, uma vez lá, viajei de mochilão, quase me perdi em um fiorde remoto, usei uma roupa para me proteger da água do Oceano Ártico enquanto andava de lancha, andei de helicóptero pela primeira vez, andei no leito de uma corredeira glacial enquanto um arqueólogo dinamarquês pegava trutas com as mãos e passei uma noite sozinha num ex-acampamento militar assombrado (não acredito em fantasmas, mas não há explicação para o que aconteceu lá.). Essa não foi só a mais desafiadora, mas também a mais proveitosa viagem que eu fiz. 

Quais são as próximas criaturas vivas que você pretende fotografar?
A próxima da lista é uma expedição de mergulho na Espanha para fotografar uma erva-marinha de cem mil anos perto da ilha de Ibiza. Estou muito feliz por ter conseguido entrar em contato com pesquisadores do Institut Mediterrani d'Estudis Avançats que atualmente estão estudando a erva-marinha e por ter sido convidada a viajar com eles em uma pesquisa de campo em setembro.

Como é estar perto de um organismo mais velho do que você pode conceber?  
É sempre maravilhoso finalmente conseguir ver um desses organismos depois de aprender tanto sobre eles, apesar de cada experiência ter me afetado de uma maneira diferente. Os maiores, como a Floresta de Sequóias Gigantes [na Califórnia], realmente me deixaram embasbacada, assim como mergulhar para encontrar um coral-de-cérebro de 5 metros e dois mil anos. Outros, como o líquen da Groenlândia, são tão diminutos em comparação com a incrível dificuldade de achá-los, é uma experiência completamente diferente, mas tão significativa quanto. Sempre tenho um momento de reflexão quando eu finalmente fico frente a frente com as criaturas mais antigas e experimento a passagem do tempo de maneira distinta. Essa reflexão filosófica sobre o tempo é a base do projeto como um todo.

O projeto mudou sua visão em relação à natureza e à sua vida?
Essa é uma boa pergunta, um pouco difícil de responder. Estar imersa nesse projeto definitivamente expandiu e aprofundou o que penso a respeito da natureza como um todo e meu lugar nela. Quando as ligações entre esses organismos começam a ficar claras, acho fascinante - tanto cientifica quanto poeticamente. Se conseguirmos entrar em contato com o conceito de tempo natural ou mesmo geológico, acho que teremos um entendimento mais profundo do mundo e do nosso lugar nele. Para mim, é importante compartilhar minha experiência e, espero, levar essa compreensão a outras pessoas.

Vai lá: acompanhe o blog do projeto

Mais: ajude a fotógrafa fazendo uma doação para o The Oldest Living Things in The World

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