por Alessandro Padin
Trip #184

Nadador master do Botafogo, Washington, 74, cravou um recorde em 1956 que nunca foi batido

A marca da travessia Guarujá-São Vicente que Washington cravou em 1956 nunca foi batida. O nadador, hoje master do Botafogo, já tem 300 medalhas

Tiro de largada, e 16 atletas correm para o mar naquela manhã de 5 de março de 1956 na praia das Pitangueiras, Guarujá. Era a segunda edição do Reide Guarujá-São Vicente, prova de 30 km por mar. Apenas quatro chegariam ao fim, e um deles, Washington Davinir de Barros, 20 anos, seria o primeiro a subir as areias da praia do Gonzaguinha, marcando o tempo de 8h03min, recorde nunca superado. “Naquela época não tínhamos médico, nutricionista, nada disso. Para entrar na água, meu pai e meu técnico me besuntaram de gordura para eu aguentar as mudanças de temperatura das correntes. Ao longo da prova comi chocolates que me eram dados por uma puçá (uma rede em forma de cone para capturar peixes) esticada da embarcação que me acompanhava”, recorda. Ao final, Davinir foi levado para exames em um hospital. A pressão e as articulações estavam ótimas, mas o jovem atleta, no entanto, receberia as glórias 7 kg mais magro.

Aos 74 anos, o santista criado no bairro do Macuco vive hoje no Rio, em Botafogo, em um apartamento onde guarda mais de 300 medalhas conquistadas no mar e na piscina, fruto de 60 anos dedicados ao esporte. Defende ainda a equipe de natação master do clube da estrela solitária. “Não posso ficar sem nadar por mais de três dias. Vou ao banheiro e não enxugo o rosto, sinto saudades da água.” Não toma nenhum remédio e, diz seu médico, seu organismo é “dez anos mais novo” do que a idade cronológica.

O quase herói

Quase foi Washington, e não o já falecido nadador Abílio Couto, o primeiro brasileiro a fazer a travessia do canal da Mancha – 36 km entre a França e a Inglaterra. Em 1957 (Couto faria a travessia em 1958 e 1959), suas vitórias chamaram a atenção de um patrocinador interessado em bancar o desafio. “Para provar que estava preparado, fui nadar 50 km ao redor da ilha de Santos, mas na metdade do caminho o representante do patrocinador disse para meu técnico que não tinha dinheiro para o projeto.”
6O anônimo do esporte brasileiro, contudo, não faz a linha “atleta veterano que chora a falta de reconhecimento”. É feliz. Orgulha-se de ter se formado em direito em 2007, aos 72 anos. Além dos treinos e do trabalho, toca pandeiro em rodas de samba, frequenta a igreja presbiteriana e namora, mas prefere relacionamentos “modernos”, cada um na sua casa.

 

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