Henrique Goldman justifica seu voto em Dilma Rousseff
Desde 1961, ano em que nasci, até 1989, o Brasil não teve eleições diretas para presidente. Como saí do país em 1981 e só agora, aos 48 anos, tirei o título de eleitor, em termos de pleitos eleitorais sou uma tia virgem e quarentona prestes a ser deflorada. Só vou votar porque é obrigatório e não quero ter que ir a uma junta eleitoral para justificar meu profundo desinteresse e ainda ter que pagar multa quando for ao Brasil. A lei que obriga o cidadão a votar é ridícula. Se é verdade que vivemos numa democracia, os que pensam como eu deveriam poder não participar. A alienação é um direito inalienável.
Não tenho tempo nem paciência para a esfera política. Desconfio profundamente dos motivos que levam alguém a querer abraçar a carreira política e ser eleito. Com muito raras exceções, quase sempre se trata de narcisismo, egocentrismo e sede de poder no estado mais bruto. Os debates políticos, os diferentes programas de governo, as conversas acaloradas nos jantares fazem cair minha pressão arterial, me dão taquicardia e falta de ar. Nessa dimensão, sou mesmo burro e infantil. Preferia não ser governado por ninguém. Não tenho certeza, mas desconfio ser anarquista. Amo o Brasil, mas esse processo não precisa de mim nem eu dele.
O Brasil avança
Mas vamos lá. É inegável que, durante o governo Lula, o Brasil melhorou bastante. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, nos últimos 15 anos, 20 milhões de brasileiros deixaram de viver na miséria. Semana passada, a revista britânica The Economist publicou uma matéria muito esclarecedora sobre as eleições presidenciais brasileiras. A reportagem é o retrato de um país que, por décadas, ficou atolado e que hoje se vê sonhando. Para quem se interessa em saber como as eleições presidenciais estão sendo retratadas pela imprensa internacional, vale a pena ler essa matéria aqui.
*HENRIQUE GOLDMAN, 48, cineasta paulistano radicado em Londres, é diretor do filme Jean Charles. Seu e-mail é hgoldman@trip.com.br