’Vamos continuar fazendo o máximo para que assim seja por muitas outras décadas’
Desde a primeira vez em que me sentei para preencher esta página, 25 anos voaram. Desde aquele dia em 1986, todos os meses faço força para não tornar este texto de abertura uma ode ao próprio umbigo. Algumas vezes, confesso, isso foi inevitável. E aviso: esta é seguramente, perdoem, uma delas.
Mas acho que possivelmente, ao contrário de algumas outras vezes, agora temos uma espécie de licença de prata para celebrar deixando de lado qualquer preocupação com excessos.
Pra começar, escrevo as mal traçadas linhas que você lê apaleoiado sobre uma belíssima mesa de mogno desenhada pelo mestre Sergio Rodrigues, aqui no andar de baixo da galeria Espasso, no 38 da North Moore Street, no chamado Tribeca, em Nova York. No térreo, enquanto isso, os músicos Criolo e Daniel Ganjaman preparam os instrumentos, e o fundador da galeria, Carlos Junqueira, afina com nossa diretora de projetos especiais, Ana Paula Wehba, os detalhes para a festa de lançamento da nossa edição com o tema Educação, aquela que trouxe o próprio Criolo nas Páginas Negras, com a parte principal do seu conteúdo traduzida para o inglês num suplemento com capas especiais, dirigido ao mercado norte-americano.
Serão 5 mil exemplares levando nossa visão de mundo, sobre educação e tudo o mais, para algumas das figuras mais interessantes de cidades como Nova York e Los Angeles. Enquanto isso, nosso parceiro na Alemanha, o publisher Thomas Garms, prepara a quinta edição da versão da Trip na língua de Sebastian Vettel, que circulará em fevereiro na própria Alemanha, na Suíça, na Áustria e em Luxemburgo. Difícil não sentir orgulho ao ver que há cada vez mais gente espalhada pelo planeta disposta a se abrir, interagir com nossas ideias e frequentar uma comunidade unida unicamente pelo fato de enxergar a vida e o mundo de forma semelhante.
Falando nesse sentimento, há cerca de dois meses vimos o auditório Ibirapuera se encher de orgulho durante a cerimônia de entrega da quinta edição do Prêmio Trip Transformadores, uma ideia que desde o lançamento mostrou ser maior do que uma revista, uma empresa ou qualquer pessoa isoladamente. Simplesmente porque celebra a força de quem entende que nada é isolado e que nada fará sentido algum se não for pensado para o coletivo e para entender e servir à noção da interdependência entre tudo o que há por aí.
Naquela noite, falei muito sobre o que vimos sentindo neste ano tão marcante das nossas “bodas de prata”. Frisei que nossa edição sobre a diversidade sexual atingiu níveis de alcance e de reverberação antes impensáveis para uma plataforma de conteúdo in(ter)dependente e mencionei minha sensação de que, se ela tiver sido capaz de aplacar o sofrimento de um único indivíduo entre os milhões que padecem pela não aceitação de sua natureza, já teremos alcançado algo que por si justifica todo esforço que fizemos para chegar até aqui. O resto terá sido lucro.
Exatos cinco dias atrás, 1º de dezembro, recebemos no Rio de Janeiro o segundo prêmio Esso da revista Trip (e o terceiro da editora) por nossa edição dedicada ao futuro, lançada em outubro de 2010. Selecionados os milhares de trabalhos inscritos no prêmio mais tradicional e importante do jornalismo nacional, entre os cinco finalistas na categoria que premia a criatividade das revistas brasileiras (denominada criação gráfica em revistas) dois eram trabalhos da Trip e um da Tpm.
Tanto a Trip quanto a Tpm, que aliás está fechando um ciclo importante festejando seus dez anos de vida, já tinham cada uma o seu prêmio Esso. Mas quero dividir aqui com vocês o orgulho de ver que um grupo de comunicação com seus projetos editoriais totalmente brasileiros e in(ter)dependentes teve três dos cinco trabalhos escolhidos pelos próprios colegas profissionais de comunicação.
Uma vida plena e interessante
Importante mencionar os nossos mais de 300 mil seguidores no Twitter da Trip, que a Tpm é a revista feminina nacional com o maior número de followers na mesma rede, o prêmio Fernando Pini de excelência gráfica, o prêmio Arco-Íris de Direitos Humanos que foi conferido à já mencionada edição da Trip sobre diversidade sexual, os mais de 30 mil assinantes conquistados por nossas duas revistas em um ano (por falar em interdependência, graças à nossa vencedora parceria com a equipe da editora Três).
Mas fica batendo aqui na minha cabeça algo que rolou no debate que promovemos entre duas das cabeças pensantes mais notáveis deste país. Miguel Nicolelis, neurocientista, e Contardo Calligaris,
psicólogo e psicanalista. A ideia do encontro (publicado na nossa edição de novembro) era tentar entender para onde iremos nos próximos 25 anos. A certa altura, nosso colunista Ricardo Guimarães, que mediou o debate brilhantemente, perguntou a Contardo o que ele achava que devia ser dito ou ensinado para educar um filho ou uma criança que tenha hoje 6 ou 7 anos. A resposta dele foi muito interessante. Em resumo, ele disse que, muito mais importante do que projetar no futuro da criança todas as nossas frustrações em forma de expectativas ou pressões, o fundamental é nos perguntarmos se fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que a vida dos nossos filhos tenha sido o mais interessante e plena até o dia de hoje.
Todos nós que vimos nascer o projeto Trip em 1986 e que cuidamos dele dali em diante (e aqui abro um espaço para agradecer profunda e genuinamente a cada um dos milhares de amigos e colaboradores que trabalharam e trabalham na Trip desde 1986, todos sem exceção sintam-se abraçados) temos a mais absoluta certeza de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que ela tenha sido interessante e plena até o dia de hoje. E vamos continuar fazendo o máximo, com o auxílio luxuoso de todos vocês, para que assim seja por muitas outras décadas.
Paulo Lima, editor