Nós nos conformamos com a suposta ordem e tranqüilidade com que somos adestrados para a vida. Pensar que há um certo e um errado absolutos que referendam nossas posições e que o erro só acontece quando não conseguimos nos adequar à realidade, é realmente confortante. A realidade então é garantia e segurança de solução para todas as dúvidas e questões.
Habituamos-nos a este conforto qual fosse um grosso manto de lã a nos proteger do frio das incertezas e inseguranças existenciais. Tudo fica aceitável como um anestésico e a realidade parece se encolher para se submeter a essa lógica.
Quando viajamos, esse manto de hábitos nos é retirado forçosamente e de súbito. Tudo é absolutamente diferente do que estávamos acostumados. Sem mais a proteção do hábito, passamos a viver na carne viva. Enxergamos tudo de forma mais apurada, colocamos nossas emoções em tudo o que vemos e nos tornamos revolucionários. Quando voltamos, não cabemos mais no que antes nos conformávamos. Incorporamos vivências e desenvolvimentos que nos tornaram maiores que o espaço que nos continha.
Carecemos, desesperadamente, externar as leituras que fizemos através nossas ações e palavras. Então o choque: experiências e vivências não são transferíveis; é exclusividade de quem as viveu. É frustrante, sem pares, ficamos sós e nossas descobertas parece que perdem o brilho...
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Luiz Mendes