Velhice chegando...

por Luiz Alberto Mendes

 

A idade vai nos deteriorando fisicamente. Vamos nos tornando feios, oblongos e desinteressantes. Mas isso, essa qualificação, não seria cultural? Os cabelos, por exemplo: caem, embranquecem e a careca aparece. Mas porque a pessoa com cabelo é tida como bonita e aquela que não têm cabelo considerada feia? Não seria coisa da moda, da cultura? Algumas pessoas ficam lindas com o corte careca; em outras, o cabelo faz toda diferença na sua estética. Há cabelos, raros, é bem verdade, que são maravilhosos em si; naturalmente brilhantes e sedosos. A beleza exterior também parece, tem algo a ver com o interior das pessoas. A alegria, a felicidade, a satisfação fazem as pessoas explendirem. Seus rostos ficam muito mais bonitos, suas cores muito mais vivas e os olhos, ah! Os olhos… Capítulo a parte em qualquer análise acerca da beleza humana; transmitem tamanho sentido de beleza (ou horror) que ultrapassa, transcende a qualquer idéia estética. Mas também desgastam, envelhecem, ficam vermelhos, gastos e os óculos os afundam no rosto. Quase somem com a idade, de janelas para a vida, convertem-se em vitrôs apertados onde mora um mundo todo de preocupações.

As dores físicas da velhice são horríveis. Os movimentos doem, vivemos adoecidos e cheios de problemas físicos. As prateleiras de remédios estão lotadas de remédios para tudo. Para nos locomover, levamos um saco de remédios. Caso doer a barriga, a cabeça, os músculos, ou qualquer coisa (e tudo nos parece dolorível), estaremos devidamente prevenidos. Conhecemos e fazemos amizades, na esperança de sermos melhor atendidos, com vários médicos. Ficamos conhecendo tipos de especialidades médicas que nem imaginávamos existir. Chegamos a hora de entregar o corpo à terra com ele todo estropiado, machucado, faltando pequenas ou até grandes partes. Usado, cansado e… morto, evidentemente.

Nessa idade provecta é que passamos a apreciar as inovações tecnológicas. Sem elas estaríamos condenados à cadeira de balanço na varanda até morrer, como nossos antepassados. Que bom que temos o automóvel, o navio, o avião para suprimir as distâncias! Até a dor que parecia tão irreversível, hoje temos tratamentos e comprimidos quase mágicos. A dor some mesmo, na maioria das vezes, não é só propaganda como quase tudo. Que legal haver sido inventado cremes contra rugas e pele cansada; as vitaminas que combatem os radicais livres; e as disciplinas que nos permitem envelhecer com classe e alguma distinção. Os implantes de dentes, de cabelo, os transplantes de orgãos, os aparelhos ortopédicos, as próteses…     

Bem, eu estou falando de um futuro, porque por enquanto, aos meus 61 anos de idade, estou muito bem. Claro, já sinto a aproximação da velhice e tento me manter firme e forte. Frequento academia, alimento-me razoavelmente bem, não faço grandes estravagâncias embora tenha meus vícios, como todo mundo. Essa visão estética sobre o belo e o feio é quase um cárcere de ferro ao qual fomos condicionados a sentir e pensar. Já vi fotos de velhos que me impressionaram vivamente pela beleza consistente ali impressa. Penso que essa é a beleza verdadeira, aquela que ultrapassa a cultura; que consiste em si, que a perda da juventude não rouba e a velhice não acaba.

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Luiz Mendes

15/01/2014.

 

 

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