Duas décadas depois, Maresias abriga três campeonatos de surfe. Mas os problemas...
O primeiro campeonato de surfe em Maresias aconteceu há cerca de 20 anos. Foi organizado pela associação de surfe local, a de São Sebastião, sob os protestos dos habituais frequentadores de fim de semana, a maioria paulistana.
A tensão culminou na manhã de um domingo quando os organizadores constataram uma tentativa de incêndio, entre outros vandalismos, no modesto palanque instalado na praia para o evento. Lembro que um amigo mais exaltado no dia anterior acabou levando a culpa, embora não fosse o responsável.
Apesar do atos vândalos, havia um romantismo ingênuo para justificá-los, a idéia de que seria possível preservar aquele paraíso tal qual o conhecemos antes do asfalto, das multidões, das boates, dos assaltos. Chegamos a criar a Associação de Surf de Maresias, a forma legal para tentar conter o avanço inevitável, que até que demorou.
No mês de maio Maresias suportou três campeonatos de peso, o Brasileiro Amador, o ISA World Junior Surfing Championship – um mundial júnior por equipes que reuniu quase 200 atletas de 27 países – e a segunda etapa do Super Surf, o circuito brasileiro profissional.
E se no passado enfrentar os amantes da praia estava entre as maiores dificuldades para os organizadores realizarem seus eventos hoje a situação é bem mais complexa. A disputa por patrocinadores, pelos centímetros e segundos na mídia, e a restrição à participação de atletas que disputam o mundial (WCT) nos circuitos regionais são alguns dos complicadores para a realização de campeonatos relevantes.
O Super Surf está em sua sétima temporada (o Circuito Brasileiro acontece desde 1987) e só recentemente começou a dar lucro. As principais marcas do segmento não apoiaram a iniciativa da Abril Eventos, responsável pela organização do circuito, que buscou entre os grandes anunciantes a viabilidade do projeto. Volkswagen, Tim, Nova Schin são os patrocinadores, além do apoio da Onbongo, única marca do segmento a investir no circuito nacional.
Mas, enquanto as grandes marcas do surfwear questionam a forma com que a organização realiza o circuito e o boicotam, parece que entre os maiores interessados, os atletas, predomina a aprovação. Claro que sempre se espera mais em premiação (hoje cada uma das cinco etapas distribui R$ 134.500,00 além de dois carros no final da temporada), mas todos reconhecem que temos o maior circuito regional do mundo e que sem ele sobreviver de surfe no Brasil ficaria bem mais complicado.
Jihad Kohdr com uma onda nota 9.5 garantiu a virada na bateria final sobre o bicampeão brasileiro Léo Neves, embolsou R$ 22.000,00 e assumiu a ponta do ranking. No feminino foi Taís de Almeida quem venceu e também passou a liderar o ranking.
Enquanto isso em Fiji, na quarta etapa do mundial, novamente os brasileiros decepcionaram. Damien Hobgood venceu, Andy Irons ficou em terceiro e Kelly Slater, contundido, não disputou a prova, mas segue líder do ranking. Três brasileiros estão entre os últimos colocados. Se continuar assim vai faltar convite para os brasileiros que terão que voltar para a prova doméstica.
Créditos
Imagem principal: Arnaldo Klajn