Ricardo Guimarães: ”A Intolerância é ignorância, e a religião é uma das mais ricas fontes disso”

Intolerância é ignorância e a religião é uma das mais ricas fontes disso. Por isso, reverencio São Darwin, o cientista que nos salva dos leitores dos evangelhos

Caro Paulo,

Aprendi que intolerância é consequência de ignorância. Para mim não é sentimento, nem opinião, nem escolha. É falta de informação, falta de estudo, coisa de gente atrasada como eu fui por um bom tempo na minha vida.

Quando eu era criança lá em Minas, a intolerância reinava absoluta. E uma das mais ricas fontes de intolerância era a religião.

O mais grave daquele ambiente era a naturalidade com que se administrava a intolerância. Negros, homossexuais, pobres, índios, japoneses, ciganos, budistas, muçulmanos, embora discriminados como cidadãos de segunda classe, eram tratados com muita generosidade e fraternidade pelos cristãos brancos desde que aqueles seres diferentes de nós se mantivessem no seu devido lugar. A ironia é minha porque as pessoas tinham certeza de que faziam o bem. O Pai vai ter de perdoá-los porque eles não sabem o que fazem.

Para mim, descobrir a verdade foi um terremoto, um choque cultural profundo, resultado do deslocamento das placas tectônicas formadoras da minha moralidade. Fiquei absolutamente desnorteado. Claro que os primeiros contatos com a verdade foram permeados de culpa porque eu estava tendo contato com a sombra, pecando contra a dita santa e dita madre igreja que me formou – ai, que medo do inferno!

Ao longo da minha vida, o sentimento de vilão pecador foi se transformando em sentimento de vítima ignorante manipulada para, finalmente um dia, conseguir erguer, com orgulho, minha cabeça cheia de perguntas e exibir a minha – essa sim santa, de tanta pureza e coragem – ignorância. Que Deus nos proteja das religiões. E que Ele se manifeste cada vez mais por meio das respostas às perguntas que a busca da ciência e da consciência nos formula. Sim, mais ciência e menos religião. Mais ciência e menos ideologia. Mais ciência e menos opinião. Mais humildade e menos arrogância.

SÃO DARWIN

Reverencio aqui o São Darwin. O cientista que nos salva dos leitores de evangelhos que nos mandam “Amai o próximo como a ti mesmo” como se não amar fosse uma opção inteligente, humana. Amar o próximo não é opção se a evolução da vida está em questão. Aliás, que não se use essa palavra – amar – para se referir à força de atração que impele à cooperação como providência melhor para a organização e a evolução da matéria viva. O amor, que pena, foi muito romanceado e deturpado pelos humanistas idealistas antes de ser compreendido como uma força natural determinante da evolução da vida. “Make Love, not war.” “Love or die, forever, sem chance de second chance ou vida eterna.” Punição ou recompensa já.

Intolerância é ignorância. Por isso não devemos discriminar os intolerantes, mas sim colocá-los para estudar a evolução e tudo o que a natureza vem desenvolvendo como competência para se viabilizar como vida, como, por exemplo, a oxitocina – um hormônio que os animais como nós produzem quando são amamentados, quando se alimentam ou fazem amor e que os leva a cooperar e criar vínculos uns com os outros. Sem heróis, é a evolução, a vida como ela é, genial e linda**.

O abraço do amigo,

Ricardo

**Se você se interessa em aprofundar essa visão leia Michael Shermer em The Science of Good & Evil.

*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é www.twitter.com/ricardo_thymus

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