Um luxo de carro

por Luiz Guedes
Trip #204

Drive-in: um veículo bapho todo mês

Em 1982, uma concessionária paulistana à frente de seu tempo lançou um Monza assinado pelo estilista Clodovil, com acessórios customizados. Mas o Brasil ainda não estava pronto para essa novidade

Embora vivamos numa época em que carros são denominados como GLBT, pessoas se definam sexualmente como Flex e revistas do mundo inteiro sentem-se à vontade para eleger a lista dos modelos mais gays de cada ano, o assunto não é necessariamente novo. Já em 1982, uma concessionária paulistana foi talvez a primeira no Brasil a transgredir um dos maiores símbolos de virilidade já criados pela indústria: o automóvel.

Na ocasião, a revenda Itororó surpreendeu o mercado com o lançamento de uma versão exclusiva do Chevrolet Monza, líder de vendas na época, dotada de um pacote de acabamento especial que levava a assinatura do polêmico costureiro Clodovil Hernandes (morto em 2009, três anos após entrar para a política e se eleger deputado federal). Batizado nas peças publicitárias como Monza Clodovil, o modelo oferecia câmbio manual e bancos em couro com as letras “C” e “H” grafadas em baixo relevo nos encostos. Do lado de fora, placas acrílicas davam a sensação de prolongar as lanternas, enquanto um escandaloso adesivo com o nome de Clodovil adornava o vidro traseiro. De quebra, o comprador podia escolher entre seis tonalidades metálicas ou perolizadas (um luxo naquela época), além de receber um jogo completo de malas de couro feitas sob medida para o apertado porta-malas do Monza Hatch.

A ideia da Itororó foi inspirada no sucesso das versões especiais do Lincoln Continental, criadas pelos estilistas Givenchy e Bill Blass para o mercado norte-americano. A intenção era que o modelo tupiniquim cativasse o público feminino, já que Clodovil, na época, vivia seu auge televisivo à frente do programa TV Mulher, na Rede Globo. Contudo, quase trinta anos atrás, numa época e numa sociedade bem menos tolerantes, o Monza Clodovil resultou num fracasso retumbante. As poucas unidades vendidas acabaram descaracterizadas e praticamente sumiram sem deixar vestígios.

Controverso no passado, o fato de possuir atualmente um carro assumidamente gay pode não só agradar a muita gente, mas também significar um ótimo negócio. Exemplo comprovado recentemente em um site de classificados: um raro exemplar do Monza Clodovil foi colocado à venda e negociado rapidinho, apesar do valor pedido superar em quase três vezes o preço normalmente pedido por um Monza comum da mesma época.

Créditos

Imagem principal: Divulgação editora Jaboticaba e arquivo pessoal

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