Tsunami tecnológico

por Ronaldo Lemos
Trip #211

Lemos: ”Cursos online chegam com a promessa de revolucionar a educação tradicional”

Cursos abertos e gratuitos online, de universidades de prestígio como Harvard e Stanford , chegam com a promessa de revolucionar a educação tradicional

Já ouviu falar de Moocs? Cedo ou tarde é provável que vá ouvir. O acrônimo significa Massive Open Online Course ou, em bom português, Curso Massivo Aberto Online. Trata-se da onda do momento, que chega com a promessa de revolucionar a educação. Um exemplo bombástico aconteceu na universidade de Stanford em 2011. Um professor chamado Sebastian Thrun decidiu fazer um experimento. Pegou o curso de inteligência artificial, um dos mais prestigiosos da universidade, e resolveu ensiná-lo integralmente online em vídeo. Mais do que isso, abriu o curso para que qualquer pessoa, no mundo inteiro, pudesse gratuitamente participar. Resultado: 160 mil pessoas fizeram o curso e 23 mil receberam o certificado final (e o material foi traduzido por voluntários para 40 idiomas).

Isso gerou uma transformação pessoal no professor Thrun. Ele disse que depois da experiência jamais conseguiria voltar à sala de aula para dar um curso para 30 ou 40 pessoas. Com isso, criou a empresa Udacity.com, com o objetivo de repetir a experiência feita em Stanford para outros cursos. Em poucos meses de existência, a Udacity tornou-se uma das empresas mais faladas do Vale do Silício. Está oferecendo cursos como estes: aprenda a fazer um buscador de internet e programe em sete semanas. Todos abertos, gratuitos e disponíveis online.

Se der certo, o modelo é um tsunami sobre o sistema educacional tradicional. Para se ter uma ideia, as empresas de venture capital entraram em modo “corrida do ouro” em busca de financiar iniciativas como essa. As grandes universidades também estão indo atrás. Harvard anunciou parceria com o MIT e criou o projeto edX, com investimento de US$ 60 milhões. Objetivo: oferecer Moocs dos seus cursos para o mundo inteiro, inspirados na experiência de Stanford.

Professor "Estrela"
Os efeitos são profundos. O primeiro é gerar um movimento de concentração nas grandes escolas (ou em quem chegar primeiro e tiver qualidade). Isso foi sentido em Stanford. Na classe “presencial” do curso de inteligência artificial, com 60 alunos, 30 saíram e optaram por assistir às aulas online, por ser mais conveniente. Isso prenuncia uma debandada em outras escolas também. Por que alguém vai se contentar em assistir a um curso ruim em uma universidade de segunda linha se pode ver o mesmíssimo conteúdo gratuitamente com os melhores professores pela internet? É claro que o sistema de créditos e de presença é um desafio, mas a tendência aponta claramente nesse sentido.

Outro efeito é o surgimento do professor “estrela”. Aquele que vem das melhores universidades, trabalha bem com vídeo e pensa na melhor estratégia para tornar os Moocs atrativos. Do mesmo modo que em outros mercados que dependem de “estrelas”, como Hollywood, dá para imaginar disputas de supersalários para contratá-los.

Com isso a educação parece ser a “próxima indústria da música”: vai ser revolucionada pela tecnologia, quer queira quer não. Resta agora criar um Mooc para ensinar os educadores tradicionais a se adaptarem aos novos tempos.

*Ronaldo Lemos, 36, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br

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