Trans Europe Express

por Felipe Floresti

Mochileiro dá dicas de como viajar de trem pela Europa gastando pouco e se divertindo muito

Dez meses depois de me mudar para a Irlanda parti para uma jornada de cerca de um mês e meio pela Europa. No bolso, as economias que juntei como garçom num hotel cinco estrelas de Dublin. Nas costas, a mochila, com apenas o essencial.  E ao lado, um amigo brasileiro.

Embarcamos de avião para Londres, o primeiro dos 14 destinos. De lá voamos para Porto, onde começamos o tour de trem. Viajar de trem na Europa é sempre uma boa idéia. Você pode ir para qualquer canto sem a chatice do check-in em um aeroporto. Outro fator que facilita é o Inter Rail (interrail.net) ou Euro Rail (eurail.com), que permite viajar por 30 países europeus à vontade durante um determinado período. Com o Global Pass você entra e sai de quantos trens quiser, pagando só pequenas taxas de reservas em alguns casos.

A diversão começa nos albergues, ou hostels, em inglês (reservas hostelworld.com). São opções baratas aos tradicionais hotéis, já que os preços variam de 11 a 30 euros, dependendo da cidade e dos benefícios. É bom economizar, mas vale a pena gastar um pouco mais na escolha do hostel – nos melhores, além do conforto, você encontra pessoas mais abertas à confraternização. Nos mais baratos, é comum topar com pessoas que estão começando a vida no país e mais interessadas em encontrar um trabalho do que em viajar.

Você encontra gente de todo canto no albergue. Além de brasileiros - que estão por toda parte -, australianos, alemães, japoneses e americanos se reúnem nas áreas comuns, sempre dispostos a uma balada. De resto, é só se divertir e interagir com os nativos. Os europeus são bem abertos e uma boa conversa pode render hospedagem em uma próxima parada.

Mas, se a bagunça é fundamental, é bom também seguir os roteiros tradicionais. É sensacional emendar as festas intermináveis de Barcelona e só pensar em dormir depois do café-da-manhã, mas voltar para casa sem uma foto da Sagrada Família ou do Parque Güel é certeza de arrependimento. Tente combinar todos os fatores da viagem, mesmo que isso represente visitar o Museu do Louvre de manhã com a maior ressaca de sua vida.

Cada cidade tem sua particularidade. E como qualquer guia de viagem apresenta com muito mais propriedade histórica as atrações turísticas, aqui vão as dicas para quem tem como principal objetivo se divertir.

Londres

Vale a pena comprar o bilhete para uma semana (Oister), que dá acesso ilimitado ao transporte público 24 horas por dia. Se você é admirador(a) de cultura popular, Camden Town é o lugar. Imagine uma Galeria do Rock a céu aberto que englobe diversos estilos e culturas, começando do punk, passando pelo reggae até chegar na cena eletrônica.

Nos arredores também ficam diversos pubs e clubs interessantes. No Electric Ballroom (184 Camden high Street) se apresentam diversas bandas conhecidas e aspirantes ao estrelato. Para dançar, o antigo teatro que hoje abriga o night-club KOKO (1A Camden High Street) é boa opção.

Porto

O Bar Ancora D'Ouro, popularmente conhecido como “O Piolho” (Praça Parada Leitão, 45), é parada obrigatória antes de partir para a balada. Apesar da decoração simples, os universitários locais escolheram o lugar como ponto de encontro nas noites do final de semana. As baladas também ficam nos arredores, com destaque para o Plano B (Rua Cândido dos Reis, 30) e para o Armazém do Chá (Rua José Falcão, 180), com festas diversificadas dependendo do dia da semana.

Lisboa

A cidade seria facilmente confundida com uma brasileira, não fosse o centro antigo. Esta região concentra todos os pontos turísticos. Para a noite, a pedida é o Bairro Alto, que fica com suas ruazinhas repletas de pessoas bebendo e interagindo. Apesar do desafio de entender as expressões no português de Portugal, dá pra pedir numa boa a “tradução”, já que os portugueses conhecem bem o “brazilês”, de tanto assistir a nossas novelas e ouvir nossas músicas.

Madrid

Na terra das touradas, a principal dica é para as quartas-feiras. O Cerveceria 100 Montaditos faz uma promoção nesse dia onde tudo é apenas um euro. Para quem chega a pagar até sete euros em um copo de cerveja em algumas cidades na Europa, esse bar é um achado. Para a balada, o Nasty (calle San Vicente Ferrer, 33) é uma ótima pedida. Público predominantemente espanhol e boa música animam o ambiente.

Barcelona

Para quem gosta de festa, não tem lugar melhor. De segunda a domingo, até as oito da manhã é possível encontrar agitação, principalmente nos arredores da rua Las Ramblas. Alguns clubes não cobram entrada antes das 3 horas da manhã. O Jamboree (Plaça Reial 17) que varia entre noites de jazz e festa Black, e o Club Sala Apolo (Avinguda Paral.lel 61), principalmente às segundas com a festa Nasty Monday’s, são as melhores opções.  O único desafio é desviar das garotas de programa e dos vendedores de cerveja (e, às vezes, drogas, que te abordam aos montes no caminho).

Nice e Mônaco

Trinta minutos de ônibus a um euro separam a cidade do sul da França do principado. Em ambas as atrações noturnas não são o forte, com cerveja cara e sem grandes opções. Portanto é melhor reservar as energias para as atrações à luz do dia. Com o preço alto da cidade de Mônaco, é recomendado se hospedar em Nice. Basta uma manhã para ver as belezas locais. O período da tarde é o bastante para apreciar o luxo de Mônaco. Depois, o melhor é aproveitar a relativa ausência de turistas e conhecer alguns franceses nos barzinhos no centro antigo de Nice.

Milão

Na chamada “capital da moda”, a principal atração turística é o belíssimo Duomo. De resto, para quem gosta de roupas e luxo, as lojas de marcas famosas e caras estão por toda parte. Para quem não gosta, só resta esperar a noite. Nos clubes, o que mais se vê são aspirantes a modelo, super produzidos e fazendo pose, mas nada que atrapalhe a diversão em meio à simpatia do povo italiano. O principal é a Discoteca Hollywood (Corso Como, 15), freqüentada pelos famosos milaneses.

Berlin

Em uma das capitais mais fascinantes da Europa é uma boa pedida apelar para os vários walking tours disponíveis (os principais não cobram taxa e funcionam à base de gorjeta). Eles são ótimos para se conhecer os pontos turísticos com as explicações de um guia (um dos tours mostra até o hotel em que Michael Jackson pendurou o filho na janela). Procure também informações sobre o walking tour alternativo, que te leva para os principais focos de cultura underground, graffitis, raves à luz do dia etc. Para quem ainda tem pique, há muitas festas com o melhor da musica eletrônica. Uma das mais famosas é a Berghain (Am Wriezener Bahnhof – Friedichshain) - mas torça para os seguranças irem com a sua cara e na te barrarem na porta.

Berna

Engana-se quem pensa que o frio da capital suíça prende todo mundo em casa nas noites do final de semana. Mesmo com temperaturas negativas e o chão coberto de gelo, às 11 da noite as ruas do centro estão cheias de gente. As opções vão desde uma casa que abriga shows de punk rock até baladinhas com músicas da moda. Uma atração é o Liquid Club (Genfergasse 10 ) e sua pista de dança giratória.

Paris

A cidade-luz foi o meu lugar escolhido para fazer o popular Pub Crawl. Presente na maioria das grandes cidades européias, no Pub Crawl um guia marca um ponto de encontro e, de lá, te leva para mais três bares e um clube pelo preço que gira em torno de 10 euros. É uma ótima alternativa para quem está viajando sozinho ou quer conhecer gente nova, pois a interação é grande - para os homens, a boa notícia é que as mulheres são maioria. Só tome cuidado para não passar do ponto, pois são distribuídos shots de bebida no caminho e os bares oferecem promoção de drinks.

Amsterdã

Apesar dos museus e dos belos canais, para a grande maioria dos jovens que visita Amsterdã a grande atração são os famosos coffee shops. Eles estão espalhados pela cidade e vendem todo tipo de derivados da maconha (na grande maioria é proibido o consumo de álcool). Atualmente, com a proibição do comércio de cogumelos, são bem populares as chamadas truffles, que não têm os mesmos efeitos alucinógenos, mas, segundo a bula, podem te deixar muito sábio. Cabe a cada um testar se isso é verdade.
Mas preste atenção na escolha do albergue, já que alguns situados no centro do Red Light District fecham durante a noite (e não é muito agradável ficar preso do lado de fora durante a madrugada, quando as únicas pessoas na rua são traficantes e algumas prostitutas mais esforçadas nas vitrines).

Estocolmo

Duas coisas são fundamentais para sair à noite na maior cidade da Escandinávia: leve bastante dinheiro e tenha mais que 23 anos (ou 25). Os melhores lugares da cidade não deixam entrar pessoas muito novas, alegando que os mais velhos gastam mais dinheiro e que é preciso muito para beber em um bar. Se for mais novo, terá que se esforçar um pouco mais para ter um pouco de diversão. Não deixe de ir ao Absolut Icebar (Nordic Sea Hotel - Vasaplan 4), um bar todo feito de gelo - mas a permanência máxima é de 40 minutos, antes que você também congele.

Praga

O melhor de Praga é o preço. Como o euro ainda não chegou lá, a cotação baixa do dinheiro tcheco deixa tudo muito barato. E as opções de diversão são várias,  nos diversos clubes ou, para quem preferir, nas casas de strip-tease. O Hot Pepper’s (Václavské náměstí 21) é o mais indicado, com entrada grátis, double drinks e, claro, belas garotas.  Uma boa também é reservar um dia para esquiar. Existem diversos locais nos arredores de Praga com preços acessíveis. O mais indicado é o “Spindleruv Mlyn”, que possui pistas para todos os níveis. Para tornar a experiência mais agradável e não ficar o tempo todo sentado na neve, chegue cedo e gaste um dinheiro a mais com um instrutor. Vale a pena.

Dublin

Temple Bar é o local dos turistas. Lá se encontram os mais tradicionais exemplos dos mundialmente famosos pubs irlandeses. Não provar uma Guinness lá é como ir para a França e não ver a Torre Eiffel.  Mas a dica é, depois de conhecer o básico, tentar dar uma fugida de lá e encontrar um dos mais de mil pubs espalhados pela cidade e ver como os irlandeses de verdade enchem a cara (e nisso eles são bons). Ás sextas, a dica é o The Academy (57 Middle Abbey Street) com a festa No Disco e o melhor do indie, rock e electro pop.

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