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Toda surdez será castigada

Fome de Tudo, novo disco da Nação Zumbi

Toda surdez será castigada

Por Redação

em 5 de novembro de 2007

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POR RONALDO BRESSANE FOTO BRUNO TORTURRA NOGUEIRA

PRODUZIDO POR MARIO CALDATO JR., FOME DE TUDO, NOVO ÁLBUM
DA NAÇÃO ZUMBI, MOSTRA A BANDA EM TIMBRES MENOS SOMBRIOS
QUE O ANTERIOR, FUTURA, SEM ABANDONAR A PODEROSA CRÍTICA À
DESIGUALDADE SOCIAL PRESENTE DESDE DA LAMA AO CAOS

“Saímos da psicodelia densa em preto-e-branco do Futura e fomos pra um som mais de rua, mais groovado, mais pra cima.” Assim o vocalista Jorge du Peixe (foto) apresenta o sétimo álbum da Nação Zumbi, Fome de tudo – o primeiro, desde Afrociberdelia, cuja produção é totalmente assinada por um elemento externo: naquele caso era Liminha, agora é a vez de Mario Caldato Jr., partner dos Beastie Boys que produziu ainda Bebel Gilberto e Jack Johnson. Fome de tudo é também o primeiro da Nação na casa nova, a Deck Disc, mesma gravadora de Pitty e Cachorro Grande.
“Como a gente estava respirando novos ares e precisava terminar o disco rápido, chamou o Caldato”, conta Jorge – composto desde janeiro, Fome foi gravado em somente nove dias. “O Rádio S.A.M.B.A. já era pra ter sido produzido por ele, mas as agendas não batiam. Agora rolou”, explica o guitarrista Lúcio Maia. “A gente é muito tosco, Mario deu uma limpada no som, e ao mesmo tempo manteve aquele som oldschool dos Beastie Boys. E tem uma puta vibe boa: o cara não tem ego nenhum”, descreve o baterista Pupillo. “Se distanciar da produção foi excelente: nos concentramos na parte artística, compor, pensar arranjos. Sempre foi difícil achar alguém em quem a gente tivesse confiança absoluta, a ponto de sair totalmente da parte técnica”, completa o guitar hero recifense.

BAQUE DE ARRODEIO
“Levei minha alma para passear” é o mantra que Jorge entoa na primeira faixa, “Bossa nostra”. Ali, a singular mudança súbita de dinâmicas da Nação, do peso à leveza na mesma cadência, traz uma novidade vintage na guitarra – o efeito flanger. “Não gostava de usar, achava meio anos 80 demais”, lembra Lúcio. “Mas Mario sugeriu e acho que
deu um toque psicodélico bacana”, conta o líder da Maquinado, um dos vários projetos paralelos que a banda toca. A faixa seguinte, “Infeste”,pulsa numa batida inclassificável, que o baterista Pupillo chama de um vago “baque de arrodeio”… “É até engraçado quando jornalistas tentam definir os ritmos que a gente usa… quase sempre erram!”, zomba o batera. “Na verdade é tudo mistura de afrobeat, funk, afrofuturismo, samba – não tem nome.”
Falando em nomes, várias participações especiais estrelam a Fome. A cantora Céu – que trama canções com Pupillo, Dengue e Rica no já lendário Três na Massa – desfila com ironia seu vocal elegante em “Inferno” (“Inferno sem mulher não existe, né”, comenta
Jorge). O caruaruense Junio Barreto manda seus graves no sambalóqui “Toda surdez será castigada”, Rodrigo Brandão fala gingando em “Originais do sonho” e, luxo, o quarto Beastie Boy, Money Mark, agrega seus teclados a várias das 12 faixas do álbum.

À primeira audição, Fome parece mesmo mais solar, mais acelerado, mais leve; as músicas são menos abstratas que em Futura, as letras são menores. “Meu nome agora é refrão”, entrega Jorge, apontando que o novo álbum traz mais canções que “músicas-hipertexto”. Mas a conhecida verve político-social da Nação não fica de fora. “Fome de tudo é um jeito de falar da nossa famosa vontade de encher de informação a barriga da
cabeça”, ri Pupillo. “E também lembrar de onde tudo começou, a Geografia da fome do Josué de Castro, que inspirou o manguebeat.
De certa forma, até o lugar que mais nos traz idéias, que é a internet, pode ser um agente da desigualdade social. Se você não sabe o que procurar na rede, vai acumular muita coisa sem filtro. E sem filtro, você não cria”, filosofa o baterista.

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